31.1.08

Serotonina

Uma lindíssima fotografia de árvores e flores em Lisboa, aqui.

Oh! Solidão

Ele estava tão sozinho tão sozinho tão sozinho que um dia foi jantar com uma miúda que confundia "ciclóstomo" com "ciclotímico".

A APL e a CML

Algumas áreas do porto de Lisboa passaram para o domínio da Câmara Municipal de Lisboa. Duas ou três notas a esse respeito:

a) É uma manta de retalhos e vai inevitavelmente gerar conflitos, ou o tradicional sacudir de responsabilidades para o vizinho. Como tudo o que este Governo tem feito, é um passo na direcção certa - numa viagem que exige dez passos;

b) Algumas decisões devem, pura e simplesmente, ser tomadas pelo poder político, eleito, e não por técnicos ou gestores, por muito bons e competentes que sejam. Um exemplo: um terminal de contentores em Alcântara faz tanto sentido como um centro comercial em pleno Terreiro do Paço. Mas não se pode pedir à APL que o tire de lá (ou pode, mas a resposta será sempre um rotundo "Não"). Esse tipo de questões ("Lisboa precisa de um terminal de contentores? Se sim, onde?) são da área política - com todos os riscos que isso comporta, que na área marítima são muito maiores do que, por exemplo, com um aeroporto;

c) A sensibilidade da APL a outras utilizações do porto (Recreio, Marítimo-Turísticas) tem sido nula - basicamente porque os contentores são uma parte considerável da sua facturação. Será a da CML maior?

d) Seria interessante fazer-se um estudo comparativo sobre o impacto económico da Náutica de Recreio - incluindo, naturalmente, as AM-T - na Doca do Espanhol e o tráfico de contentores. Esse estudo devia, claro, incluir as externalidades, tanto positivas como negativas;

e) A melhor solução teria sido, creio, entregar o controlo total da zona Ribeirinha à CML, delegando esta na APL, ou numa gestão conjunta, as áreas estrictamente portuárias.

f) Durante anos e anos disse-se que ninguém tinha "coragem" para afrontar a APL. Alguém me pode dizer quais foram as terríveis consequências deste corajoso e temeroso acto?

Variações V

Faça o seu futuro. Se o fizer uma vez, é muito mais fácil fazer duas ou três.

Variações IV

Faça você mesmo o seu, ou os seus futuros. É muito melhor viver esse, ou esses, do que o que os outros fizeram para si.

Perguntas e respostas

Todos os dias acordava com uma pergunta - "should I stay or should I go?"- e todos os dias a resposta era a mesma, silenciosa e resignada.

Salada picante de cebola

Cebola cortada muito fina em meias-luas; malaguetas vermelhas e coentros picados. Sal. Envolver em sumo de limão ou vinagre. Reservar algum tempo. Servir como acompanhamento ou petisco.


(Do Público, creio).

30.1.08

Geografia da serotonina...

Há doses maciças de serotonina nos seguintes locais, ou acções:
  • Bar O Pirata, nos Restauradores;
  • Bar Procópio, nas Amoreiras;
  • Beber um Gambrinus no Gambrinus (e comer uma empada de perdiz);
  • Biblioteca da Academia das Ciências, na rua homónima;
  • British Bar, no Cais do Sodré;
  • Cabaret Maxime, na Praça da Alegria;
  • Casa do Alentejo, na Rua das Portas de Santo Antão;
  • Claustro da Sé;
  • Claustro do Mosteiro dos Jerónimos;
  • Comprar flores na Flor Flor, em Santos;
  • Descer a rua do Alecrim, de manhã, ou subi-la, à noite;
  • Descer a Rua do Jasmim de manhã cedo, quando a Ponte parece estar a ligar os dois lados da rua e os automóveis são pontos de luz cor-de-laranja, brinquedos de um jovem e enérgico deus;
  • Discoteca Trem Azul, na Rua do Alecrim;
  • Eléctrico 28;
  • Elevador da Bica;
  • Escadinhas do Duque;
  • Esplanadas à beira-rio entre Santos e o Cais do Sodré;
  • Ginginha Sem Rival, na rua das Portas de Santo Antão;
  • Hot Club, na Praça da Alegria;
  • Instituto do Vinho do Porto, na rua S. Pedro de Alcântara;
  • Jardins da Fundação Gulbenkian;
  • Largo do Carmo;
  • Lisboa vista de Cacilhas;
  • Livraria Galileu (é em Cascais, mas é como se fosse em Lisboa);
  • Margens do Tejo entre Alcântara e Belém (na enchente);
  • Miradouro de Santa Catarina;
  • Miradouro de Santa Luzia;
  • Museu Nacional de Arte Antiga e respectivo jardim, na rua das Janelas Verdes;
  • Padaria Doce Real, no Príncipe Real;
  • Passear no Paredão, entre S. João do Estoril e Cascais;
  • Pastelaria Bénard, Chiado;
  • Pastelaria Ribeiro, em Cascais, ao almoço (é como se fosse em Lisboa);
  • Pavilhão Chinês (atenção, é preciso pedir noz moscada no Alexander, se não fazem com canela);
  • Praça das Flores, a mais bonita praça de Lisboa, a mais internacional, civilizada e lisboeta de todas as praças da cidade, sobretudo ao domingo;
  • Restaurante Armazém da Cachaça, em Santos;
  • Restaurante Bar Chapitô, na Costa do Castelo;
  • Restaurante Casa da Morna, em Alcântara;
  • Restaurante da Sociedade de Geografia de Lisboa;
  • Restaurante do Clube de Jornalistas, na Rua das Trinas;
  • Restaurante Mercatudo, na rua homónima, em Santos;
  • Restaurante Muni, rua dos Correiros;
  • Restaurante Nariz de Vinho Tinto, na Lapa;
  • Restaurante Painel de Alcântara, na rua do Arco a Alcântara;
  • Restaurante Sabores de Goa, na rua do Zaire;
  • Restaurante Soajeiro, em Santos (para quem gosta de espetadas à Madeirense);
  • Rocha do Conde de Óbidos, sempre;
  • Subir ou descer a Avenida da Liberdade;
  • Todas as ruas de alguns bairros de Lisboa, ou algumas ruas de todos os bairros de Lisboa;
  • Um chá na varanda da Confraria do Chá, na Casa da Guia, em Cascais;


