Num recente debate off-blog com uma pessoa de quem aprecio o blog, o humor, a capacidade de análise e a criatividade, mas de quem discordo sobre pontos menores como a França e a luta contra a globalização, escrevi: "... e não consigo impedir-me de pensar por vezes que a “alterglobalização” é um mecanismo inventado pelo Ocidente para manter os outros países na situação em que estão...".
Não tive resposta. Penso que foi o fim do debate. É pena. Não sei calar o provocador que há em mim - mas desta vez nem me pareceu muito provocatório. Afinal de contas, quem verdadeiramente ganha com a "antiglobalização" (apellons un chat un chat) são os agricultores ocidentais, os proprietários de pequenas empresas locais que se baseiam em trabalho barato - mesmo em termos relativos - toda uma série de classes profissionais que vive de um estado providência que mais tarde ou mais cedo acabará (pelo menos na sua forma actual); não é, claro, essa gente que se manifesta, parte vidros, diz mentiras de bradar aos céus e ignora soberanamente o que pensam os naturais dos países que pretendem "defender" - mas por agora isso é irrelevante.
A ideia não é reacender o debate. É lembrar um aforismo do qual, infelizmente, não recordo o autor, mas que dia a dia me parece mais verdadeiro: "On n'avance pas vers la lucidité. On change de dogme, c'est tout".
Relevante seria discutir os novos dogmas: a ecologia; a anti-globalização (versão actual do anti-capitalismo, só que ainda, se tal é possível, mais indigente do ponto de vista intelectual); o relativismo, com o corolário pernicioso de "a democracia é boa para o ocidente, mas talvez não seja a forma ideal para África".
Mas não se pode, por definição, discutir a doxa. Resta-nos a tolerância. "Sou tolerante, não sou relativista".
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