21.10.07

Oito dólares, quatro ou a superioridade da ordem

Há uns anos, em Moçambique, fiquei surpreendido com o facto de os Moçambicanos reclamarem contra a Polícia de Trânsito deles.

Para mim, aquilo era um sonho: qualquer excesso de velocidade, estacionamento mais criativo, ausência de cinto de segurança - enfim, qualquer infracção resolvia-se com uma nota de já não sei quantos meticais, mas que equivalia, disso lembro-me bem, a 8 dólares.

Um país em que as multas de trânsito, todas as multas de trânsito, eram resolvidas na hora, por 8 USD, sem muitas conversas nem delongas, só podia ser, pensava eu, amado pelo felizes condutores e demais utentes das vias de circulação.

Tal não era, naturalmente, o caso: as pessoas gostavam de imaginar que viviam num país "normal", e para eles normal é os polícias serem honestos. Tinha para mim que se a maioria daqueles que se queixavam fosse viver para a Suiça, Alemanha, Suécia, Dinamarca, EUA, Reino Unido, Canadá, França, sei lá, deixariam rapidamente de confundir "normal" com "desejável" e voltariam a preferir a doce anarquia dos 8 dólares.

O problema era, se calhar, que frequentemente a ausência de infracção também custava oito dólares - se bem por vezes fosse possível reduzi-la a quatro.

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