28.2.09

Topografia dos afectos

Os afectos são uma cidade; avenidas, ruas, praças, becos sem saída, sentidos proibidos, trajectos nos quais andamos às voltas para descobrir, finalmente, que estamos no sítio de onde partimos.

Os afectos são uma cidade, e tu és a minha cidade.

Poesia quase completa

Fui hoje pela primeira vez à livraria Poesia Incompleta, a primeira livraria especializada em poesia de Lisboa (e creio que do país, também). O crivo é muito fino e só passam realmente os melhores - parece que estamos a ver a biblioteca de poesia que gostaríamos de ter em casa.

Poesia, finalmente

No Fundo Aberto

Escrevo-te enquanto algo resvala, acaricia, foge
e eu procuro tocar-te com as sílabas do repouso
como se tocasse o vento ou só um pássaro ou uma folha.
Chegaste comigo ao fundo aberto sob um céu marinho,
sobre o qual se desenham as nuvens e as árvores.
Estamos na aurícula do coração do mundo.
O que perdemos ganhamo-lo na ondulação da terra.
Tudo o que queremos dizer sai dos lábios do ar
e é a felicidade da língua vegetal
ou a cabeça leve que se inclina para o oriente.
Ali tocamos um nó, uma sílaba verde, uma pedra de sangue
e um harmonioso astro se eleva como uma espádua fulgurante
enquanto um sopro fresco passa sobre as luzes e os lábios.


António Ramos Rosa, in Facilidade do AR, Ed. Caminho

As Quintas do Esplanada

Meus caros,

Como sabem, o restaurante Esplanada do Princípe Real acolhe, para os jantares das quintas-feiras, um guest cook.

É uma ideia boa, arriscada, generosa - e deve portanto ser acarinhada. Esta quinta-feira vou arriscar. O menu é:

- Mezze mediterrânico (tapenade, houmous, tzatziki e mais, consoante o mercado);
- Galinha do Campo de Outono;
- Mousse de banana e limão verde.

E, para terminar onde começou, chá marroquino.

O preço, bebidas incluídas, é de 20 euros.

Por favor inscrevam-se, divulguem, venham, tragam a família, os amigos e os - ou as - namoradas (não todas ao mesmo tempo, a ocasião quer-se pacífica).

As inscrições devem ser enviadas para Lserpa@gmail.com, até 4ª-feira às 14h00.

O jantar começa às 20h30.

Espinhos

Sócrates pede mais uma maioria absoluta. Vai tê-la, provavelmente. Mas sem mim: eu dar-lhe-ia mais depressa uma minoria absoluta.

27.2.09

Percepções

Li recentemente um post no Delito de Opinião segundo o qual Portugal está na média europeia em termos de demora dos julgamentos nos tribunais de primeira instância (e que somos os primeiros - isto é, os mais rápidos, nos tribunais superiores). Na altura estranhei, porque a percepção que todos temos da justiça em Portugal é que ela é lenta - mas enfim, também sabemos que as percepções não são a realidade.

Hoje li este artigo no Jornal de Notícias e a minha impressão de que os prazos em Portugal não devem ser assim tão curtos levou mais uma confirmação (isto sem prejuízo de eu concordar com o argumento de fundo do post e com a resposta de João Carvalho ao meu comentário):

"Furto de duas galinhas vai a tribunal na Maia

...Os factos remontam a 26 de Outubro de 2007, altura em que, segundo a acusação do processo, José Agostinho T., residente em Custóias, Matosinhos, entrou no quintal de um habitante de Moreira, Maia, rebentou a fechadura do seu galinheiro, apoderou-se das duas aves, meteu-as dentro de um saco e fugiu.
"

Como se pode ver, o furto de duas galinhas vai a Tribunal um ano e meio depois. Se, mesmo com exemplos destes, conseguimos estar na média europeia os nossos juízes são uns heróis.

Hidrografia analógica

Quantas quedas de água são necessárias para fazer um lago?

26.2.09

Diacronia da fuga

Prefiro lutar pelo presente a refugiar-me no passado, ou no futuro: é mais seguro.

Gramática da sedução

A sedução tem uma gramática, e regras. Se você quer conquistar uma determinada pessoa, mais vale respeitá-las. Se não quer vergar-se a elas (impiedosas mas, reconheçamos, flexíveis), só seduz quem também não lhes liga - o que nem sempre é bom. Mais vale apontar certeiro, pôr os adjectivos depois dos substantivos e os verbos no tempo correcto.

Enfim, em qualquer caso é sempre melhor esconder que é disléxico, ou iletrado, ou não sabe distinguir um complemento de um predicado, um verbo reflexo de um pronome pessoal.

Algumas pessoas poderão dizer, "prenhes de razão", que as grandes obras se fazem não respeitando as regras. É verdade. Mas há que ter em mente duas coisas: para não as respeitar, é necessário conhecê-las; e depois: quem é que quer grandes obras? Quem quer viver em cima de um vulcão em actividade? Quem é que prefere navegar numa caudalosa torrente, se puder ter um "largo rio tranquilo"?

