30.1.07

OTÁrios

Há assuntos muio mais prementes e importantes para o país do que a questão do aborto. Por exemplo, a OTA, o TGV, as reformas de que só se vêem sombras (ou os primeiros, e minúsculos, passos, vá lá), a educação, a justiça. Sou a favor dos referendos e da democracia directa porque os referendos tiram poder aos políticos, e tudo o que tire poder aos políticos é bom. Se fosse mau, a Suiça, que é um país pequeno, com dois terços do território inabitável, sem uma língua comum, seria um país pobre como foi até ao século XIX. Não o é porque os suiços votam os seus próprios impostos, votam onde e como o dinheiro é gasto, votam o que fazer com o dinheiro que sobra, quando sobra, votam tudo e mais alguma coisa. A Suiça é o país que é porque as pessoas votam, não apesar de as pessoas votarem. Tem inconvenientes? Tem, claro. Mas as vantagens superam-nos, largamente.

A OTA é uma asneira grave e custosa; e vai levar o Governo - os Governos, porque em breve a coisa será irreversível, e quem vai ficar com o bebé (esta é contextual) nos braços não é este governo - para a justificar, ou financiar, ou seja lá o que fôr, a fazer ainda mais asneiras.

Este post de Gabriel Silva no Blasfémias fala de uma delas:


"O modelo definido pelo governo de privatização da ANA e simultânea concessão do aeroporto da OTA tem tudo para ser um sério entrave à oferta de mais, melhores e mais baratos serviços aos clientes.
Evidentemente, os futuros novos proprietários pretenderão rapidamente rentabilizar a OTA mediante uma aposta no investimento, serviços e taxas competitivas, desvio interno de clientes e de rotas em detrimento da qualidade e competitividade de todos os demais aeroportos. Só assim, desta forma enviesada e prejudicial para as outras regiões é que o governo consegue defender que a OTA será hipotéticamente rentável e atractiva.

Ora, se ao invés da manutenção de uma situação de monopólio a ANA fosse desmembrada e privatizada, deixando os aeroportos concorrerem ou associarem-se livremente entre si, poderiam estes constatar da real necessidade ou não de um novo aeroporto: onde se situaria, como seria construído, que capacidade teria e como seria pago. O que certamente seria mais racional e serviria os interesses dos clientes e dos contribuintes.
"

Claro que num país que vê em Salazar e em Cunhal dois grandes personagens será difícil instituir o referendo como instrumento de decisão política - mas esse sim, é um esforço que vale a pena.

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.