6.7.05

Paris

Não conheço suficientemente bem Paris para dizer que este, ou aquele, canto é o meu favorito. Porém, quando estou sozinho, como hoje, e ansioso (como ontem e há vinte anos), um dos sítios onde gosto de ir é ao Canal St. Martin.

Gosto de imaginar aquele troço de água agora inútil percorrido por barcaças, puxadas por cavalos; e imagino os inúmeros cafés de hoje com os cheiros, e as roupas, e os barulhos de antigamente.

Quem, pela primeira vez, me mostrou o canal foi uma amiga marinière, termo feio e enganador que designa os marinheiros da navegação fluvial. Ela amava perdidamente o Sena, e rir, e com ela partilhei algumas noites e muitos risos, e percorri as margens do Sena e este canal, cicatriz mal fechada de um passado que, em Paris, está tão próximo, sempre.

Gosto de Paris, é verdade, gosto das memórias que de lá trago, das pessoas que conheci, dos momentos, e sonhos, que lá vivi. Mas não consigo impedir-me de pensar que Paris é uma cidade irremediavelmente condenada a olhar para trás, incapaz de pôr, no Canal de St. Martin, outra coisa que não o tempo que foi, e não o que será. Ao contrário de Londres, onde o futuro nos salta aos olhos de onde quer que olhemos, dos sítios mais inesperados, dos monumentos mais antigos. Talvez seja essa a grande diferença: em Londres vê-se o futuro, em Paris lembramo-nos do passado.

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