O ideal, meus caros, é ir by the book. Testar continuamente as receitas milenares é absurdo e só leva a grandes catástrofes (ou a grandes exaltações, é certo). Ou então assumir as consequências: mais vale uma gota de sol durante dois dias do que a lua inteira durante uma vida.

25.2.09

Há enjoados e enjoados

Seasick Steeve, Dog House Boogie:



Descobri isto via French Kissin'. Pode contar com a minha eterna gratidão.

Correntezas de fundo

O conteúdo deste post foi censurado pelas polícias de Braga e da Galáxia, que nele viram - devo dizer que não sem uma certa razão - um atentado ao pudor.

[Desculpas à Luísa, claro, e à Fugidia.]

E, enquanto esperamos pela eventual reformulação do chorrilho de mentiras que aqui estava, peço à Filigraana que intervenha. Só a sua Terapia poderá salvar este ramo da corrente.

A quelque chose malheur est bon

Aprendem-se coisas bastantes úteis nas mais estranhas circunstâncias. Devido a um recente e doloroso desgosto amoroso aprendi que "jeremiada" não leva acento. Mais uma razão para parar com elas (as jeremiadas): ando há anos a pronunciar-me contra uma coisa que não existe. Sempre escrevi, e pronunciei, como sendo uma palavra esdrúxula.

(Enfim, é, mas só no sentido figurado de coisa estúpida e sem sentido, sem objecto e sem razão.)

Provérbio do dia

Quem te manda a ti, sapateiro, tocar rabecão?

Felicidades, injustiças

Há pessoas a quem a felicidade fica bem; assenta, diz a expressão, "como uma luva". Há outras a quem nem o grande alfaiate do universo conseguiria cortar uma como deve ser. É injusto, mas é assim (e como o Alfaiate também é o Juiz há poucas probabilidades de vir a ser corrigido).

Timing

Quando oiço alguém dizer-me "há um tempo para tudo" já sei que se está a referir a algo que aconteceu demasiado tarde.

Vida

Será não morrer mais importante do que viver? A biologia e a religião dizem que sim; o bom senso e a experiência o contrário.

Metades

Para metade da humanidade o amor é uma fonte de alegria e prazer; para a restante, de dor e amargura. Será que estão casadas uma com a outra, ou os casamentos fazem-se no interior de cada uma delas?

Zen

Só foi feliz quando perdeu toda a esperança de o ser. Isto é (para os optimistas): no dia em que morreu.

24.2.09

Diacronias

Hoje recebi uma carta que me foi escrita, eu sei, há dois anos. Deitei-a fora sem a ler: a diacronia só funciona nos filmes - e mesmo assim contam-se pelos dedos de uma mão.

Desabafo

Se Camus me tivesse conhecido teria escrito A Vida de Luis, em vez de O Mito de Sísifo.

Sequência

Primeiro Mahler, depois Bartók: à limpidez da dúvida segue-se inevitavelmente a certeza da confusão.

A reforma e a morte

Gostaria de passar a reforma numa ilha das Caraíbas e de morrer na Península de Burton, no Lago Tanganyka, um dos lugares mais belos que jamais vira, mais mortalmente belos. Primeiro a morte, claro, e só depois a reforma: já em criança comia sempre em primeiro lugar aquilo de que não gostava.

Navegações

90% da navegação em solitário consiste em antever erros, e geri-los: quando se está só a bordo sabe-se que se vão cometer mais erros, e que as suas consequências são piores. Não é má ideia encarar a vida como uma navegação em solitário: no fundo é que ela é.

Barragens, afectos

Era como uma barragem: ia retendo os afectos até explodir. Depois, as comportas abriam-se e uma avalanche de afectos incontrolados descia pelo vale abaixo, levando tudo e todos a eito. Quem sabia nadar afastava-se, quem não sabia afogava-se.

Ejaculações precoces

Ejaculava sentimentos como outros ejaculam precoce.

O mar

O mar é um grande mata-borrão: fazemos asneiras e ele absorve-as, desculpa-as, tolera-as; recebemos uma má notícia, e ele faz de tampão; olha para a nossa infelicidade como para a felicidade: são-lhe indiferentes, porque a eternidade é ele, e só ele.

Ternura

Espojava-se na ternura que tinha para oferecer como um porco na lama.

23.2.09

Para sempre

Vou perder-me para sempre no sempre que me espera.

22.2.09

Vira o disco e toca o mesmo

A entrevista de Pedro Passos Coelho ao Público é confrangedora. O senhor parece uma versão a papel químico de Sócrates. É a isto que estamos condenados?

Magazine Littéraire

Il en va des magazines comme des corps, des amours, des livres - il faut à chaque fois les toucher auparavant, les regarder, les respirer (l'on devrait pouvoir faire la même chose avec la vie; l'adolescence est faite pour ça).

Para mim a beleza é, sobretudo, escrita: Borges, Yourcenar, Beckett, Pedro Támen, Nuno Júdice.

Le français, cette langue belle par excellence - dépourvue de verbes, mais capable, comme nulle autre, d'exprimer ce qui en est au-delà.

E tu, poema escrito pela mão feliz da vida.

Tensão, pele

"Tensão superficial". Haverá outra?

A semântica dos afectos

O amor muda o sentido das palavras. "Sempre", por exemplo: uma pessoa apaixona-se e de repente faz sentido. É como se fosse uma palavra nova.