(É pouco provável que não continue).


      29.1.08

      Variações III

      Reinvente o seu passado: isso permitir-lhe-á não o reviver.

      Variações II

      Todos os dias escrevia o diário, sem falhar. Mas escrevia-o com 15 anos de atraso: assim inventava um passado muito melhor do que o verdadeiro.

      Variações

      A grande vantagem da escrita é que nos permite trocar as dores de hoje pelas de ontem, muito mais suportáveis.

      Árvores

      Sim, eu sei. Há muito que quero escrever sobre aquela árvore no jardim de minha casa em Lubumbashi, mas não sei por onde começar. As plantas, a relva, as árvores cresciam a olhos vistos, literalmente. "Não é de estranhar", dizias-me: "esta alternância de calor abrasador e chuva copiosa faria crescer um tronco seco". No meio do jardim havia uma árvore enorme, à sombra de cujos ramos nos sentávamos ao fim da tarde - e por vezes, se era domingo e não havia nenhum empregado em casa, nos amávamos.

      Muito desejava eu ter uma chuva assim, e um calor, para fazer renascer o meu amor por ti. Mas não tinha, não tinha. E eu não sabia como dizer-te que já não te amava - mesmo o "já" era uma mentira generosa, nunca te tinha amado: tinha-te desejado, aos teus olhos grandes e ávidos e inseguros, tinha-te querido à noite, todas as noites naquele quarto cujo ar condicionado não funcionava e em que os nossos suores se misturavam como as nossas memórias, e os nossos desejos, e os nossos medos, debaixo da árvore, quando tomávamos tu um chá e eu um whisky com muito gelo, e muita sede.

      Não sabia como dizer-te, porque não te queria magoar, e um dia fiquei doente, lembras-te? uma crise de paludismo negligenciado deixou-me de rastos. Tu trataste-me, deste-me de beber, secaste-me o suor e fazias-me tomar os comprimidos. O paludismo é uma doença horrorosa, que te faz transpirar incontrolavelmente, e falar como transpiras, aos jorros, a tremer e a arder numa febre que te queima o corpo todo, nem os olhos consegues abrir, parece que o mundo se resume a um gigantesco incêndio e tu nada mais és do que uma chama nesse incêndio.

      Quando emergi da febre descobri que sabias, vi-te na cara, nos lábios fechados a tristeza, a resignação. Deve ter sido a separação mais difícil da minha vida, tu esperaste até teres a certeza que eu estava bem, e só depois pegaste no teu saco e voltaste para tua casa.

      Não tinha trabalho, fora desterrado para Lubumbashi para não me ouvirem. Passava os dias a andar pelas ruas largas, cobertas de árvores e de flores, esburacadas, poeirentas e lindas da cidade, e à tarde voltava para o meu jardim, beber whisky e olhar para as plantas. Nunca liguei à flora, foste tu que me ensinaste o nome de todas, eram dezenas e dezenas de espécies diferentes.

