26.4.07

Jantar

-Fizeste-me jantar de pé, por toda a cozinha, um jantar miserável, quem te manda estar tão perto e tão longe, quem te manda nunca teres saído de mim, seres tão calma e tão bonita e tão parecida com uma praia no inverno, num daqueles dias de sol frios de inverno em que tudo está calmo mas tu sabes que tudo vai explodir de um momento para o outro, quem te manda seres tão calma, tanta doçura, tanta força escondida, como uma onda que tivesse ficado parada mesmo antes de rebentar, quem te fez assim, tão bonita, tão bonita, tão perto e tão longe... Tu és o tempo, és as letras todas de um alfabeto que ficou por criar, mas que nós vamos inventar, ou reinventar, vamos soletrá-lo todo do princípio ao fim e do fim ao princípio, vamos acariciá-las, as letras, afagá-las, tomá-las nas mãos e bebê-las como ofrendas de um deus atento e carinhoso. Um dia jantar-nos-emos, e nada nos separará, nunca mais.

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.