Vim jantar ao Paladar. Lembras-te? É aquele restaurante nas Escadinhas do Duque, todo preto. Não me lembro do que comemos - lembro-me apenas de uma cena de pancadaria que ocorreu lá fora enquanto comíamos, e de nós a tentar proteger dela a tua filha. Ter-se-á apercebido? Não sei. As crianças têm olhos e dúvidas onde nós só temos pele e certezas.
Hoje o restaurante está quase vazio; "mas já é tarde", penso. Não é a verdade toda: ali em baixo o Café de Buenos Aires está cheio a abarrotar, tão cheio que resolvi não entrar, não haveria lugar para mim e para o saco de bagagem emocional que carrego para onde quer que vá, sobretudo se for para sítios por onde andei contigo.
O restaurante não tem uma única meia-garrafa de vinho. Fico-me pelos copos, um de branco para a entrada, um de tinto para a carne. Ao fim de pouco tempo habituamo-nos à pouca luz, ao preto das paredes, ao amadorismo do serviço. Como será, o jantar? Como serão, os dias que aí vêm, agora que te foste embora?
Hoje andei muito, e quando ando muito penso em ti; também penso em ti quando não ando, quando estou deitado, ou a cozinhar, ou a ouvir música. Penso frequentemente em ti, na realidade, e em mim e em nós também.
Como será, o jantar? A lista nem é má, com excepção da dos vinhos, que é péssima. Neste maldito país de não-ditos, a tua franqueza era bendita. Não gosto muito do serviço, mas se calhar é por causa da hora, e de a jovem e sorridente empregada ser muito bonita e não parar de falar com o jovem e sorridente empregado. Ou porque tu não estás aqui, e o meu silêncio está vazio, parece uma grande sala sem um único móvel. Ou, mais prosaicamente, porque é tarde e estou com fome.
II
O jantar foi bom: magret de pato com puré de ervilhas e menta. Um pouco de menta a mais, para meu gosto, mas o pato estava excelente, cozido no ponto certo. O serviço é de um amadorismo total, o menu de um amadorismo iluminado, a música muito boa e a tua ausência dolorosa, quase dolorosa.
Hoje o restaurante está quase vazio; "mas já é tarde", penso. Não é a verdade toda: ali em baixo o Café de Buenos Aires está cheio a abarrotar, tão cheio que resolvi não entrar, não haveria lugar para mim e para o saco de bagagem emocional que carrego para onde quer que vá, sobretudo se for para sítios por onde andei contigo.
O restaurante não tem uma única meia-garrafa de vinho. Fico-me pelos copos, um de branco para a entrada, um de tinto para a carne. Ao fim de pouco tempo habituamo-nos à pouca luz, ao preto das paredes, ao amadorismo do serviço. Como será, o jantar? Como serão, os dias que aí vêm, agora que te foste embora?
Hoje andei muito, e quando ando muito penso em ti; também penso em ti quando não ando, quando estou deitado, ou a cozinhar, ou a ouvir música. Penso frequentemente em ti, na realidade, e em mim e em nós também.
Como será, o jantar? A lista nem é má, com excepção da dos vinhos, que é péssima. Neste maldito país de não-ditos, a tua franqueza era bendita. Não gosto muito do serviço, mas se calhar é por causa da hora, e de a jovem e sorridente empregada ser muito bonita e não parar de falar com o jovem e sorridente empregado. Ou porque tu não estás aqui, e o meu silêncio está vazio, parece uma grande sala sem um único móvel. Ou, mais prosaicamente, porque é tarde e estou com fome.
II
O jantar foi bom: magret de pato com puré de ervilhas e menta. Um pouco de menta a mais, para meu gosto, mas o pato estava excelente, cozido no ponto certo. O serviço é de um amadorismo total, o menu de um amadorismo iluminado, a música muito boa e a tua ausência dolorosa, quase dolorosa.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.