30.11.11

Desarvorar o ATHENA - 2



Fotografias da Helena.

Dias, felicidade

Há dias muito felizes, e há muitos dias felizes; mas não há muitos dias muito felizes.

(Há, mas não interessam a ninguém. A felicidade alheia parece, e se calhar é, monótona.)

Desarvorar o ATHENA

Dêmatage ATHENA

As fotografias são da Helena.

28.11.11

O desenvolvimento e a má consciência

O CIDAC (Centro de Intervenção para o Desenvolvimento Amílcar Cabral) abre uma loja de "Comércio Justo" em Lisboa.

Como a maioria das "ajudas ao desenvolvimento" o comércio justo é uma coisa cujo principal objectivo é aliviar a má consciência da burguesia ocidental. Até aqui tudo bem - uns aliviam-na no confessionário, outros no comércio justo e cada um onde lhe apetecer.

O que me fascina não é o alívio da má consciência. É não perceber de onde ela vem: por que raio de carga de água há pessoas no Ocidente que se acham  responsáveis pelas iniquidades dos regimes (maioritariamente) africanos?

Tão pouco percebo o que leva pessoas inteligentes e cultas a não querer ver que os problemas africanos são políticos, e não económicos. Tentar resolvê-los com medidas económicas não serve rigorosamente para nada - como de resto é facilmente confirmável por quem olhar para os resultados de 50 anos de "ajuda ao desenvolvimento".

Excepto, claro, para aliviar as consciências. De quê, continuo sem perceber.

Outro domingo passado em Shirley Heights


Desta vez chegámos mais cedo, e o céu estava nublado. Havia muito menos gente. E a jovem senhora deixou-se fotografar, o que é raro.  























"Gente do Sul"

Este livro é um excelente. Raros são os autores portugeses de contos que me fazem pensar em O'Henry, um agora infelizmente esquecido contista americano que continua a ser, para mim, um dos expoentes do género.

Porquê, onde, como, etc.?

Os amigos de Sócrates acham isto dinheiro bem gasto. As únicas perguntas que me ocorrem são porquê?, onde, como? (e "o quê?", mas num tom diferente). Não são idiotas (nem mais nem menos do que os amigos de Manuela, Pedro ou Francisco), por isso deve haver outra razão. Será o "efeito multiplicador"? Se for, poderá alguém explicar-me onde foram parar os resultados da "multiplicação"? 

"NAER investiu mais de 40 milhões a estudar construção do aeroporto na Ota"
"RAVE gastou 14,6 milhões de euros com TGV em quatro anos"
"Estado gastou mil milhões de euros com 14 empresas públicas"

26.11.11

Domingo passado em Shirley Heights

Enquanto esperávamos o táxi, em Falmouth Harbour
Uma minúscula parte da steel band
Steel band, versão colorida
O vocalista da banda de reggae
E a...


"Levantem os braços"
E eles levantam
"Para a esquerda..."
Uma festa branca:


Vamos embora...
... o bar está vazio.

Independência ou...

"Suspeito"

Sinceramente, não percebo o que levou a polícia a suspeitar que este senhor é traficante de droga.

"GNR detém em Albufeira homem com 9170 doses de estupefacientes"

Fotografia e alguns caprichos

O reader torna-nos preguiçosos, ou esquecidos: faz-nos olvidar que há blogs que, por uma razão qualquer, não estão lá. O 4 Caprichos é um deles e hoje lembrei-me de o visitar. Há poucos, quase nenhuns, fotógrafos que têm este efeito em mim: dar-me vontade de voltar a fotografar, e regozijar-me por já não o fazer.

25.11.11

Santa inocência

Não sou grande fan, já por aqui algures o disse, das divagações teóricas de Belmiro de Azevedo, apesar de lhe reconhecer um inexcedível (em Portugal) valor como empresário. O mesmo se passa, mutatis mutandis, com as construções textuais de Fátima Rolo Duarte, par ailleurs uma excelente artista gráfica.

Este post é giro e tal e está bem escrito e coiso; está a milhas do que costuma fazer com fotografias e videos, mesmo abstraindo as diferenças ideológicas, que são muitas.

E tenho cá para mim que, se Fátima Rolo Duarte soubesse um centésimo do que se passa no mundo dos estivadores não os elegeria como exemplo do que quer que fosse. É como se um liberal felicitasse Al Capone por não pagar impostos.

Lados e parasitas

A escolha é de JPT, do Ma-schamba. Mas subscrevo-a inteiramente, e reproduzo-a.

Escolher um lado
A psicologia parasitária

Asneiras e corações

Isto parece-me mais um auto-retrato (aproximado: não seria "de vez em quando"; mas "cada vez mais") do que um retrato do Otelo.

"Otelo tem "coração muito bom" mas "de vez em quando diz a sua asneira", diz Mário Soares".

24.11.11

Democrata impaciente

Para o meu computador já é 25 de Novembro.

Palavras, vento

O vento enche-nos de palavras, como um adolescente os lençóis quando sonha com a professora de ginástica, ou de física.

Combinações, Stakhanov

Isto dito, postas assim as coisas, o valor é zero, ou quase. Dois dados na mesa, um quatro e, sei lá, um três ou um dois: zero.

