A vontade é sempre a mesma: pedir-te para não falares, não falarmos; deixemos os nossos olhares, os nossos tactos, os nossos olfactos, e paladares, falar por nós. Afinal é para isso que aqui estamos, nesta cama barulhenta, nesta noite inquieta, nesta catadupa de respostas sem questões, de perguntas sem respostas.
Perguntas-me, por exemplo, porque gosto de ti. Posso ser honesto, e dizer-te que não gosto de ti; ou ser honesto, ainda, e dizer-te que não sei; ou ser desonesto e mencionar a tua inteligência, os teus olhos, os teus seios, o teu ventre, que sei eu?
Não sei nada: e não gosto de falar do que não sei. Não falemos, portanto. Não digas nada, não me olhes com esses olhos inundados de desejo e de prazer e de dúvida, não me toques com esses dedos ávidos, não chames por mim como se num abismo caísses. Não faças nada. "Lie still", lembras-te?
Deita-te quieta a meu lado, não deixes sequer o teu desejo aflorar-me a pele, não me fales de sede, não me fales do vento que nos percorre as peles, não me fales de nós, de ti, de mim. Não me faças amor, não me peças para to fazer: não deixes que tudo o que no teu corpo não fôr a ponta dos seios me toque, ou os joelhos, ou a pele do ventre.
Deixa, simplesmente, que o Santo Corpo desça em nós, e a nossa epifania se faça em nós, apesar de nós.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.