23.9.06

Todos os dias

Todos os dias ia de casa para o escritório, a pé, duffle coat abotoado até acima, la banque à gauche et l’eau à droite. Todos os dias voltava do escritório para casa, duffle coat abotoado até acima, la banque à droite et l’eau à gauche. Todos os dias. No inverno era noite e no verão o rio reflectia o sol nascente à ida, poente à vinda. Todos os dias.

À noite voltava para casa, mas tu não estavas lá. Estavas ao telefone, ou doente, ou cansada, ou cheia de trabalho, todos os dias.

L’air était vif et sec et tonique, le matin; à tarde tudo estava cansado, o ar, o relógio da torre no meio do rio, a água, a minha imagem reflectida pelos vidros do banco, decorado com maquettes de navios, antigos e modernos, muitas, todas elas bonitas, mas cansadas, também, à tarde. Todos os dias chegava ao escritório, e todos os dias chegava a casa. Não me lembro das crianças, nessa altura. Já eram duas, mas não me lembro se me viam partir de casa, duffle coat abotoado até acima, ou voltar, todos os dias.

Lembro-me de ti ao telefone, ou doente, ou cansada, ou cheia de trabalho. E lembro-me do meu duffle coat com botões de osso, abotoados até acima, reflectido nos vidros do banco. Nunca me vi no rio, mas era lá que queria estar, todos os dias. Até hoje.

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