28.9.11

Optimismo

Seis meses parece-me pouco tempo. Mas seria bom que isto acontecesse, e que a economia portuguesa mudasse realmente. 

"Daqui a meio ano ninguém reconhecerá a economia portuguesa"

Porque como era, e como está, não me parece grande coisa.

27.9.11

Ensurdecedores

O ensurdecedor ruído das portas que se fecham, e o ensurdecedor silêncio das que não se abrem.

25.9.11

Coragem, visão

Às vezes pergunto-me se os Portugueses que chegaram à Índia e dominaram metade do mundo são os mesmos de hoje. É que com a coragem e a visão que por aí vejo, nem a Cacilhas teríamos chegado.

Tortura

Tortura é cada minuto que vivo sem ti; e não, ao contrário do que parece, cada minuto que vivo.

Hoje

Amanhã existe, ainda há agora to disse. Hoje não: é um poço sem fundo, e o que não tem fundo não existe. 

Tu, falta

Se calhar já te disse, não sei: não sou daqui. Amanhã vou-me embora (amanhã existe, acredita. Não é uma ficção). Não levo nada comigo: só as coisas que fazem verdadeiramente falta. O teu olhar saciado, por exemplo; a tua pele, interminável; as tuas mãos, as tuas coxas, os teus seios.

O que faz falta está todo em ti, e nada do que não está em ti faz falta.

Inferno

São cinco da manhã e não é agora que as coisas vão mudar: a mistura de ovos, vinho e pão, por exemplo. Ou de um corpo, o teu, nos lençóis e uma almofada vazia mesmo ao lado dos teus lábios, como se esperasses alguém.

Esse alguém sou eu. Por mais que o desejemos, o inferno não existe.

Antigamente

Isto era bom era antigamente, porque o antigamente não muda. É sempre o mesmo, o antigamente. "Era outro país". 

Eu queria que o antigamente se fodesse, porque é por causa dele que o futuro é o que é.

24.9.11

Rita

E depois, Rita? Ris-te muito? Ri-te, Rita.

Falas-me nos broches que me fazias, nas punhetas que me batias, nas carícias, nos futuros que me prometias? Ri-te, Rita, que eu rio-me também. Que se fodam os futuros, meu amor. Não passam de espuma do presente, ou de espuma tout court, nem presente nem de ontem. Que se fodam, minha querida Rita, os futuros. Não passam de uma pila falível. Podes lambê-los, chupá-los, mordiscá-los - mas nunca passarão disso.

Contenta-te, minha querida, com o que tens: uma pila e alguns sonhos inábeis. O resto não passa de fantasias.

Portugal, palhaços

Só pode amar Portugal quem gosta de superficialidades. Quem, por exemplo, num circo prefere os palhaços aos trapezistas.

Erros, preços

São poucas as coisas de que me arrependo na minha vida: uns beijos dados e outros que não o foram, algumas viagens que não fiz, uma palavra a mais, ou a menos. Nenhuma delas, porém, chega ao calcanhar de um erro monumental: não conseguir desfazer-me deste mórbido amor que tenho por Portugal.

Quando pararei de lhe pagar o exorbitante preço?

23.9.11

Madeira, impunidade

Bem sei que é preciso relativizar o caso da Madeira: Sócrates foi muito pior, sem dúvida. Mas é preciso acabar com este clima de impunidade, e por algum lado se tem de começar.

Confusões

Alguém me explica por que raio de carga de água toda a gente quer que o "ministro Álvaro" apareça? Acho muito bem que o homem trabalhe em vez de falar. É como aquela coisa de não querer Manuela Ferreira Leite para PM porque era "feia", ou "por não saber falar". Será que a queriam para namorada? 

22.9.11

Este senhor tem o mérito - inegável e raro, infelizmente - de dizer o que pensa; o problema, por vezes, é o que pensa.

