24.2.08

Um adeus curto

A cena passou-se em Paris, num daqueles cafés em que as mesas estão encavalitadas umas nas outras e é impossível não ouvir as conversas do lado. Neste caso, estava tão perto que não ouvi só a conversa; ouvi também o que ele estava a pensar.

- Adeus. Vou-me embora. Estão aqui as chaves. Já dei ordens no correio para reencaminharem a correspondência. Não digas nada, por favor. - Ela acabou de dizer isto, levantou-se e dirigiu-se para a porta. Era uma mulher grande, loira, elegante. Ele ficou sozinho, imóvel, mudo.

- (Não te vás embora. Volta para trás. Senta-te. Não te vás embora. Lembra-te do éramos, do que fomos, do que podemos ser. A vida recomeça. Quero casar-me contigo, viver contigo, envelhecer contigo. Não te vás embora. Não me deixes especado nesta mesa, neste mundo. Volta para trás. Senta-te. De que serve uma vitória sozinho? Não passa de uma meia-derrota. Não é tarde. Quero casar-me contigo, começar cada dia com teu nome nas mãos, quero-te como eras, como és, imponente, com o destino nas mãos, o tempo. Senta-te. Volta para trás. Troco todos os dias de sol que estão para vir por uma manhã de chuva contigo, por um dia contigo. Não te vás embora. Volta para trás. Volta). Garçon, l'addition, s'il vous plaît.

- Voici, Monsieur
.

Ela saiu do café, e ele voltou-se para trás para a seguir com os olhos. Um homem esperava-a.

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