Um dia, acordou num avião a caminho de Milão. Tinha saído de uma discoteca em Cascais (isto passa-se no tempo em que Cascais ainda tinha discotecas) e, em vez de dizer ao táxi para o levar a casa, dera-lhe o aeroporto como destino. Lá, perguntara para onde ia o primeiro avião. Milão, respondeu-lhe a funcionária do balcão, um pouco dubitativa. Comprou um bilhete, ainda a cheirar a fumo, a whisky, a solidão.
Quando acordou lembrou-se, vagamente, que M. H., uma paixão antiga e inextinguível (ainda hoje, vinte e cinco anos depois), estava em Itália. Estaria? Quando saíu do aeroporto, foi direito à Embaixada do Brasil (era brasileira, e o pai diplomata) onde se recusaram terminantemente, claro, a dizer-lhe o que quer que fosse sobre o paradeiro dela (o Aldo Moro ainda estava vivo, mas por pouco tempo mais). Fez um deal: a senhora do guichet telefonava ao pai a dizer que ele estava ali à procura da filha. Se o senhor aceitasse, dizia-lhe, se não arrivederci. Funcionou: meia hora depois estava a ser recebido pelo senhor Cônsul como se fosse a pessoa que faltava, naquele preciso instante, para que o universo dele se recompusesse.
Não via a M. H. havia quase dois anos. Tínham-se separado no Rio, não zangados mas tristes, que é a sina de todas as paixões. Passaram alguns dias em Milão, Bologna, Florença. Depois foram alguns dias para Veneza.
Nunca mais a viu. Hoje correspondem-se por e-mail, e gostariam de se amar outra vez, ambos.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.