16.4.05

Personagens possíveis

Era filha de uma puta de Singapura e de um marinheiro grego, e maricas, que um dia de passagem no porto não encontrou miúdos, nem graúdos; atazanado pelo desejo foi com uma mulher. Não deve ter sido muito desgradável, porque continuou a vê-la cada vex que passava por lá.

- Uns anos depois nasci - disse-me. - Não sei como, com o que ele gostava de sodomia... deve ter-se enganado.

Nunca lhe perguntei como é que ela sabia que o pai preferia a sodomia, e ela nunca mo disse. Conheci-a num avião, um metro e quase oitenta de mamas gregas e de olhos orientais, a inteligência mais céptica e irónica que jamais me foi dado encontrar. Iamos os dois para Genève, onde ela era intérprete.

À chegada convidei-a para jantar, e ela disse-me que tinha o namorado à espera. Convidei-o também. Ele revelou-se fraco bebedor. Depois do jantar, deixámo-lo a vomitar contra um poste de electricidade.

- Vamos para tua casa - disse-me. - Naquele estado de nada me serve.

Penélope - não é o seu nome verdadeiro, mas é assim que lhe chamarei - tinha uma visão utilitária, e egocêntrica, da vida; nunca seria capaz de dizer, por exemplo, "naquele estado de nada serve", ou "coitado, vamos levá-lo a casa". Fomos para minha casa.

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