"Comecei a fugir para dentro. É cada vez mais difícil não fugir para dentro", dizia, citando Nuno Júdice. Por isso se deitava todos os dias às "portas do crepúsculo": ele era a noite, o que não era visível, o que não tem côr nem forma. De dia, o movimento das coisas inquietava-o: não sabia para onde iam. "Talvez para Amsterdão". Quem iria para Amsterdão? Ele não: não conseguia esquecer a jovem que uma vez lhe dera boleia na bicicleta, ele sentado no quadro, dez vezes mais pesado que ela. Não conseguia esquecer as águas negras dos canais, como as paredes do "Blues Café".
Não conseguia esquecer nem uma palavra que dissera ou ouvira, nem uma paisagem, nem uma cara, ou pele: transformara-se num imenso Aleph, numa paráfrase sobre pernas.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.