20.2.09

As palavras e o tempo

Dizer "amo-te" pela primeira vez a alguém é um prazer, um assombro, um encanto; a última vez é uma dor sem fim, um amargo na boca, uma dor d'alma.

Sorte

Há pessoas para quem o mundo, e as coisas, são a preto e branco. Eu acho que é uma sorte. Num artigo no OJE de hoje, uma senhora chamada Sofia Santos escreve: "Se eu comprar mais uma T-Shirt cuja probabilidade de ter sido feita por uma criança que não vai à escola for elevada, na China ou em Portugal, ficarei bem com a minha consciência?"

A resposta correcta, claro, é "não, não fico". Naturalmente, a possibilidade de essa criança ir parar a, por exemplo, um prostíbulo por não poder fazer T-shirts não provoca engulhos de consciência às senhoras (e senhores) Sofia Santos deste mundo, para quem o mundo infantil se divide entre fábricas de T-shirts e escolas. Infelizmente, tal não é o caso, mas isso não lhes passa, sortudos que são, pelo espírito.

Será que as nossas escolas de jornalismo só ensinam a debitar baboseiras, lugares-comuns e banalidades que nem de base são?

A ler

A ler, absolutamente, até ao fim:

"Speech of the President of the Czech Republic Václav Klaus in the European Parliament"

Num mundo perfeito, Václav Klaus seria o próximo presidente da Comissão Europeia.

19.2.09

Espera

Às vezes levamos uma vida (ou duas, ou três) a encontrar uma pessoa - e um minuto a perdê-la

Inadmissível

Isto é i-n-a-d-m-i-s-s-í-v-e-l:

Ministério Público proíbe sátira ao Magalhães no Carnaval de Torres Vedras

18.2.09

Mares

O projecto Mares - Olhares da Língua Portuguesa foi finalmente apresentado em público (e que público: o das Correntes d'Escritas). É um projecto bonito - digo-o com a mesma objectividade com que falo dos meus filhos, do mar, de certas pessoas. E com a mesma paixão. E com a mesma certeza.

Quero deixar aqui explícita a minha gratidão a todos os que aderiram àquilo que no princípio pouco mais era do que um sonho, mais um:

(Por ordem cronológica):
E um obrigado especial à Ana Lima, claro - companheira de muitas lutas, exigente e profissional, amiga e amiga. E a todos os convidados que já aceitaram - temos cerca de 20 equipas confirmadas.

Casamentos

O fim de um casamento não é necessariamente um falhanço. Todos acabam, de uma maneira ou outra. O que faz do fim de um casamento - ou melhor, do casamento - um falhanço é a forma como acaba. A crença no amor - e casamento - eternos ("como as pombas e os católicos", dizia Woody Allen) está na origem de mais sofrimento e mais dor do que muitas catástrofes naturais.

Felizmente, para compensar gerou também algumas das mais belas criações artísticas, e algumas das mais belas, profundas, humanas emoções, dúvidas, questões, sentimentos.

17.2.09

Correntes

Não sou, a Luísa sabe-o, dado a correntes - costumo nadar, mas contra elas. Porém, vinda de si não posso dizer não. Pior, digo "sim" feliz - não só "feliz entre mulheres", mas "feliz", por um lado; e "que mulheres!", por outro.

O livro que estou a ler chama-se "Hipérion", e é de Friedrich Hölderlin. Como não gosto de correntes, perdoar-me-á decerto que comece com a primeira frase da página (afinal a Luísa deu o exemplo) e transcreva muitas: "Foi para mim um amável sonho copiar-te as cartas que em tempos troquei. Agora volto a escrever-te a ti, meu Belarmino! para te conduzir para baixo, até à mais funda profundidade do meu sofrimento e depois, ó último dos que me são caros! vem comigo até ao lugar onde um novo dia nos iluminará.

A batalha sobre a qual escrevi a Diotima começou. As naus turcas tinham-se refugiado no canal entre a ilha de Quios e a costa asiática e estavam ancoradas ao longo da costa até perto de Tschesma. O meu almirante abandonou a formação, na sua nau, onde eu me encontrava, e começou o prelúdio abrindo fogo sobre a primeira nau dos turcos. Logo ao primeiro assalto os dois navios em cólera inflamaram-se ao rubro, foi um tumulto horrendo, ébrio de vingança. Em breve os dois navios estavam amarrados com cordame um ao outro; o furioso combate foi-se tornando cada vez mais renhido.

Uma profunda sensação de vida ainda me percorria. Todos os meus membros sentiam calor e conforto. Como quem experimenta a emoção da despedida, o meu espírito fazia-se sentir, pela última vez, em todos os sentidos. E então, cheio de fervente azedume por não saber fazer outra coisa melhor do que deixar-me abater no meio de uma turba de bárbaros, com lágrimas de fúria nos olhos, precipitei-me para onde sabia que a morte seria certa."

Escrevo este post ao som de John McLaughlin, Al di Meola e Paco de Lucia, um disco chamado "Passion, Grace and Fire". Não consigo deixar de pensar que esta belíssima descrição de um abandono ao destino se aplica, quase palavra por palavra, a outros abandonos.

