24.6.05

Diálogos possíveis

- No caminho perdi amigos, família, consideração (a dos outros por mim, a minha por mim, a minha pelos outros), perdi...
- E acha que valeu a pena? - interrompi-o.
- Faço-me essa pergunta todos os dias, como pode imaginar. E a resposta é sempre uma, só uma: sim! (e por vezes isso assusta-me). Antigamente tinha dúvidas; mas agora basta-me pensar nos dias de sofrimento, nos dias em que não sabia como ia ter dinheiro para pagar as facturas, nos dias em que não conseguia olhar para o espelho, em que já não sabia onde ia buscar recursos para inventar mais desculpas; por vezes punha-me a chorar sem qualquer motivo aparente e dizia a quem estava comigo que tinha uma alergia nos olhos... - em que não pensava senão em baixar os braços e deixar-me ir na corrente...
- Esse longo rio tranquilo ao qual você tanto aspirava.
- Exactamente. Penso nesses dias, quando não tinha paciência para me suportar, para me ouvir respirar, em que escrever um mail era mais difícil do que subir o Everest com um saco de pedras às costas, - e comparo tudo isso com a família que deixou de me falar, os filhos que não conheço, os amigos que me repudiaram ou que eu repudiei - e acho que sim, acho que valeu a pena. E acho que sou um monstro.

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