Devia celebrar a vida, que em ti não faz sentido a morte; tu eras a vida feita vida, cada gesto teu, cada olhar, cada inspiração tua era uma celebração. Ver-te levar um copo à boca, um garfo, era ver a vida a funcionar. Vivias cada minuto como se fosse infinito, e vívia-lo infinitamente. Eu não sou assim. Resta-me celebrar-te, faz hoje um ano que deixaste de dar à vida o que a vida não me deu. Acariciavas-me, beijavas-me, olhavas-me e era a vida que me tocava, irreprimível, indízivel.
Agora nada resta, senão as palavras – preciso delas para te ver, para te descrever, para te lembrar, para dar forma, e nome, aos calafrios que ainda me percorrem, mas já não são de expectativa de ti – não passam de expectativas do vazio, do nada, da ausência.
Hoje vou celebrar a tua ausência, dar-lhe sentido. Vou juntar-me a ela.
O meu obrigado à revista Minguante.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.