      Fui nesses dias que me apercebi que era estranho, a árvore crescia ao contrário, para baixo - havia uma parasita que lhe pendia dos ramos mais baixos, nunca me tinha apercebido que as folhas não eram iguais às outras, e se aproximava do solo, quase trinta centímetros desde a minha chegada, dois ou três meses antes. E também só depois da tua partida comecei a amar-te, mas fui evacuado logo a seguir e nunca mais te vi.

      Remodelação

      Não deixa de ser interessante ver que Portugal tem um ministro para a cultura, e não tem um para o turismo.

      Publicidade interessadíssima, outra vez.

      Os cursos de vela da Make Fast vão começar no sábado dia 9, e não dia 2. Viva a burocracia. O curso de sábado de manhã está quase cheio. E, por fim, o pagamento será feito em duas vezes (400 euros mais IVA, 5% - está bem de ver que é uma actividade desportiva. Aliás, a Make Fast deixou de organizar passeios turísticos, agora só organiza passeios desportivos. A semântica fiscal é uma área fascinante). Aceitam-se inscrições para sábado de manhã - 1 - e à tarde (os cursos efectuam-se com um mínimo de 3 inscrições). Programa à disposição.

      28.1.08

      Lisboa Interactiva

      Uma ferramenta indispensável para quem gosta de passear por Lisboa.

      27.1.08

      A ler, too

      Diferentemente de Pedro Arroja, Alberto Gonçalves é sempre muito bom. Há excepções, claro: às vezes é ainda melhor.

      A ler

      Quando é mau é péssimo, e quando é bom é muito bom. Refiro-me a Pedro Arroja. Este post pertence à segunda categoria.

      Relatório

      Os 2DJ's do C******! fizeram ontem mais uma desesperada tentativa de provar que sabem pôr discos. Conseguiram, com distinção.

      A sala do Napron estava cheia. A faixa etária da clientela, maioritariamente feminina - como era de esperar - começava nos 25 anos e terminava alguns meses mais tarde. Eram todas bonitas, todas, lindas. O ambiente respirava cultura, humor e inteligência (não é bem o que se espera de uma discoteca, mas deve ser por causa dos bloggers). A música era soberba - a ideia, explicou-me um dos talentosos DJs, era pôr as pessoas a dançar ao som da música que têm em casa. Agora, só falta esperar pela próxima - e que as pessoas não se ponham a mudar de música.

      A ASAE, inexplicavelmente e apesar da convocatória clara e explícita não apareceu, o que é pena.

      Publicidade canina

      Um amigo meu teve uma ninhada de cães... não. A cadela de um amigo meu teve uma ninhada de cães... é mais correcto, mas também não. Um amigo meu tem uma ninhada de Cães d'Água portugueses para vender (um a um, não por atacado)... sim, é mais ou menos isto: um amigo meu tem uma ninhada de Cães d'Água portugueses para vender (um a um, não por atacado). Os pais são, por surpreendente que possa parecer, Cães d'Água portugueses, puros, daqueles com certificado, pedigree e tudo.

      Não ponho aqui fotografias dos cachorros: por um lado, seria uma forma particularmente desleal de fazer publicidade, porque são absoluta, total, darwinianamente irresistíveis; por outro, seria publicidade mentirosa: daqui a uns meses crescem e transformam-se em bolas de pelo que só pensam em água.

      E que interesse tem, digam-me, uma bola de pelos que só pensa em água?

      25.1.08

      Anti-depressivo

      Conheço um anti-depressivo excelente. Chama-se "Um passeio em Lisboa": começas por atravessar o Rossio em diagonal, para chegares o mais depressa possível à Ginginha (a Sem Rival, claro. A outra só é defensável face à ASAE, esses idiotas). Depois andas devagar pelas ruas da Baixa, sobes o Chiado, perdes-te nas ruas do Príncipe Real e de S. Bento.

      Lisboa sobe e desce como um corpo adormecido ao teu lado; é um anti-depressivo. Nem todos os corpos o são.

      Diz

      Diz. É difícil dizer, não é? Diz, como se a tua vida dependesse do que dizes. São literatos, os bárbaros que te rodeiam, letrados os selvagens que te urram onomatopeias descarnadas, sílabas nuas, palavras sem sentido, irreconhecíveis. Diz. Só os cobardes sofrem em silêncio, só os medrosos se calam. Diz. Urra. Grita. Uiva. Como se disso dependesse a vida; tu.

      23.1.08

      Asaelhices

      O senhor Nunes quer, naquele modo decidido que é o dele, deitar por terra a credibilidade da ASAE. O que é pena, porque ninguém está contra a existência de um organismo de controle.