Mas basta mudá-los um bocadinho e aparecem os dois ases. A vida está feita para os stakhanovistas das combinações: tudo é possível, depende apenas da maneira como está disposto na mesa. Há quem se dê ao trabalho de procurar, de lançar sem fim os dados.

Eu não. Limito-me a recordar os não que deviam ter sido sins, os sim que deviam ter sido nãos, e os sins e nãos justos, mesmo que na altura tenham doído (há sins que doem, magoam, ferem mais do que muito não). Os meus dados têm três faces apenas: sim, não e logo se verá (tendo "logo" o sentido muito lato de muitos anos a muitas noites).

"É assim", como dizem hoje as recepcionistas das empresa e das repartições públicas ("e não como nós queríamos que fosse", acrescentaria o meu pai se fosse vivo): anda por aí um Stakhanov qualquer a lançar dados e nós que nos amanhemos com o que sai.

Nós, ou quase. Eu contento-me com dados truncados e rum no Skullduggery, ou flûtes de espumante argentino no Hamilton's, nas noites mais melancólicas.

E com um sim diferido: há alguns que nada pode alterar, nem substituir.

Assimetrias

Dois significados podem ter uma palavra, mas duas palavras não podem ter um significado.

Desleixo

Gramática

O verbo amar não tem condicional.

21.11.11

Serviço público - restaurantes, Falmouth Harbour (Antigua)

Nas ilhas anglófonas come-se mal, regra geral. Há bons restaurantes, claro, mas são caros, não são o género de local onde se pode ir todos os dias. Os restaurantes baratos oscilam entre o péssimo e o mau.

O nosso escritório é o Skullduggery, na marina do Yacht Club, onde a Sandra e as suas colegas tomam conta de nós com uma eficácia e uma simpatia inexcedíveis.



É aqui que bebemos o café matinal e comemos as sandes do meio-dia, e às vezes as saladas da noite.

Vamos frequentemente ao Mad Mongoose, da Connie e do Bill (igualmente proprietários dos Reef Gardens, o albergue onde dormimos, por um preço módico e uma vista de tirar a respiração, todos os dias). É bom e não muito caro, tal como o Lime and Coconut, cujo dono, Lucas, é Suíço-Alemão.

Mas só ontem, meu Deus, encontrámos o restaurante que nos encheu as medidas. Chama-se Sun Ra, pertence a um senhor chamado Mirko, que "antes de ser marinheiro era fotógrafo de jazz" - fez 185 capas de discos (entre as quais, naturalmente, de discos do Sun Ra, que inspirou o nome do restaurante).

"Finalmente um restaurante para o qual também é bom olhar", diz-me a Lena. "Os italianos têm 2,000 anos de avanço em design", respondo. O Sun Ra vai passar (já passou) para o grupo dos meus restaurantes favoritos no mundo - é excelente, bonito, único; se algum dos meus tolerantes e simpáticos leitores vier por acaso a Antigua aconselho-o fortemente.

19.11.11

Pategadas, pessimismo

As grandes justificações para se ser pessimista em relação a Portugal não são o provincianismo, a aversão à mudança, e por aí fora. Muito piores e mais preocupantes são as pateguices de quem não é patego, bem exemplificadas nas reacções ao "tratem-me por Álvaro" do nosso ministro da Economia.

É uma frase apreciável, louvável, que devia ter sido recebida, quanto a mim, com apreço. Contudo, as reaçcões da blogosfera - e refiro-me à sua parte "civilizada" - foram de gozo, apoucamento, desprezo. É isso que é grave e preocupante, a meu ver: o pateguismo está tão imbricado no nosso ethos que até pessoas cultas e viajadas se comportam como pategas.

Masculino / feminino

I
As mulheres acham - muito justamente, apresso-me a esclarecer - que sexo, só por si, não chega. Também acham - e eu, de novo, concordo inteiramente - que só amor não chega. Mas sexo e amor tão pouco chegam, para elas. Querem mais: ternura, solicitude, afecto, compreensão e um monte de coisas que para nós, homens, estão incluídas na dupla sexo e amor.

II
Há coisas que só acontecem aos homens, nunca às mulheres: redes que não funcionam, electricidade que se vai abaixo, baterias que se descarregam quando se emprestou o adaptador. São incidentes masculinos, que fazem de nós, homens, duplamente vítimas: dos incidentes e das mulheres que não sabem que estas coisas acontecem.

III
Os homens que gostam de mulheres têm mais sucesso (não sei se "sucesso" é o termo correcto, mas por agora pouco interessa) junto delas. O que não deixa de ser paradoxal, porque o objectivo das senhoras que  seduzem (ou os seduzem, mais correctamente; mas por agora é igualmente irrelevante) é exactamente fazer com que eles deixem de gostar de mulheres, no plural, e comecem a gostar de uma só.

É como se uma senhora gostasse de um homem por ele ser magro e uma vez conquistado o enchesse de bolos, não fossem outras ter o mesmo gosto.

IV
As mulheres têm muitas vantagens sobre os homens: são mais inteligentes, mais bonitas e mais sensíveis, por exemplo. E não podem ter cornos; não lhes nascem na cabeça, faça um homem o que fizer.