"Advogados: Marinho Pinto acusa ministra da Justiça de ser "forte com os fracos e fraca com os fortes"

Esquerda conservadora

A esquerda tornou-se conservadora porque o mundo de hoje é o resultado do sucesso das suas políticas. Pelo menos o mundo ocidental.

21.9.11

É a PR, estúpido

Aqui.

(Rui Tavares deve saber tanto de economia como eu, e é sempre muito útil ler quem lhe explica duas ou três coisas.)

PS - E o Luís M. Jorge.

Infelizmente


O caso está na Justiça portuguesa. Infelizmente não se pode dizer que esteja em boas mãos; mas pelo menos está onde deve estar.

Leituras obrigatórias

Este post contem duas leituras obrigatórias: o artigo de AJJ (não muito fácil de ler, porque o estilo é fraco; mas interessante) e a súmula de João Miranda. Vamos ver como é que os diferentes ramos da Voodoo School of Economics* nacional (um dos quais é este, claro) vão explicar mais uma dissonância cognitiva: Keynes na Madeira mau, Keynes no resto do mundo bom.

* - Voodoo School of Economics é a expressão que Bush pai utilizou para se referir às propostas económicas de Reagan, durante a batalha pela nomeação à candidatura presidencial. De um ponto de vista académico é inegavelmente errado utilizá-la para as políticas socialistas e keynesianas. A realidade - ou, se preferirmos, a vida fora da Academia (contra a qual não tenho nada, apresso-me a esclarecer) - demonstra contudo que o homem cujos lábios não faziam o que ele dizia inventou a expressão certa para o alvo errado. Podemos, aliás, perguntar-nos quais os resultados de economias relevantes do pensamento mágico na Madeira (e em Portugal, claro, e no resto do mundo)?

Nota - se uma pessoa que não percebe nada de vela falasse muito sobre, por exemplo, táctica de regatas; ou das vantagens e desvantagens das quilhas basculantes, ou de arreigadas em outspreaders, eu ligaria pouca atenção. São coisas que exigem uma certa experiência e conhecimento, se se quiser falar delas com acerto.

Mas não é preciso perceber muito de vela para, numa regata, por exemplo, saber quem vai à frente; ou para ver que algumas manobras correm melhor do que outras. Com a economia passa-se o mesmo: não é preciso ser uma sumidade para se perceber que há coisas que funcionam melhor do que outras. Por exemplo, na Suíça (em muitos dos cantões) não há salário mínimo, e há uma liberdade total de despedimento; contudo, não há desemprego e os salários são dos mais elevados do mundo. Não deve portanto haver uma relação directa de causalidade entre mercados laborais muito rígidos e uma alta taxa de emprego, ou entre ausência de salário mínimo e salários baixos, ou desigualdade social (o índice de Gini é mais baixo na Suíça do que em Portugal, nunca é de mais relembrar) .

Tal como não é preciso ser um oftalmologista para se saber que se se puser óculos, sei lá, cor-de-rosa, por exemplo, o mundo aparece diferente daquilo que ele é. Claro que isto nos levaria a discussões muito portentosas sobre o que é a realidade, e sobre a diferença que há entre avaliar quem passa primeiro numa bóia ou quem tem os melhores sistemas económicos.

Mas o Don Vivo não é um blogue teórico, graças a Deus. E prefere óculos transparentes.

Almoço improvisado - almôndegas com molho de iogurte

Mais improvisado do que isto é difícil; não ficou mau, mas pode ser melhorado. Comecei por fazer um refogado com a cebola picada fino, alho e salsa ditto. Juntei as almôndegas e esperei tranquilamente que qualquer coisa acontecesse, mexendo de vez em quando.

Quando qualquer coisa aconteceu juntei três iogurtes, tomilho fresco, pimenta e noz moscada (pouco de tudo isto), mostarda Maille (Dijon Original), e, já quase no fim, mesmo antes "dos pendões e dos clarins" uma maçã verde cortada às fatias finas e um nadinha de sumo de limão.

Parece que ficou "subtil", mas eu teria acrescentado um bocadinho de uma paprika forte e teria raspado a maçã. E só teria acrescentado o iogurte no fim.