      Um amor alemão

      Ainda me lembro dela, sentada à minha frente com um cálice de Porto na mão e um sorriso irónico nos olhos. Amei-a por causa desse sorriso, e sabia que nele estava o fim do nosso amor. Digo "nosso", mas não é verdade: o amor era meu, só meu. Ela limitava-se a recebê-lo, como uma planta que recebe a luz do sol e a transforma em clorofila, sem querer. Por isso aquele sorriso lhe nascia nos olhos, primeiro, e lhe descia depois até aos lábios, longos e finos como uma linha de caminho de ferro há muito inutilizável.

      Eu amava-a, garanto, estava apaixonado por ela, quase desde que nos encontrámos, em Berlim. De dia trabalhávamos e à noite íamos jantar ao Zwiebeln, ou ao café Einstein. O Zwiebeln era pesado e escuro e kitsch - e quando voltávamos para o hotel fazíamos amor, um amor lento, leve, despreocupado como a vida em Berlim. Pouco depois comecei a ir a Düsseldorf, e trocámos o café Einstein pelo Doctor Jazz. Sentávamo-nos nas escadas e só não nos amávamos ali porque não havia espaço para nos mexermos, sequer. Ela aninhava-se contra mim como se quisesse passar-me para o lado de dentro da pele, e eu apertava-a, bonita, magra e com uns olhos azuis muito abertos, parecia que estava sempre espantada; e eu um velho gordo, careca e reaccionário que lhe dava emprego como tradutora de alemão e de vida. O Doctor Jazz estava cheio a abarrotar, e aquela mistura de música, cerveja, olhos azuis muito grandes e um sentido de humor cortante como o frio que estava na rua enchia-me de força, de certezas e de futuros.

      Uma vez fomos a uma discoteca e caí na pista de dança; ela caíu em cima de mim e expulsaram-nos aos dois, por causa daquele sorriso sardónico, exasperante, que não a largava nem quando estávamos os dois deitados no chão da pista de dança de uma discoteca em Düsseldorf e ela dizia "I am a virgin, I am a virgin".

      Um dia disse-me "I was a Jungfrau, then" e foi-se embora. Estávamos num restaurante italiano de Frankfurt. Ainda hoje me persegue, como as personagens nos romances de Heinrich Böll, que andam no sentido oposto ao do tempo, e ainda hoje estou apaixonado por ela porque as minhas paixões não se substituem umas às outras, amontoam-se como roupa no chão numa noite de amor.

      22.1.08

      Inner beauty

      Será que algum dos milhares de leitores deste blog consegue ver a beleza profunda desta imagem?



      E ainda há quem goste de ciclones... Anticiclones, meus caros, anticiclones é o nome do jogo.

      Oh! Solidão

      Estava tão sozinho, tão sozinho, tão sozinho que quando folheava uma lista telefónica sentia-se acompanhado.

      O Estado da credibilidade do Estado

      A credibilidade do Estado português está a chegar a um ponto tal que quando estou a falar com alguns dos seus representantes e eles me dizem o nome eu não acredito.

      Publicidade desinteressadíssima

      O Clube dos Jornalistas, já aqui o terei dito?, é um dos melhores (na minha humilde e subjectiva opinião) restaurantes de Lisboa. Uma das formas que a sua qualidade tem de se manifestar é nestes jantares do IWBE - os quais, manda a verdade se diga são, normalmente, muito mais baratos do que o de quinta-feira que vem.

      Ainda vão a tempo. Inscrevam-se directamente para o endereço mencionado na página. Vale a pena fazer uma hora extraordinária, ou duas (ou mesmo 50, nalguns casos que eu conheço).

      Inscrições e informações aqui.

      21.1.08

      Ter razão sozinho

      Independentemente de se estar ou não de acordo com elas, há uma razão para se ter em conta a opinião das pessoas que têm pontos de vista divergentes dos da maioria: alguém que defende uma hipótese que vai contra a opinião dominante - e quantas vezes dogmática - deve saber realmente do assunto (para além de ter coragem, claro, ou ser inconsciente ou, pior ainda, insensível às facilidades e às benesses que os frequentemente ovinos seios maioritários fornecem).

      20.1.08

      IVA

      Não estou muito de acordo com esta coisa de se baixar o IVA para o ginásio e não se baixar para as actividades náuticas. Afinal, 2 horas no mar são muito melhores para o corpo e a mente que duas horas num ginásio - isto é um dado objectivo, quantificável, confirmado por toda a gente, mesmo por quem nunca navegou.

      E já agora acho que se devia baixar o IVA nas bicicletas também, sobretudo as de corrida - e nas de cidade, pensando bem. E nos patins, nos halteres, nas sapatilhas. E nos automóveis que nos levam para os ginásios ou para os centros comerciais comprar essas coisas tão boas. E nos CDs que ouvimos enquanto fazemos exercício.

