Não é por acaso que o título deste post está em várias línguas. Encontrei-o em Paris, em cima de uma boca do metro, numa simpática noite de verão. À frente tinha duas garrafas de vinho: uma Château Haut-Marbuzet, e uma de Brane-Cantenac, ambas de 2003. Interpelou-me, não me lembro como, e parei para falar com ele. Falava inglês, espanhol e, percebi depois, português - para além, claro, do francês.
- O Brane-Cantenac é muito bom, não é? - disse-lhe.
- Prefiro o Haut Marbuzet: é menos redondo, menos delicado, mais taninado, mais encorpado: deixa traços, como algumas tempestades e algumas mulheres - respondeu.
- É verdade - reconheci. - Mas na situação em que estamos mais vale preferir aquele de que gostamos menos: ajuda-nos a não ter ilusões.
Daí a pouco estávamos a falar de liberalismo, esquerda e política social. Era liberal, "como o banqueiro do outro era anarquista": uma escolha racional, independente das circunstâncias.
- Não se pode ser independente das circunstâncias - eu bebia pelo gargalo, e pensava que num copo o vinho, qualquer deles, seria melhor.
- Estás enganado. Amanhã ou depois estarás aqui, e vais ver se se pode, ou não, ser independente das circunstâncias.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.