20.9.11

Formas inteligentes de coisas correntes

Mr. Apostate. Ateísmo inteligente e com piada. 

Polaroid

Mais um para o reader, já.

"Coisinhas boas" (excelentes, acrescento)

"As autoras do Jugular estão estarrecidas com a dívida madeirense. Parece que os benefícios do investimento público não se verificam nas regiões autónomas."

(Aqui, via O Insurgente)


19.9.11

Metáfora cansada

A metáfora cansa quando se cansa; nada há de mais cansativo do que uma metáfora cansada.

Calor, tu

Sem ti é fria a noite, a vida, o tempo. Tudo é frio sem ti. Trazes o calor no corpo, no olhar, nas mãos, na pele e na alma; dás vida à vida, mulher. Aquecerias o sol, se quisesses. Pois se sem querer já o mundo todo aqueces, o tempo, o futuro. Fazes da noite o contrário da noite, e do dia, sem ti, uma interminável, gélida, morta e mortal sequência de sombras.

Palestina(s)

Não deveria antes dizer-se "reconhecimento da Palestina como estados independentes"? 

Dúvidas

"O artista norte-americano Spencer Tunick, conhecido pelos seus retratos de nus colectivos, fotografou no sábado mil israelitas nus, à luz do amanhecer numa praia do Mar Morto. O objectivo do artista é chamar a atenção para a situação do mar Morto, que corre o risco de desaparecer dentro de 50 anos."

Talvez esteja enganado, mas duvido que o objectivo do senhor seja "chamar a atenção para o Mar Morto".

Lá vamos nós outra vez

Prémio Nobel póstumo

"Molero fala da outra parte da verdade que se escapa, ... fala da vida que se esconde em cada ser, do fluido em que essa vida continuamente se perde e reencontra...
...
ficando, de qualquer modo, e para sempre, a certeza de que falta uma parte vital dessa vida, a sua substância mais alada, a vida de um homem é sempre mais pesada, e também mais leve, sempre mais ampla, do que a avaliação dela feita por outro..."

"O que diz Molero", Dinis Machado, ed. Quetzal 2009

17.9.11

Dádiva

Amar-te é uma dádiva. A vida pode ser generosa.

13.9.11

Vidas, vidas

As vidas que ainda não vivi são mais importantes do que as que já vivi. Isto é, mais atraentes.

12.9.11

Redux

Um dia assim

Foi num dia assim que tudo se desenrolou perante mim: Glenn Gould a tocar as Suites Inglesas, os correios a funcionarem bem, África a democratizar-se, Thabo Mbeki a reconhecer, finalmente, que Mugabe devia ir-se embora ("he should go home"), o fim da pobreza no Brasil; foi num dia assim

que tu respondeste, finalmente, e aceitaste vir para o mar comigo. "Não sei viver noutro sítio, sabes?", perguntei-te, e tu respondeste "e eu não sei viver sem ser em ti, vou amar o mar e amar-te e dar-te o mar que tu me deste", não sabia a que mar te referias então, hoje sei, e foi num dia assim

que pela primeira vi a tua voz, essa voz sem a qual não sabia que se podia viver, não pode, pois não?, ninguém pode, depois de a ouvir, e foi também num dia assim que amar fez sentido pela primeira vez outra vez em tanto tempo, como pode uma vida dissolver-se em amor, desaparecer e ressuscitar transformada?, foi sem dúvida num dia assim que descobri que pode, para isso tu foste feita, para inventar a vida; foi num dia assim

que disseste "é uma questão de pele". "Não é: é uma questão de pele, de olhos e cabelos e seios e ventres e coxas e é uma questão de corpos, de ar e de falta de ar e de gritos e de sussurros, de ânsia e de unhas e carícias e dentes e línguas e dedos e orelhas e bocas", é uma questão de querer mais e não querer outra, nunca mais, nunca mais outra vida, outra pele, outro corpo. Foi num dia assim

que me ensinaste "o sofrimento não presta, não enche uma vida, só a esvazia", e me mostraste que o passado passou, finalmente, e reencarnaste e me bateste à porta e me sorriste e me disseste "olá, sou eu outra vez, pela última vez sou eu". Foi num dia assim que Deus inventou as palavras - tu és os alfabetos todos de todas as formas da palavra amor - e os dias e o mundo

e o mundo és tu, perfeita.