      E em muitas outras coisas - quase tudo, ao fim e ao cabo. Por que raio de carga de água é que só baixou o IVA para os ginásios?

      19.1.08

      Definições, too

      "Explicação" e "justificação": dois termos que em Portugal andam permanentemente misturados. Na verdade, tudo se explica; mas nem tudo tem justificação.

      Pérolas da sabedoria de bairro

      Hoje de manhã dois toxicómanos conversam com as senhoras da padaria. "Eu não faço a barba", explica um, o mais atlético dos dois. "Quando vou para a rua pedir com a barba por fazer, faço 60 ou 70 euros; se me barbear, não faço mais do que 20 ou 30" (suponho que o mesmo se passa noutras profissões, mas com valores diferentes, claro).

      Pouco depois o tema é o casamento. "Casar? Eu? nem pensar! Só com uma mulher que conheça muito bem [aí está uma coisa que acho discutível, mas passemos]. Antigamente um homem casava-se para a vida. Agora é para o divórcio", diz o outro, mais intelectual.

      Definições

      Experiência deve ser aquilo que nos permite dizer "Já estive aqui" - e acrescentar "e sobrevivi".

      18.1.08

      Publicidade interessadíssima


      1. INTRODUÇÃO
      2. SEGURANÇA
      3. O VENTO E AS VELAS
      4. O MAR E O CASCO
      5. MANOBRAS VELA / MOTOR
      6. NAVEGAÇÃO
      7. NOÇÕES BÁSICAS DE METEOROLOGIA
      8. PRIMEIROS SOCORROS / NOÇÕES BÁSICAS DE SAÚDE A BORDO
      9. NOÇÕES BÁSICAS DE MECÂNICA E ELECTRICIDADE
      10. NAVEGAR COM MAU TEMPO
      11. A VIDA A BORDO - PREPARAÇÃO DE UMA TRAVESSIA

      Os cursos vão começar a 2 de Fevereiro e terão a duração de 10 semanas. Cada aula durará meio dia e terá 5 alunos. O preço é de 400 euros (mais IVA). Serão abordados, mais ou menos aprofundadamente, os pontos acima mencionados.

      Estes cursos não habilitarão a nenhuma carta, porque vai haver mudanças nas cartas - no sentido da simplificação e racionalização - e não nos parece correcto facturar agora preços a nosso ver demasiado elevados (uma carta de Marinheiro / Patrão Local custa entre 600 e 650 euros) por uma coisa que em breve será caduca. Contudo, os alunos que quiserem, quando o novo regime estiver implementado tirar as cartas com a Make Fast terão um preço especial.

      As aulas práticas serão dadas num Dufour 325 de 2007, e as teóricas (3 x 1 hora) em Santos.

      Informações mais pormenorizadas por e-mail: Lserpa@make-fast.com.

      O começo do dia

      Começo por começar o dia, luminoso e fresco como tu. Em breve aquecerá; e o nevoeiro dissipar-se-á.

      17.1.08

      West Coast

      Fala-se muito na campanha West Coast. Eu gosto dela: primeiro, porque é inequivocamente verdade: Portugal é a costa oeste da Europa; em segundo lugar, porque temos coisas em comum com a outra West Coast, a dos outros, coitados: o clima, por exemplo, ou a ponte; e o Tejo, que só cheira a esgoto quando a maré está a vazar (isto é, treze horas e meia em cada vinte e sete horas), e é, como a injustamente muito mais famosa Baía de S. Francisco, por exemplo, um sítio aprazível, com uma frota de barcos, marinas e portos de recreio de fazer inveja ao mais chauvinista dos calafonas.

      Há, contudo, que ter algumas precauções: como é do conhecimento comum os americanos - os californianos particularmente - não passam de uns mentecaptos incultos e selvagens e os europeus - particularmente os portugueses - são pessoas civilizadas, cheias de história, cultivadas e sensíveis. Além disso, a qualidade dos nossos activos é bastante superior: eles têm Silicon Valley e nós o Bairro das Marianas, ali no oeste da Oeste Coast; eles têm capital de risco e investidores, e nós temos o BCP; eles têm música péssima, e nós o Quim Barreiros; eles o Jay Leno, e nós o Santana Lopes; eles têm Stanford e nós a Universidade Moderna - a superioridade da Europa pujante, estimulante e revigorante é clara e exige cuidado nas comparações.

      Diálogos possíveis

      - Ele tem muito dinheiro, sabes?
      - Sim, sobretudo durante os saldos.

      14.1.08

      Claustro do Mosteiro da Batalha


      Re-post, suponho.

      Escolhas

      Se puder escolher, prefiro lidar com a má-fé a lidar com a incompetência.