Adenda: passo esta corrente a um blog chamado A Ponto.

Assimetrias

Percorro Lisboa contigo no pensamento; e percorro-te a ti.

Nada

Nada. Só esta vontade de te escrever torrentes de palavras e a certeza de não dever fazê-lo, porque irão dar em nada.

16.2.09

Tempo

As velocidades do tempo: contigo não pára, sem ti não anda.

12.2.09

As coisas voltam ao normal

Num post ali em baixo perguntava-me por que carga de água só Paulo Portas defende coisas tão evidentes como a simplificação do sistema fiscal. Estranhava que um indivíduo que traz, inevitável e lamentavelmente, à memória aquela anedota muito velhinha sobre Américo Thomaz (que tinha, coitado, trocados o cérebro e os intestinos) conseguisse expelir uma ideia boa - e, pior ainda, ser o único a fazê-lo, de entre os políticos da praça.

Hoje as coisas voltam ao normal, graças a Deus.

"Portas defende que empresas ajudadas devem ser obrigadas a manter empregos". Portas e Louçã fazem uma boa parelha: parecem uma versão patética do Bucha e Estica.

Mares

Mares

Em breve nuns

Olhares da Língua Portuguesa

perto de si

O que somos, como somos

Há poucas fotografias dos autores, nos blogs. Preferimos mostrar o que somos a como somos.

Fotografia

Quem gosta de fotografia e quer apanhar um choque - um bom choque, entenda-se, de emoções contra emoções - devia ir rapidamente à Galeria Quadrado Azul, em baixo da Rua das Flores, ver a exposição de Paulo Nozolino que lá está.

Se, além de gostar de fotografia e das emoções que ela provoca tiver cento e um mil euros para gastar, deve comprá-la, sem hesitar um segundo e antes que alguém o faça.

Dias

Dias de ciclos breves, intensos, telúricos, com picos de altos e baixos como traços de um sismo no sismógrafo.

Kruger Park



Maternidade

11.2.09

Noite

Era uma daquelas noites em que se fez noite ainda o sol brilhava.

Felicidade

Passei o jantar todo a pensar que a senhora media a velocidade das empresas, e depois apercebi-me: é a felicidade delas que ela mede. Mais tarde ainda vi que vai dar ao mesmo: uma empresa infeliz é uma empresa lenta, parece.

Às vezes apetece-me escrever-lhe, mas já foi há muito tempo e não sei se as empresas ainda são felizes. Dadas as circunstâncias creio que não. De qualquer forma perdi a morada dela, e já não me lembro do apelido. Acho que é bom, pensar nas empresas e fazê-las felizes. E que é verdade, essa relação entre a velocidade e a felicidade. Se bem me ocorra pelo menos uma dúzia de coisas para as quais a lentidão seja mais adequada.

Disse-lhe que não acreditava em nada daquilo, mas ela passou o jantar todo a dizer que as suas propostas tinham bastante aceitação, e citou um grande número de grandes empresas. Respondi-lhe que os gestores de topo acreditavam naquelas patranhas por serem totalmente incultos. Não lhe disse assim, claro. Mas hoje estou a lembrar-me daquela noite e é assim que as coisas me vêm à memória: a felicidade das empresas, a falta de cultura dos gestores, um vinho medíocre e um jantar chato como umas pernas feias.

Acabei a comentar a alegria que é vivermos a nossa vida, e não sermos vividos por ela, como dizia o Pessoa. "Vives daquilo que gostas?" - "Não. Vivo para aquilo de que gosto, que é a etapa imediatamente anterior". Se fosse uma empresa teria uma velocidade tendencialmente crescente.

Ler e fotografar são actividades solitárias; melhor ouvir música ou tomar um chá, sempre se partilha alguma coisa. A felicidade, por exemplo. E a velocidade.

Très grande vitesse, para onde?

Só por curiosidade

Se as autoestradas pagam 500,000 euros para ser inauguradas por um ministro,

a) Quanto paga um aeroporto?
b) Se fôr antes das eleições paga mais?

"Mário Lino confiante em inauguração do aeroporto de Beja até Junho"

10.2.09

Perdidos e achados

O serviço de perdidos e achados da vida é o mais ineficiente que conheço. Experimente perguntar-lhe por um dia perdido, por exemplo. Ou uma amizade, um amor, uma oportunidade. Não encontra nada, a maioria das vezes (há excepções, claro. Mas são tão raras que não parecem excepções - parecem milagres).

Tempo

É preciso acreditar no tempo; dar-lhe uma oportunidade, ou duas, ou três.

Retratos impossíveis

Era miúda muito morena, pequenina como se Deus se tivesse enganado nas quantidades, no dia em a desenhou. Mas tinha um traseiro lindo, redondo como um mundo grávido. Parecia que o corpo se lhe articulava em torno daquela esfera perfeita: para cima um olhar vivo, alegre, leve; para baixo duas miniaturas de pernas das quais ninguém adivinharia a força, e a perfeição. Tinha um feitio danado, e era a mais doce das amantes que jamais conheci.

Um dia disse-me "sinto-me como um comboio a andar em cima de linhas que não são paralelas".

França

Porquê?

