Felizmente, as suas previsões não se concretizaram. O comboio não descarrilou na linha nº4 - descarrilou contudo mais tarde, já ele tinha chegado, jantado, e sentido por ela o desejo crescer. Fora esperá-lo à estação: no meio de toda aquela gente sentiu-se perdida, diluída. Muitos esperavam o mesmo comboio, muitos (ou muitas) esperavam o mesmo "ele". "Estou farta de esperar", pensou. "Tinha prometido a mim mesma que nunca mais cairia na armadilha da ausência, esse falso refúgio."
Contudo lá estava ela outra vez, à espera, na linha nº4, claro, a única que conhecia naquela estação. Quando viu o comboio entrar teve a percepção nítida que não pararia a tempo, e continuaria pela cidade dentro, tal como desejava senti-lo dentro dela.
Foram para casa preparar o jantar. Ouviram música, dançaram e fizeram o primeiro amor de pé, ao som de um “slow” qualquer. Depois deitaram-se. Mas ela não dormiu: "este comboio descarrilou", pensou, "este comboio vai descarrilar, hoje, amanhã ou depois."
Levantou-se, vestiu-se, e foi para um bar no Cais Sodré beber whiskies e tentar marinheiros bêbados. Quando chegou a casa ele já lá não estava.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.