13.6.04

Vazio

Uma pessoa senta-se à frente do computador; descobre que não tem nada para dizer, por muita que seja a vontade de dizer qualquer coisa. "As sinapses, meu caro, estão gastas, diluídas, erodidas".

Essa pessoa vai para casa. Ouve os Cânticos da Liturgia Eslava, pelos Monges da Abadia de Chevetogne, ouve os Cânticos do Êxtase, ouve a Música para a Corte do Rei Janus; lê o autor do momento, le Clézio; bebe mais um whisky, ou vodka, que é o sabor do mês; e pensa. "Faltas-me tu, e só tu me faltas agora."

Pensa: ou seja, as sinapses não estão assim tão gastas, os neuro-transmissores funcionam. "Tudo funciona, menos eu", conclui, acertadamente. "Faltas-me tu. Sem ti não sou eu, sem ti não sou completo, sem ti não sou."

Talvez seja mais bonito do que verdade, ou mais verdade do que bonito: resta saber se fala à música, ao whisky, à vodka, à mulher com quem sonha, à mulher que ama, à mulher que gostaria de amar, à mulher por quem gostaria de ser amado, à mulher por quem quer ser amado.

A pessoa senta-se à frente do computador. Apercebe-se, uma vez mais, que não tem nada para dizer.

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