5.5.07

Portugal e o Mar

Os oceanos estão na moda, em Portugal, e por uma vez regozijo-me com a moda - ando há vinte anos a lutar por este momento. Pedro Norton, no Geração de 60, tem dois posts interessantes sobre o papel do mar na definição da identidade do país, e na sua diferenciação e especialização.

Não posso estar mais de acordo, tanto mais que, estranhamente, no exterior Portugal ainda é visto como uma nação marítima. O mar deve ser das raras áreas de actividade em que partimos com um handicap favorável.

Há, contudo, um longo e difícil caminho a percorrer: como sempre, a dificuldade reside em passar da teoria à prática. Infelizmente, cada vez me parece mais que só uma abordagem top down será eficaz: o poder das camadas intermédias da administração pública em Portugal é simplesmente espantoso. E como qualquer mudança é vista - aliás, em muitos casos, justamente - como uma ameaça, os inúmeros organismos, institutos, administrações, aquela nebulosa de funcionários inúteis que lá no fundo, no fundo, sabem que o lugar deles é o quadro de excedentários, vai fazer tudo o que pode para atrasar, dificultar, complicar tudo o que se tente fazer nessa área (e noutras também, de resto).

Além disso, a atitude face à ignorância de quem manda, em Portugal, é também um obstáculo. Repare-se que não tenho nada contra a ignorância: todos nós somos ignorantes sobre muitos mais assuntos do que aqueles que conhecemos, e não se pode esperar que uma área como o mar, que foi olimpicamente desprezada durante anos, passe de um dia para o outro a fornecer técnicos com experiência e conhecimento e sensibilidade.

Mas esses técnicos, e os decisores que lhes estão por cima, não só não sabem como não tentam saber: e isso é menos desculpável. Há excepções, claro, apresso-me a deixar bem claro. Mas são excepções, não são a norma.

Nada, claro, que uma grande dose de teimosia, paciência e trabalho não resolva.

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