23.3.06

Meteorologia genebrina

Hoje houve sol, pela primeira vez em meia dúzia de dias. Durou pouco: o cinzento - ou melhor, os cinzentos - destes últimos dias voltaram. Houve-os de todas as gradações possíveis, do quase branco ao quase preto. Podia ser belo - mas hoje é apenas deprimente.

Esta cidade fascina-me: como é que um sítio com tantos ingredientes tão bons - o sistema político (para mim o melhor do mundo), a quantidade de mulheres bonitas (Genève deve ser uma das raras cidades do mundo em que o ratio mulheres feias / mulheres bonitas é inferior a 1), a organização, a oferta cultural, as lojas de discos e as livrarias que esta tem, os mercados, consegue ser tão invivável? Não é só o clima: é esta impressão de que nada se move (e pur si muove), este aspecto refastelado, esta ausência de sensualidade (das ruas, dos prédios, dos cafés, dos bares), esta impressão que tudo, e não só o céu, é cinzento...

Há, porém, momentos fantásticos - e um deles deve estar quase a chegar: é o primeiro dia de calor, o primeiro dia em que as raparigas saiem para a rua "nuas", sem as roupas de inverno, e de repente apercebemo-nos que o frio acabou, ou está quase para acabar. As esplanadas enchem-se, as caras sorriem, tudo se torna mais leve, mais claro, parece uma sala à qual se limpou o pó de anos. Hoje foi quase esse dia, quase. No domingo a temperatura vai subir bastante, mas não estarei cá e estará a chover, de qualquer forma.

No Outono acontece o contrário: as raparigas vestem-se e as janelas fecham-se, na cozinha os guizados, os ragoûts e os tintos pesados substituem as saladas e os brancos alegres, e tudo o que durante alguns meses cintilou volta ao normal, cinzento. É como se a luz, a festa, os sentidos, fossem uma interrupção, uma aberração.

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