Um desses inquéritos da net, desta vez no excelente, e útil, O Carmo e a Trindade põe a corrupção em primeiro lugar ex-aequo dos problemas a resolver em Lisboa - o outro par do ex-aequo sendo o estacionamento.
Este é sem dúvida um problema grave que Lisboa tem de resolver - mas a verdade é que não é muito complicado: basta pôr as entidades competentes a multar, e instalar meios físicos nos sítios mais delicados. É um problema que centenas de cidades por essa Europa fora resolveram - algumas, é certo, lamentando a posteriori a fonte de receitas que perderam com as multas, porque instalaram demasiados pilaretes, ou frades, ou blocos de cimento, ou fosse lá o que fosse.
Já a corrupção me deixa um bocadinho mais céptico: o problema da corrupção em Portugal não é havê-la em excesso, é ela ser insuficiente. Tudo seria muito mais simples se a única motivação dos nossos queridos funcionários das Câmaras, Institutos, Administrações, que sais-je, para impedir, pôr obstáculos, exercer o seu minúsculo poder no seu minúsculo quintal, dizer que não e apresentar exigências absurdas fosse o dinheiro.
Infelizmente não é. Uma vez fui skipper de um catamaran que esteve quase três anos parado para obter uma licença de charter. Uma embarcação de 60' parada durante quase três anos tem custos desmedidos - aos quais há que adicionar as exigências tolas, absurdas, algumas inclusivé perigosas feitas pelo Instituto encarregue dessas coisas.
Teria sido muito mais barato, muito melhor para o armador, para o país, para toda a gente, o funcionário deixar-se corromper - mesmo uma pequena porcentagem do dinheiro que se perdeu naquela operação teria representado um excelente complemento ao salário do senhor. Mas não: ele era incorruptível, e fez aquilo tudo por razões que ainda hoje, anos passados, me são dolorosamente obscuras.
Que bom seria, se todos os funcionários fossem corruptíveis - para eles, e para nós, desgraçados empresários à mercê de meia-dúzia de aluados que nem pelo dinheiro se interessam; (enfim, interessar, interessam: eles gostam imenso de nos fazer perder imenso dinheiro, mas isso é outra história. - Será?)
A corrupção generalizada - ou a sua ausência generalizada - são situações nas quais é fácil trabalhar; agora esta espécie de mistura nem carne nem peixe em que vivemos não. E como é mais fácil, mais rápido, mais gratificante generalizar a corrupção do que acabar com ela, eu proponho que se lute não pelo fim da corrupção, mas pela sua generalização.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.