Um livro




You're Compassion Fatigue!

by Susan Moeller

You used to care, but now it's just getting too difficult. You cared
about the plight of people in lands near and far, but now the media has bombarded you
with images of suffering to the point that you just don't have the energy to go on.
You've become cold and heartless, as though you'd lived in New York City for a year or
so. But you stand as a serious example to all others that they should turn off their TV
sets and start caring again.



Take the Book Quiz
at the Blue Pyramid.



(Via Jansenista)

9.2.09

Quase fazemos de conta

Um sonho de S. Pedro

Esta história é mentira. Todas as histórias o são: basta contar-se uma coisa que aconteceu para a tornar mentira. Verdade é o que é, ou foi; não o que se conta. Pior: é uma tripla mentira – conta um sonho, e os sonhos são todos, sem excepção, mentira - se fossem verdade não seriam sonhos; e é o sonho de um tipo que não existiu. Isto é, talvez tenha existido. Talvez tenha existido na verdade. Mas na minha história não.

S. Pedro tinha muitos sonhos: é próprio dos tipos que têm dúvidas. Aliás, ainda hoje estou convencido de que foi por causa disso que fizeram dele a “primeira pedra”. “Tu és Pedro, e sobre esta pedra, etc.” Tinha razão, o Jesus: impérios não se constroem com certezas, mas sim com dúvidas, e sonhos. Por isso foi o escolhido.

É um tipo chato: passa a vida no Céu, é uma espécie de porteiro. Abre a porta do vento, fecha-a, abre a da chuva, a do sol. Aborrece-se mortalmente e por isso a nós também: o vento, por exemplo, nunca vem de onde devia vir; a porta da chuva devia estar fechada a sete chaves, e não está. Mas um dia S. Pedro teve um sonho divertido, e é essa história que vou contar.

Festejara os dois mil e tal anos da nascença do Jesus e bebera mais do que devia, o que produz sonhos bonitos, e realistas. A realidade é uma mistura de excesso de sonhos, excesso de álcool e excesso de dúvidas. O resto não passa de histórias: imaginam um tipo desprovido de imaginação, ou de whisky, fazer o mundo tal como é hoje e será amanhã? Nem uma cidade de Lego numa placa de 20 por 20, quanto mais o mundo... os gajos que não sonham conseguiram talvez evitar o que poderia ter sido, mas não fazer o que é. Adiante: não gosto deles. Por isso não gosto de S. Paulo, por exemplo: um homem vai a cavalo numa estrada, cheio de certezas. Cai. Levanta-se, e fica cheio das certezas contrárias. Para que lhe serviu cair, então? O contrário de uma certeza não é a certeza contrária.

Um dia S. Pedro estava na praia do céu, uma praia muito chata - parece o Guincho, mas em perfeito. Sem vento, com água menos fria, sem papagaios porque dão um gozo bestial a ver nem cavalos porque fazem cocó onde não devem. E sem aquele bar lá ao fundo, onde se está como se estivesse no Céu, porque o verdadeiro Céu não gosta de concorrência. É monopolista.

S. Pedro estava nessa praia, ligeiramente embriagado. Pouco: só tinha bebido alguns Gins Tónicos, uma garrafa de vinho e meia dúzia de whiskies. É um tipo frugal, e com pouco se embebeda. Estava na praia, a olhar para o céu - como será, o céu do Céu? - sem vento, sem papagaios, sem mulheres bonitas e adormeceu.

E foi assim que teve o sonho, o tal que vos vou contar. É um sonho complicado, reparem: envolve portas, ventos; senhoras bonitas, mostarda de chili (Chilli Mustard – os sonhos do S. Pedro são sempre na língua original) e um encontro atrás de uma nuvem muito grande; cavalos, pintoras, e – sobretudo – uma decisão sua: deixar a porta do vento sempre aberta, para que os ventos soprem de feição a quem viaja no vento, a cavalo num sonho.

II
Estava deitado na praia. Dormia. Apetecia-lhe sonhar, ter um daqueles sonhos cheios de cores com mulheres bonitas, homens que vão e vêm e voltam em vão aos sítios de onde nunca deviam ter saído. Um deles oferece-lhe um pote de mostarda picante e diz-lhe (ou ele ouve o outro dizer-lhe; não se sabe): “nunca deixes que te chegue ao nariz”. “Não tenho nariz”, responde. É verdade: um cavalo a quem tentava dar cenouras comeu-lho. Estranhamente sangra pouco. A namorada do homem que lhe dá a mostarda aparece: é uma senhora muito bonita, com uns cabelos pretos que, de tão densos, parecem uma floresta de pau-preto passada por aquelas lentes que tornam tudo mais fino e flexível. “Dá-me a mostarda” – diz ela. Mas o outro já a tinha oferecido a S. Pedro, que tenta falar mas não pode: um dos papagaios escondeu-se-lhe na garganta, e come-lhe as cordas vocais. A cauda é enorme, e aos comandos está um miúdo de óculos escuros com um saxofone na boca. S. Pedro apercebe-se de que o puto tem três pares de braços: um para o papagaio, outro para o saxofone e o terceiro para ler um ensaio sobre um surto de doenças epidémicas na cultura de mexilhões das costas sudoeste da Tasmânia (durante o inverno austral. Era esse o verdadeiro ponto de interesse do livro).