      Ofertas

      O tempo é traiçoeiro. Quem dá muito tempo ao tempo arrisca-se a dele ficar refém, para sempre.

      "Uma vitoriazinha"

      A ler, aqui.

      13.1.08

      Montanha Russa, Genève, 2000


      Lago Léman


      Para terminar a série


      A nossa marca na muralha da Marina da Horta.

      S/Y "AQUARELLE"



      S/Y "AQUARELLE"


      O salão do Aquarelle era confortável.

      Entre S. Miguel e a Terceira

      S/Y "AQUARELLE"


      Ao largo de S. Jorge, num dia sem vento.

      A propósito das aulas de vela...

      ...ficam algumas fotografias do S/Y "AQUARELLE", o barco mais feio e mais lento no qual me foi dado navegar.




      Na Horta.

      (As fotografias são de uma das tripulantes)

      Publicidade interessadíssima

      A Make Fast, empresa da qual o subscritor destas linhas é o solitário e perseverante proprietário, vai começar a dar aulas de vela. Ainda não há informações muito concretas sobre datas de começo: estamos à espera de juntar a papelada que a nossa entidade favorita (o IPTM, para não o nomear, que ganha à ASAE pela antiguidade - como sabem todos os que andaram na Marinha, a antiguidade é um posto - e porque tem um impacto muito maior na nossa vida quotidiana) exige.

      Os preços serão os do mercado. O que será diferente é a abordagem: mais do que obter cartas (que também fará) a nossa escola vai tentar transmitir um bocadinho daquilo que me faz gostar do mar: sentir e viver uma, e numa, embarcação de vela; uma abordagem simultaneamente técnica - é preciso saber para sentir - e intuitiva - é preciso sentir para aprender.

      Todas as manifestações de interesse são bem-vindas. Prevemos um começo em inícios de Fevereiro. As aulas práticas serão dadas por mim, as teóricas pelo armador da embarcação (um Dufour 325).

      12.1.08

      Lisboa, amar, mar

      Percorrer-te como percorro Lisboa, cada colina passo a passo, dedo a dedo, milímetro a milímetro; esperar por ti como espero pelo vento num dia de calmaria, ou pela calma num dia de tempestade; fazer em ti os dias de calma, e os de tempestade, contigo; olhar-te e ver nos teus olhos o raio verde e nos teus cabelos negros o fim de um quarto de noite, no teu sorriso o nascer do sol.



      Fotografia gentilmente cedida por Nocturno


      Olho-te e vejo-te, Lisboa e mar: navegar-te, percorrer-te, tocar-te, fender-te. És um mar, amor, és uma vida, uma rua de Lisboa, as ruas todas, os telhados, a luz, és o vento nas vagas. Amar-te, percorrer-te, navegar-te, fazer de um suspiro teu o meu vento, da tua pele um mundo, de ti a vida.

      Pessimismo antropológico

      Por quem nos apaixonamos? Por pessoas que não conhecemos bem: se as conhecêssemos, não nos apaixonaríamos, certamente.

      Entretanto, numa televisão perto de si...

      ... duas dúzias de criaturas agitam-se como espermatozóides com pernas.

      Fotografia

      Uma lindíssima fotografia de Lisboa, aqui.

      A ASAE soma e segue

      1 - Novo passo em direcção à loucura total e absoluta

      2 - A ASAE confiscou produtos genuínos na Cartier do Chiado*: A rábula continua

      Será que isto é uma manobra com o objectivo de chamar a atenção para a calamitosa qualidade das nossas leis? Se sim, eles não podiam fazer a coisa por um bocadinho menos? Sem chegar ao ridículo, por exemplo?

      Batalhas

      Nas lutas entre o super-ego e o inconsciente nem sempre é este que ganha. A isso chama-se "vida", ou "civilização".

      Jantar

      Vim jantar ao Paladar. Lembras-te? É aquele restaurante nas Escadinhas do Duque, todo preto. Não me lembro do que comemos - lembro-me apenas de uma cena de pancadaria que ocorreu lá fora enquanto comíamos, e de nós a tentar proteger dela a tua filha. Ter-se-á apercebido? Não sei. As crianças têm olhos e dúvidas onde nós só temos pele e certezas.

      Hoje o restaurante está quase vazio; "mas já é tarde", penso. Não é a verdade toda: ali em baixo o Café de Buenos Aires está cheio a abarrotar, tão cheio que resolvi não entrar, não haveria lugar para mim e para o saco de bagagem emocional que carrego para onde quer que vá, sobretudo se for para sítios por onde andei contigo.

      O restaurante não tem uma única meia-garrafa de vinho. Fico-me pelos copos, um de branco para a entrada, um de tinto para a carne. Ao fim de pouco tempo habituamo-nos à pouca luz, ao preto das paredes, ao amadorismo do serviço. Como será, o jantar? Como serão, os dias que aí vêm, agora que te foste embora?