(Para a T., com quem todos os dias são assim)

Erro ou perspectiva?

- O pequeno-almoço está incluído no preço? - pergunto na recepção do hotel.
- Não. O pequeno-almoço é gratuito.
- Então está incluído no preço.
- Não, é gratuito.

 Não há pequenos-almoços gratuitos, meu caro (e detestável) recepcionista.

Parabéns

5 anos de Cenas a pedal (enfim, brevemente). Parabéns à Ana e ao Bruno.


11.9.11

A força das coisas

Contigo sou todo e sou muito; sem ti não chego nem a metade, e bem pouco sou, quase nada.

9.9.11

Viajada

Era muito viajada; já tinha sido infeliz em todos os continentes.

Fragmento

"A vida é um filme que se repete, infelizmente, mas não rebobina".

Espera, fim

Tudo tem um fim, excepto os grandes amores e as grandes viagens. Tudo tem um fim, até a mais insuportável, longa, penosa das esperas.

6.9.11

Fort Apache

Este vai já para o reader.

2.9.11

Keith, mundo

Keith Jarrett tem o dom de nos fazer esquecer que o mundo existe; ou melhor: que o podemos reinventar, re-habitar, reconstruir, refazer.

Sonhos, misturas

No sonho ouvia "she's calling you"; depois percebi que era "sea's calling you".

A fé dos convertidos

Vejo que a esquerda reclama - podre de razão, desta vez - com os aumentos de impostos. É bom ver este lado do espectro político preocupado com a capacidade do Estado para gerir os nossos impostos. Esperemos que dure, e quando for a vez de um governo PS (longe vá o agoiro) se oponham com igual veemência à pirataria fiscal.

A continuar assim ainda vai reclamar cortes na despesa.

Escola voodoo de economia, sucursal portuguesa

"Isto não vai acabar bem." Assim acaba um post de João Galamba, no Jugular. É bom augúrio. Se a Jugular School of Economics diz uma coisa, o mais provável é que seja o contrário que se verifique: temos alguns anos de experiência com os governos Sócrates para o saber.

(Além de que dá um certo espanto ver alguém ligado ao PS e que sempre defendeu Sócrates dizer "isto vai acabar mal". É verdade que estava tudo optimamente, ele era TGV, autoestradas, expansão do terminal de contentores de Alcântara, ele era amigos e consultorias e dinheiro pela janela a rodos, e agora é esta malta que vem estragar tudo; mas um mínimo de decoro não faz mal a ninguém).

"É a P. R., estúpido"

No Douta Ignorância, Priscila Rêgo faz uma excelente série de posts sobre a despesa pública. São de ler, todos, já (no meu caso com um ligeiro mea culpa, porque).

Começa assim: "Há duas formas de avaliar os cortes de despesa pública feitos pelo Governo. A primeira é ler a blogosfera portuguesa e ouvir a generalidade dos comentadores nacionais. A segunda é ir ver os números que já são conhecidos. As duas metodologias conduzem a resultados substancialmente diferentes."

1.9.11

Lisboa, despedida

Mais uma vez me despeço de ti, Lisboa, amante sem dinheiro de uma puta cara. Percorro-te as ruas, conheço-te os liftings e os podres, as rugas e a faísca, a luz e o olhar desdenhoso com o qual finges ignorá-la.

Percorro-te, mas és tu o sangue, és tu a carne e os ossos.

Olhares

Nada neste mundo vale - e decerto nenhum outro olhar - o olhar grato de uma mulher feliz.

"Amor platónico"