Não sabe que fazer: incapaz de falar, com mostarda mas sem nariz, um saxofone que o enche de vontade de voltar àquele último jantar – como teria sido, se tivesse música boa? – um cavalo que mastiga calmamente o seu nariz, e uma senhora que de repente começa a pintar pendurada na cauda do papagaio com um pincel gigante, que tanto vai buscar cores ao mar como às nuvens, ao céu ou ao seu nariz pouco sangrento.

A desordem é total, o caos. S. Pedro não está habituado a sonhos assim. Pensa que só uma gigantesca corrente de ar conseguirá pôr ordem naquele quadro. Abre a porta do vento, de todos os ventos. Acorda e a ordem restabelece-se.

III
Não é mentira: todos os sonhos, todas as verdades e todas as histórias são verdade porque são sonhos.

Filmes, e a crítica... etc.

Ontem fui ver um filme que é uma merda, mas gostei imenso. Chama-se "Slumdog Billionaire", no original. Enfim, não é bem uma merda: é uma merdinha (excepto numa determinada cena). E não é bem um filme. É um filminho.

Mas tem um happy end, uma actriz bonita, é uma ode à perseverança. E tem uma construção cronológica difícil, mas que se aguenta bem. Isso faz esquecer, em certas circunstâncias, o chorrilho de lugares-comuns, os actores amadores, as imagens em acelerado e uma ou duas inverosimilhanças.

Livrinhos, e a crítica dos ditos

Às vezes uma pessoa agradece que certos livros sejam escritos, para poder ler críticas destas.

59,6%

"Le «oui» net et clair de le Suisse"

Chuva e outras novelas

Não pára de chover. Daqui a nada temos os agricultores a queixar-se: chuva a mais. E a água não está à boa temperatura.

8.2.09

As palavras dos outros

Quando a tristeza te desordena o pensamento e te paralisa o espírito; quando não sabes o que hás-de fazer, dizer ou pensar; quando as palavras são como lanternas sem pilhas e pouco ou nada alumiam; quando olhas para o tempo que está para vir e te parece mais longo ainda do que aquele que já foi - pensa que não és o primeiro, não serás o último, e faz tuas as palavras do outros. É para isso que elas servem, as palavras.

"As cigarras cantam
sem saberem que é a morte
que as escuta"

"Não esqueças nunca
o gosto solitário
do orvalho"

"Intempérie -
Infiltra-se o vento
até na minha alma"

Matsuo Bashô, in "O gosto solitário do orvalho, seguido de O caminho estreito", ed. Assírio & Alvim

Coisas, pessoas

As coisas e as pessoas têm isto de semelhante: possuí-las, ou querer possuí-las, é garantia de infelicidade.

La mer est ronde

Já aqui citei (creio, ainda agora fui à procura e não encontrei...) Jean-François Deniau, autor daquele que é, para mim, o melhor livro de mar (com excepção de todos os outros, claro). Não resisto a deixar mais um bocadinho:

"Pour l'homme seul, à mains nues, être au milieu de la mer est comme être chaque jour le centre d'une planète, d'un univers pour la première fois entièrement décrit et parfaitement visible, chaque jour inventé, chaque jour nouveau; et pourtant le temps n'existe plus comme nous le connaissons à terre, il ne s'écoule plus: c'est seulement l'espace qui se déplace, et un cercle, à la limite de l'eau et du ciel, qui, sans cesse, insensiblement, jour après jour, prends la place d'un autre."

Jean-Franços Deniau, in "La mer est ronde", Ed. Gallimard, col. Folio.

Aves da escuridão, espírito da bondade

The lighthouse invites the storm

The lighthouse invites the storm and lights it.
Driven by the tempest that tall freighter heels
Under the crag where the fiery seabird wheels,
And lightning of spume over rock ignites it.
Oh, birds of the darkness of winter whose flights it
Importunes with frost, when ice congeals
On wings bonded for flight by zero's seals
What good spirit ondulates you still like kites that
Children are guardians of in cold blue? -
And what indeed ourselfs, Chang, in these pursuit
Planes, strung to a nucleus within range
Of our polygonous enemy,
And what shall we, what shall we not, tolerate
Today from chaos, what? - by the unshot albatross and
Icarus' circus plunge?


Malcolm Lowry, in "As cantinas e outros poemas do álcool e do mar", selecção e tradução de José Agostinho Baptista, Ed. Assírio e Alvim

Rios secos, claridades imperfeitas

A dried up river is like the soul

A dried up river is like the soul

Of a poet who can't write, yet perceives
With imperfect clarity his theme and grieves
To parched death over the drought. But his goal
Once a wholesome sea of clearest crystal
Recedes, grows grey in heartseye, like old love leaves,
Leaves the mind altogether. He conceives
Nothing to replace it: only at the pole
Of memory flickers some senseless compass.
So the river, by her pitying trees,
Is an agony of stones, horrors which sank
But are now declared, bleached. For it is these,
These stones and nothingnesses which possess
When river is a road and mind a blank.

Malcolm Lowry, in "As cantinas e outros poemas do álcool e do mar", Assírio e Alvim, Selecção e Trad. de José Agostinho Baptista.