      Hoje andei muito, e quando ando muito penso em ti; também penso em ti quando não ando, quando estou deitado, ou a cozinhar, ou a ouvir música. Penso frequentemente em ti, na realidade, e em mim e em nós também.

      Como será, o jantar? A lista nem é má, com excepção da dos vinhos, que é péssima. Neste maldito país de não-ditos, a tua franqueza era bendita. Não gosto muito do serviço, mas se calhar é por causa da hora, e de a jovem e sorridente empregada ser muito bonita e não parar de falar com o jovem e sorridente empregado. Ou porque tu não estás aqui, e o meu silêncio está vazio, parece uma grande sala sem um único móvel. Ou, mais prosaicamente, porque é tarde e estou com fome.

      II

      O jantar foi bom: magret de pato com puré de ervilhas e menta. Um pouco de menta a mais, para meu gosto, mas o pato estava excelente, cozido no ponto certo. O serviço é de um amadorismo total, o menu de um amadorismo iluminado, a música muito boa e a tua ausência dolorosa, quase dolorosa.

      11.1.08

      Aeroportos e desvarios

      O primeiro passo foi dado. Agora falta o segundo: Portela + 1. Mas é melhor esperar sentado.

      É fantástico que num país que acabou de gastar uma pipa de massa em estádios de futebol completamente inúteis ninguém reclame contra mais este desperdício (e outros, como o TGV, por exemplo).

      Hoje estive a conversar com um lojista de Cascais, sobre o Campeonato do Mundo de Vela. Disse-me que foi o seu pior período de vendas no verão. Não é o único, claro. Era óbvio e só será uma surpresa para quem quiser ser surpreendido. Claro que alguns sectores, como os supermercados - sobretudo o Pão de Açúcar - e tudo o que tenha a ver com alojamento - sobretudo os baratos - ganharam. Mas o impacto económico directo foi bastante inferior àquilo que o Governo e a Câmara diziam que seria - e, mais uma vez, ninguém reclama. Perguntei-lhe se ele tinha dito qualquer coisa à Câmara. "Não".

      8.1.08

      É bom saber...

      ...que nem tudo é complicado no nosso país: "Liquidação: bens da Air Luxor desapareceram «simplesmente»".

      "E FIQUE SABENDO O NUNES...

      ...QUE SE TODOS FÔSSEM COMO EU, HAVERIA TAES MUNIÇÕES DE MANGUITOS QUE LEVARIAM DOIS SÉCULOS A GASTAR. "

      A versão completa e actualizada está aqui.

      (Via Atlântico).

      O tempo e o olhar

      Quem olha para hoje e vê ontem é conservador; quem olha para hoje e vê amanhã é visionário.

      Se ganhar. Perdendo não passa de um idiota.

      Provérbios

      Enquanto há esperança há vida.

      Os impostos e o avanço do país

      "Pedir facturas faz", aparentemente, "o país avançar". Eu acredito que pagar impostos - dos quais uma grande parte vai servir para pagar salários a funcionários que depois passam os dias a criar dificuldades às empresas - faz o país avançar. Não percebo é como.

      E isto, claro, para não mencionar as empresas que os ditos funcionários criam para resolver as dificuldades que eles próprios inventam (e ainda dizem que em Portugal não há empreendedores).

      E para não mencionar o regabofe de regalias que por aí vai, e do qual só agora se começa a falar (porquê, Deus meu, porquê só agora, porque esperámos tanto tempo para estas coisas começarem a ser resolvidas?)

      6.1.08

      Conselhos financeiros

      Encontrei recentemente um amigo no Rossio. Acabámos, ine-vitavelmente, a falar de dinheiro. "Quando temos massa", explicou-me, "a melhor coisa a fazer é gastá-la o mais depressa possível. Porque se não formos nós a gastá-la, ela gasta-se sozinha". Um argumento a ponderar, sem dúvida; mas não um exemplo a seguir.

      VPV

      É um bocadinho tarde, mas gostaria de chamar a atenção para esta crónica de VPV. Mostra até que ponto se confunde, cada vez mais, a tolerância com o relativismo e tudo escorrega para o dogmatismo. É imprescindível. Aqui e aqui.

      Uma história simples

      Conheceram-se e, durante meses, trocaram banalidades. De-pois casaram-se, tiveram dois filhos, compraram um carro e um apartamento, separaram-se.

      Julgam que pararam com as banalidades? Não.

      5.1.08

      Serviço Público - Bares Lisboa

      No Bar Procópio bebi um Alexander que faz dele, bar, o equivalente lisboeta da falecida Casa do Largo em Cascais: o melhor bar do mundo, salvas as devidas proporções.

