Um dos grandes prazeres da vela é a chegada a um porto. É completamente diferente chegar a uma cidade de carro, de avião ou de comboio do que chegar de barco. Não consigo definir com exactidão porquê. Talvez seja porque, de barco, vimos de um outro mundo, num outro mundo. A própria terra encarrega-se de no-lo lembrar: talvez seja para isso que serve aquilo a que os franceses chamam "le mal de terre": o ligeiro enjôo que se sente em terra após uma travessia de alguns dias.
Outro prazer da vela, grande, é encontrar o ponto para o qual nos dirigíamos sem ter que andar às voltas à procura dele, ou aterrar exactamente no ponto pretendido: prazer esse um pouco atenuado pelo GPS, mas que apesar de tudo se mantém. Depois de dias e dias num meio em que tudo parece igual, chegar a um ponto específico, determinado, é uma alegria, sobretudo quando se navegava sem ajudas electrónicas: sextante e aquilo a que os ingleses dão o nome, assustador e evocativo, de dead reckoning e nós chamamos, mais suavemente, "navegação estimada" ("navegação querida", ironizávamos então).
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.