Frio

Nunca tive tanto frio como uma noite ao largo da Figueira da Foz: tremia tanto que pensei que ia partir um dente. Não tinha roupa adequada. Ou então foi uma noite de chegada a Dunquerke, com a corrente contra, a fazer um nó de média: cheguei à entrada do canal à meia-noite ou uma da manhã, e só atraquei às seis; nessa altura tinha um casaco que era forrado a alumínio, e várias camadas de camisolas de lã, e mesmo assim o frio embrulhava cada uma das células do meu corpo como plástico um rebuçado. Na montanha nunca tive frio, porque se pode ir para casa, ou para a cama. Num barco não: é preciso ficar cá fora, e numa altura em que não havia polares nem as fibras sofisticadas que há hoje o frio era o pior dos inimigos.

De manhã, quando o sol chegava e a temperatura começava a subir começava a tirar roupa da mesma forma que a tinha vestido: camada a camada. Nos dias de verão só não tirava a pele, e assim passava o dia. Depois chegava a noite, e com ela o frio outra vez; e a força da vontade, a determinação, a teimosia. Há sítios onde o frio não chega.

Manteiga

Esta história não é verdade, claro; mas se fosse ter-se-ia passado provavelmente na Bretanha, num dos Aber, naqueles casarões de granito e xisto onde se pode passar uma semana sem falar com o anfitrião e ele agradece.

Os bretões são pouco dados a emoções, e menos ainda a palavras. A mulher dele era uma antiga quase-namorada minha. Quase: nunca nos tínhamos decidido a dar o passo, eu porque era casado e ela pela mesma razão. Uma belga germanófona pequena, loira e com um feitio que só granito, xisto e silêncio aguentariam, como aguentaram estes anos todos.

Às vezes eu precisava de um retiro e ia para casa deles passar uns dias, uma semana. Era sempre no inverno, uma época em que na Bretanha chove todos os dias todo o dia. Nos intervalos há nevoeiro, espesso e sólido, tão opaco que nem o nevoeiro se vê.

De manhã íamos comprar o leite, o pão e a manteiga, quando era precisa. O marketing, nessa altura, ainda não tinha chegado a todos os produtos, pelo que era vendida sem embalagem e sem "au sel de Noirmoutier", ou "de Guérande", ou "de Camargue". Era cortada de um enorme bloco que a senhora da mercearia guardava num frigorífico, os cristais de sal grandes e brilhantes como diamantes pequenos. Não havia jornais, excepto o inevitável jornal regional e um ou dois desportivos.

Voltávamos para casa e fazíamos torradas, que barrávamos com fatias de manteiga mais altas do que muitas fatias de queijo que comi desde então. O sal fazia barulho, quando o mastigávamos; igual ao da enorme lareira, que ela tinha, entretanto, acendido. Bebíamos café em grandes tigelas fumegantes em torno das quais enrolávamos as mãos, para as aquecer; pouco a pouco o café ficava com o sabor do sal e da manteiga, porque nele ensopávamos as torradas.

Quando acabávamos o pequeno almoço ia ler para a sala. Lá fora chovia como se Deus quisesse que a manteiga nunca viesse a faltar. Ainda hoje, para mim, a Bretanha é feita de cores: o preto dos telhados, o azul do mar, o verde do campo. E o amarelo da manteiga, claro. E aquela cor indefinida do silêncio, da paz e da amizade, que é a mais bonita de todas.

6.2.09

Tolices - II

Sempre detestei estereótipos, generalizações, preconceitos sobre grupos de pessoas; sejam eles profissionais, raciais, religiosos ou o que for (apesar de rir com uma boa anedota neles baseada, mas isso é outra história).

Hoje, contudo, apercebi-me da utilíssima função social que esses lugares-comuns têm e da tolice que é não nos podermos "vingar" a priori e in abstrato de quem deles é objecto. Abordar alguém (isto, obviamente, só se aplica aos advogados) com uma sólida e bem fundamentada opinião a respeito dele antes mesmo de o conhecermos deve ser um alívio indescritível.

5.2.09

Tolices

Era-lhe mais fácil suportar o seu próprio sofrimento do que o dos outros.

A Trama da música

Hoje fui ouvir um concerto na Livraria Trama, que a este ritmo se vai converter rapidamente num local de peregrinação obrigatório e permanente.

Tiago Sousa é uma mistura de música erudita (Satie, diz o texto da livraria) com música contemporânea, electrónica, minimalista e "Carlos Parede", diz ainda o dito texto. Não vi muito Carlos Parede, mas vi tudo o resto; e também muita elegância, muita técnica, muita sensibilidade (se calhar era a isto que se referiam).

Para além de livros e alguns discos (todos bem escolhidos) a livraria Trama serve bebidas, entre as quais cerveja, whisky, jeropiga, ginginha e Porto (a lista menciona outras coisas, mas eu não sei o que são, com excepção notável do café, que é Nexpresso - ou seja, quase café, quase tão bom como café). Se Deus existisse teriam chá (em folha), vinho tinto, blinis e tapenade caseira - e eu iria morar para a casa ao lado.

