A situação da senhora complicou-se bastante durante o dia e acabei por ter de lhe dar um anti-emético. Instruções do Cross - Antilles Guyane que tive de chamar, Allahu Aqbar, continuam a fazer um trabalho sublime. Injectável, claro, é o único que tenho a bordo. Depois da injecção dada, N. diz-me "you did a great job". O cumprimento encheu-me mais de alívio do que de orgulho. Se não é a primeira injecção que dou na vida é a segunda e disto tenho sérias dúvidas. Valeu-me lembrar-me ainda das aulas de medicina e primeiros socorros da então ENIDH (hoje acrescentaram-lhe um S, para fazer daquilo uma escola superior). A senhora dorme, sob a supervisão da irmã e do cunhado, a quem dei instruções para a acordarem uma vez por hora e trocar com ela algumas palavras para avaliar a sua reactividade.
Agora há que gerir o tema do médico à chegada. Tudo menos que me ponham de quarentena não sei quantos dias ou semanas em Rodney Bay. É pouco provável mas não é impossível.
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São momentos como este, ou quando estamos num squall ou numa tempestade, ou quando temos de nos encavalitar no galope de um mastro a vinte metros de altura com força seis, ou quando temos de resolver um problema qualquer no mar que justificam o salário que ganhamos.
Os outros, os dias a saltar de fundeadouro para restaurante de luxo pago pelos clientes também; só que a razão é menos aparente: isto é tudo óptimo até alguma coisa correr mal. Por isso me irrito quando aceito um trabalho com um salário baixo, como é este, que aceitei por causa do Panamá e agora estou em negociações com a empresa para ficar por estas bandas. Vamos ver.
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Como, de resto, só amanhã veremos se geri isto tudo correctamente ou não. O mundo da navegação é um mundo lento, como se ao espaço da relatividade, para definir o tempo, tivesse de se juntar o mar. Há sempre um amanhã e até ele chegar o hoje não se percebe bem. Só no fim da regata ou no fim da viagem saberás se a tua opção de hoje foi a correcta. Amanhã.
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Amanhã? Amanhã chegamos a Rodney Bay. Depois? Logo se vê. Vamos para o Marin, isso é de certeza. A questão é saber quando. O que vai depender dos senhores da imigração em St. Lucia. Cujo humor vai depender de uma série de outras coisas. Ou seja: prever o futuro nesta actividade é como ir a um desses charlatães que prevêem o futiuro numa bola de cristal. Partida.
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PS - isto hoje vai para o ar quase sem correção. O dia começou às três da manhã e são agora onze da noite. Se ninguém me acordar antes, às seis estarei de novo a pé. E ainda há quem pense que ganhamos muito.