Dela, tenho uma uma forma muito fragmentada, incompleta: lembro-me de um seio, de um pedaço de coxa, do sorriso permanentemente irónico.
Lembro-me do dia em que chegou a casa com um "Tratado da Felação": queria, explicou-me, "ser capaz de contextualizar". E lembro-me do dia em que se foi embora, parecia a Mary Poppins: disse-me adeus sem sequer se voltar para trás e apanhou a camioneta para o Algarve. Levava o livro debaixo do braço.
Às vezes imagino-a muito bonita, alta, esguia, loira e de olhos azuis. E leve, muito leve: tinha tanto de leve como eu de pesado; outras, parece-me baixinha, encorpada, morena, viva. Só os seios não mudam - ou melhor, o seio, aquele de que me lembro. Grande, redondo, firme como um dia de vento e com o mamilo voltado para dentro. Apercebi-me que o nosso amor chegava ao fim quando deixei de ser capaz de o fazer sair: por mais voltas que lhe desse, por mais que fizesse, ele continuava voltado para dentro, como a cratera de um vulcão extinto.
A verdade, a verdadeira verdade, a verdade irrefutável, escorreita e límpida e inexpugável é que ainda gosto dela. E que nunca mais encontrei quem me fizesse uma simples felação bem feita, quanto mais uma "contextualizada".
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.