      Procópio, Alto de S. Francisco, 21-A
      (Jardim das Amoreiras)
      213 852 851
      Lisboa

      Sensatez versus o resto

      Eu sei: se fosse sensato não falaria nisto. Mas não sou: a sensatez perde sempre contra a generosidade, em mim. Aliás, a sensatez perde sempre, qualquer que seja o adversário.

      Dor

      Há momentos assim, em que a dor se torna espessa, visível, como um mar de lama, pesada como uma pedra da calçada no esófago, consistente, monolítica, de granito rugoso, ou basalto.

      Felizmente, esses momentos são como o tempo: passam, e poucos traços deixam: na memória, a dor esbate-se como cores num dia de nevoeiro. Tudo passa, com o tempo: esteira de um barco num dia calmo, de pouco vento...

      2.1.08

      Diálogos possíveis

      - As palavras não passam de móveis da solidão.
      - Estás enganado. São os móveis da esperança.

      Serviço Público - Restaurantes Paris

      Este devo-o ao meu amigo Brice, grand expert de ces choses et d'autres. O restaurante A La Biche au Bois é na avenida Ledru-Rollin n° 45, 75012 Paris. Fica mesmo ao lado da Gare de Lyon, muito prático para quem vai para, ou vem de Genève.

      É um excelente restaurante, daqueles que nos fazem amar ainda mais a França, depois da eleição do namorado da Bruni.

      1.1.08

      Serviço Público - Restaurantes Genève

      Chez Marius - um pequeno e excelente Bar à Vins que também serve refeições, com uma lista pequena mas magnífica.
      9, place des Augustins - 022 320 6239

      Le Thé - mais um restaurante que o é sem o ser: é uma casa de chá onde ao meio dia se pode petiscar chinês. Minúscula, também, e excelente, também - tanto a casa de chá, com uma variedade de chás de fazer empalidecer o mais chinês dos clientes, como a cozinha. E ainda vendem acessórios: chaleiras, chávenas, etc.
      65 rue des Bains - 022 329 0616

      La Gazelle d'Or - Já lá não vou há muito tempo. Na altura, um dos melhores etíopes da cidade.
      55, rue de Lyon - 022 340 3350

      Café-Restaurant du Lac, Nernier (em França, perto de Genève). Nernier é uma aldeiazinha à beira do lago, muito bonita, que vale a pena ir visitar.
      +33 4 50 72 80 52 (telefonando da Suiça)

      Um jantar improvisado (guisado)

      O ponto de partida é sempre o mesmo: o que é que há no frigorífico, e na mercearia do eritreiano da esquina? A resposta também não muda: quase nada.

      Comecei por fazer um refogado de cebola, cenoura e alho-porro (e um bocadinho de alho, no fim), um refogado lento porque gosto da cozinha preguiçosa. Num wok passei, em lume forte, os bocados de carne cortados em bocados grandes. Essa carne tinha, verdade seja dita, marinado um par de horas em vinho tinto e rosmaninho, um bocadinho de louro e alho (e no fim do wok sofreu, coitada, um flambée vigoroso, de cognac). O suco da carne ia sendo retirado regularmente e ia para a marinada.

      Quando os legumes estavam dourados juntei-lhes a carne e duas latas de tomate pequenas, dei uma forte achega de calor e polvilhei com pimenta, paprika e tomilho. Uma vez isto tudo reduzido, espesso, adicionei a marinada, reduzi o lume e esperei cerca de duas horas, talvez um bocadinho mais (de passagem ainda pus dois cubos de caldo de legumes).

      Não houve queixas, nem mesmo de dois adolescentes alimentados a McDo desde a mais tenra infância.

      Serviço Público - Restaurantes Genève

      O Restaurante Bar Tcherga, que teve a gentileza de me acolher durante uma solitária, mas agradável, passagem de ano é um sítio alegre que deve ser visitado.

      Fica numa cave, a decoração é cigana "heavy", a música ao vivo cigana, ou, mais exactamente, "dos balcãs, dos países de leste", explica a patroa, uma senhora sérvia e jovial. Na pista dançam, como de costume, as senhoras (das quais em grande quantidade) - digo na pista, mas também dançam nas cadeiras. Os homens ficam sentados, ao princípio; depois lá se dignam juntar-se a elas. A aguardente de ameixa -"Schlivovitza"- é boa e não faz dores de cabeça, pelo menos nas reduzidas doses em que a provei. O serviço é simpático - compensam com simpatia a incompreensão total de francês e o sofrível inglês.

      A clientela, escusado será dizer, é exclusivamente da antiga Jugoslávia.