Portugal é um bocadinho de África na Europa (já a África do Sul, ao contrário, é um pedaço da Europa em África - resta saber por quanto tempo).
Essa africanidade manifesta-se de várias maneiras: o desprezo por quem está abaixo na escada social, a primazia do clã sobre a nação, a falta de um desígnio nacional; a ideia - infantil, mas compreensível num país pobre - que um bolo hoje é melhor do que dois amanhã; a importância do "chefe" e das aparências; a convicção generalizada que as coisas são o que são e que tentar melhorá-las não passa de agitação fútil; a falta de pudor, da noção de privacidade.
Mas onde ela é mais visível, mais presente, mais indelével (será? Espero que não) é na noção do tempo: não há tempo em Portugal - ou antes, o nosso tempo é africano. As coisas fazem-se quando elas quiserem ser feitas e não quando têm que; não há prazos, tudo demora uma eternidade, toda a gente corre e toda a gente anda atrasada; um mail, uma proposta, ficam semanas e semanas por abrir - tudo isto sem um pensamento que seja dedicado às consequências, claro.
Há só uma distinção, mas é grande: África absorve a diferença, todas as diferenças; Portugal expele-as, segrega anticorpos contra quem não está dentro da norma, contra quem diz o que pensa - contra quem não tem paciência...
Sem comentários:
Enviar um comentário
Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.