Hannah era feliz. "Tenho um marido inteligente e um amante idiota; - como deve ser: o contrário seria uma pena. Tenho um trabalho de que gosto, uma casa bonita, e vivo num país que não sabe bem o que é o anti-semitismo" (ou pelo menos não sabia, ao tempo desta história). Dava aulas de história judaica numa universidade não muito longe de casa deles, o que lhe permitia ir a pé para o trabalho, e vir a pé para o adultério.
Desculpava as notas horrorosas - e merecidas - de Daniel com a "exigência extraordinária" que a situação deles exigia. Daniel acreditava, e agradecia-lhe. Isso dispensava-o de se esforçar - por muito que trabalhasse nunca passaria de medíocre, pensava. Não sabia que Hannah era obcecada pela justiça, e que se tivesse de lhe dar boas classificações não teria aquela relação.
Hannah apreciava: o rapaz era um verdadeiro pau mandado; bastava olhar para ele para que o pau se pusesse em movimento. Era burro, e a admiração sem limites que sentia pela professora chegava para o calar. "Que sorte", pensava ela, "um marido com quem posso falar, e um amante que não sabe senão calar-se".
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.