Sigam o programa da Trama pela rama, ou peçam-no e recebam-no por mail. O único risco é terem de reservar uma horrenda quantidade de dias por mês para se tramarem na Trama, e aumentar a parte do orçamento dedicada aos livros.

"Daniel Pearl and the Normalization of Evil"

Um belíssimo, e por vezes comovente artigo, aqui.

"...The media have played a major role in handing terrorism this victory of acceptability. Qatari-based Al Jazeera television, for example, is still providing Sheikh Yusuf Al-Qaradawi hours of free air time each week to spew his hateful interpretation of the Koran, authorize suicide bombing, and call for jihad against Jews and Americans.

Then came the August 2008 birthday of Samir Kuntar, the unrepentant killer who, in 1979, smashed the head of a four-year-old Israeli girl with his rifle after killing her father before her eyes. Al Jazeera elevated Kuntar to heroic heights with orchestras, fireworks and sword dances, presenting him to 50 million viewers as Arab society's role model. No mainstream Western media outlet dared to expose Al Jazeera efforts to warp its young viewers into the likes of Kuntar. Al Jazeera's management continues to receive royal treatment in all major press clubs."


"A arte vence o nojo?"

É curioso como nunca se vê esta pergunta a propósito dos regimes comunistas. O facto de alguém ter sido leninista, maoista ou estalinista não tem qualquer impacto sobre a apreciação estética da sua obra, nem sobre o seu carácter. Quando deixará de ser assim?

4.2.09

A objectividade

Pergunto a mim mesmo, não sem um certo frémito derivado à expectativa: que vão "eles" dizer disto? Vão dizer alguma coisa?

"UN retracts claim Israeli strike hit school".

(Via O Insurgente)

Serviço Público - Restaurantes

Lisboa sofre - na minha humilde e subjectiva opinião - de uma notória falta de casas de chá para pessoas que gostam de chá. Hoje, descobri uma: chama-se Ó Chá, fica a 5 minutos da saída do metro de Alvalde e tem uma belíssima lista de chás. Fazem um prato do dia bom a um preço perfeitamente digerível e - é um bónus - tem igualmente uma componente de decoração.

Aconselho vivamente uma visita ao site, porque é quase tão bom como a loja propriamente dita.

Ó Chá - Tea Room
Rua Luis Augusto Palmeirim 18
(Metro: Alvalade)
De segunda a sábado das 12h00 às 20h30.

Essencial

Era uma amizade tão nua, tão minimalista, tão essencial que já nem sentimentos incluía.

2.2.09

Deusa

Percebo - e gosto - pouco de automóveis. Mas se há um que me apaixona é este.

"Citroën s'apprêterait à relancer la production de DS"

Vendée Globe

Fotografias da chegada de Michel Desjoyaux, aqui.

1.2.09

Frio

Estava frio, um frio de rachar. Até a dor tremia.

Piscina

A tristeza era uma piscina, na qual mergulhava por vezes da prancha dos dez metros. Um dia não reparou que a piscina estava vazia.

Noite

Ao fim de cada dia uma longa noite. Mas não suficientemente longa.

Os cornos do sonho

Deixava-se encornar pelo sonho como um beato por uma puta.

Missangas

Como missangas enfiadas num fio, o fio do sonho. Todas da mesma cor, da mesma dor.

Uivos

Às vezes ia para a asa da ponte uivar, mas não servia de nada. Precisava de treinar mais, muito mais. Mas agora só na asa da vida.

O sono e o sonho

Um sono sem sonhos é preferível a uma vida com.

Margens

O sonho fica para lá das margens da vida fica o sonho, ao lado da morte.

A temperatura das sílabas

Palavras como pedras de gelo num copo vazio.

Ecos, espelhos

Os ecos chegavam-lhe, mas invertidos. Como se lhe tivessem sido enviados por um espelho.

Margens, palavras

Palavras, à deriva entre as margens da vida.

Sonhos, vidas

O sonho roubou-lhe a vida. Não apresentou queixa: fora cúmplice.

Banda sonora

Procura-se banda sonora para uma vida de chuva.

(Para a Ana V., Porta do Vento)

Resposta parcelar: Rachmaninov, Vésperas; Bach, Suites Inglesas; Eric Dolphy, God Bless the Child

Palavras

Fá-las sair, respirar, viver, caminhar, perderem-se. As palavras.

Insuportável

Só a tristeza é insuportável.

A idade do meio

Um post bonito, aqui.

Sentimentos

Os sentimentos são um bichos esquisitos que vivem dentro das pessoas, e vivem para os outros. Contudo, às vezes, de uma forma totalmente obscura, inesperada e incompreensível pedem aos outros que os alimentem. Se o pedido fica sem resposta, os sentimentos transformam-se numa espécie de meninos birrentos e vão-se embora. Desaparecem. Desvanecem-se.

Eu acho que os sentimentos são uns estúpidos, coitados.

I wish I was there

"Ca, c'est fait !"

Aquecimento global

Pois. Não é bem "aquecimento". É mais "alterações".

"Este Janeiro foi o mais chuvoso dos últimos 30 anos "

Quem te avisa...

"Les menaces d'Israël face aux tirs de roquettes depuis Gaza".

Férias

Um fim-de-semana em Cascais conta como férias?