30.6.04

Vichyssoise

Aqueles que me conhecem sabem que um dos meus amores de estimação são os bancos portugueses. Tenho por eles uma admiração sem limites, um amor - como dizer - indescritível (apesar de a expressão "banco português" ser aquilo a que os lógicos chamam uma "contradictio in terminis"). Ontem li no jornal uma notícia que me entristeceu de verdade. Dizia ela que uma grande empresa portuguesa tinha transferido a sua dívida para a banca espanhola.

Como conheço bem a dita empresa, não resisto a contar isto (tão pouco resisto a uma rima, sobretudo quando vem de cima):
Há uns meses, a dita grande empresa portuguesa recebeu, na mesma semana, dois ou três telefonemas de outros tantos bancos a anunciar que as linhas de crédito abertas em seu favor iam ser fechadas; em breve uma confirmação escrita seguiria, mas enfim, que se fossem preparando. (O facto de terem sido dois ou três bancos na mesma semana não implica, longe vá o agoiro, que os bancos estivessem a agir de concerto. Qué vaya, hombre, tan mala idea).

Poucos dias - sublinho, dias - depois deste anúncio, fomos informados pelos jornais que a dita empresa tinha sido comprado por uma - como dizer, concurrente? colega? - espanhola. E poucos dias - sublinho outra vez, dias - depois, os mesmos bancos telefonaram à mesma pessoa (não estou, vade retro Satanás, a dizer que os bancos estão combinados) dentro da mesma empresa para anunciar que não, afinal as linhas de crédito continuavam abertas.

E ontem ficámos todos a saber que a empresa colocou toda a sua dívida (setenta milhões de euros) em Espanha. A vichiyssoise, tal como o gaspacho e outras coisas, é uma sopa que só sabe bem fria.


PS - Assumindo uma taxa de juros de 2,5 - 3%, isto significa que os bancos portugueses perderam à volta de dois milhões de euros. Metade do bónus anual de qualquer um dos administradores, é claro. Mas sempre é uma vitória moral.

PS 2 - Um desses bancos é dirigido por um senhor que insiste muito na manutenção em Portugal dos centros de decisão. É como ver o Sampaio a exigir rigor ao próximo governo... deve ser para dar munições aos socialistas nas próximas eleições.

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.