Por causa de um blog chamado Ana de Amsterdam encontrei Quelimane. E neste último encontrei uma fotografia do Refeba, com umas coberturas em betão que não existiam na altura.
Já aqui devo ter contado a história, mas quatro anos permitem repetições: eu teria 9 ou 10 anos, e fui beber uma Coca-Cola ao Refeba (Reis, Fernandes e Baptista, para os íntimos). A Coca veio acompanhada de um pratinho de camarões cozidos, coisa que me encheu de satisfação, claro. Acabado o pratinho, chamei o empregado e pedi outro.
De dentro do café sai não sei se o Reis, se o Fernandes, se o Baptista e diz-me "olha lá, pá, tu pensas que o pratinho de camarões veio para a mesa por causa da tua Coca-Cola?" Eu disse-lhe que "sim", intimidado. "Pois fica sabendo que não foi. Foi por causa dos whiskies que o teu pai aqui bebe à noite. E um pratinho de camarões chega! Se quiseres, dou-te amendoins".
Em Zalala um dos colegas do meu pai nos whiskies do Refeba tinha uma casa. Como gostava de copos e de bares, o rés-do-chão era um bar, com mesas, balcão e tudo - e a casa chamava-se "O Bar do Zé".
Um dia entrou uma família chegada direitinha da "Metrópole", e sentou-se a uma mesa. Por acaso o Zé estava atrás do balcão, e perguntou-lhes o que queriam beber.
"Uma Coca-Cola para o menino, uma cerveja para o papá e um sumo de laranja para a mamã [provavelmente, pouco importa]". O Zé levou as coisas todas para a mesa, a família deliciou-se com tudo, o bar era tão bonito, quem diria, num sítio destes - até que pediu a conta.
"Não há conta nenhuma", retorquiu o Zé, "isto não é um bar, é a minha casa e tenho muito prazer em oferecer-lhes as bebidas".
Não há lugar no mundo, nem tempo, em que tenha sido mais triste, mais infeliz, que tenha odiado mais do que o Colégio Paulo VI. Nele estive do 1º ao 4º ano do Liceu - e só guardo uma coisa boa, uma: o amor pelo Português que o director do Colégio, o Padre Tiago, me transmitiu, apesar das reguadas (com uma palmatória de pau-preto) e das bambuzadas (uma pequena vara de bambu cuja "alcunha" esqueci, com a qual nos batia nos braços e nas coxas até ficarem roxos e cavados). A certa altura comecei a pôr lenços nos antebraços para amortecer as pancadas - até ao dia em que, inevitavelmente, ele os descobriu. Odiava aquele colégio, e acho que nunca recuperei desse ódio.
Uma vez averbei uma vitória, só uma: fui para o estrado ler uma redacção que devia ter feito em casa - e no papel não havia uma palavra escrita, uma que fosse. A certa altura reparei que o Padre Tiago percebera - mas continuei, e ele não me pediu para ver as folhas de onde eu estava a "ler".
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