14.2.08

Desejo

"You'll find out, Luis, that the sweet smell of success is in fact sweet and sour", dizia-me naquela noite em que estávamos os dois deitados na praia, em Moçambique. Falava-me dela e do seu trabalho, numa mistura de inglês, francês e espanhol, que eram as suas línguas, as suas vidas.

Na altura trabalhava para a BBC, ou para a MTV, não me lembro, como produtora. Tinha uma cabeleira enorme, preta como a noite para a qual olhávamos os dois. "Mi abuela me llamava Negra, à cause des cheveux". Tinha o corpo tenso de desejo, quase a sentia vibrar, as mãos espalmadas na areia e os seios a apontar para o negro da noite. Ouvíamos o barulho do mar e ela falava, cada vez mais devagar. Até que se calou, o desejo calou-a e ficou ali, entre os dois, dois corpos numa praia do sul de Moçambique, palpável como a noite negra e branca das ondas, dois corpos inexorável - e, para ela, incompreensivelmente - separados.

Fui visitá-la uns meses mais tarde, a Londres. "O desejo tem uma data de validade", explicou-me no aeroporto, quando me foi buscar. "E a tua passou". Deixou-me no hotel, e passámos três dias a ver museus, e a ouvir jazz.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.