Uma pessoa explicava-me hoje que foi visitar Lagos (no Algarve) porque "foi lá que tudo começou". Perante o meu olhar interrogativo, esclareceu: "o Brasil, quero dizer".
N. diz-me vezes de mais "sou feliz" para que acredite nele. Porém, tem tudo para o ser, como sói dizer-se: um negócio que funciona, uma mulher linda, um filho (diz ele) inteligentíssimo. De certa maneira compreendo-o: se estivesse no lugar dele, seria feliz? Não sei. Não sei se se é bourlingueur porque se é infeliz, ou vice-versa; não sei se Salvador é a cidade ideal para um bourlingueur; não sei sei se há uma cidade ideal.
Salvador tem 3,500,000 de habitantes (mais ou menos. Ninguém sabe, na realidade). Desses, 70% vivem em favelas (ou mais. Ninguém sabe). Ou seja: em Salvador, há cerca de um milhão e pouco de pessoas a viver em casas "normais", provavelmente, e dois milhões e qualquer coisa a viver em bairros infectos.Em Salvador, a incerteza começa nas coisas mais básicas.
De onde vem, esta obsessão que alguns povos têm por si próprios? No Brasil, como em Portugal, não há conversa que ao fim de cinco minutos não descambe para o "o Brasil", "o povo brasileiro", ou - pior de todas - "a mentalidade brasileira". O tema aparece em todas as conversas, seja com quem for, e é fatigante, estéril, inútil.
O serviço é péssimo, em geral. E quando não é péssimo, é pior ainda.
Normalmente apanho o autocarro do aeroporto para a cidade. Hoje vejo no jornal que essa linha é frequentemente alvo de ataques. Acho que não vou mudar para o táxi: a diferença de preço não compensa a ausência de medo (ou inconsciência, para quem prefira), a pouca frequência das viagens, um ratio de probabilidades que me é bastante favorável; nem a chegada à praia de Itapuã, depois de um horrível trajecto numa rua cheia de lojas indescritíveis; nem o longo trajecto pela costa até à Barra.
Numa hora de Salvador vejo mais mulheres do que numa semana de Rabat.
O que mais me fascina nas mulheres brasileiras é a sensualidade. Não são particularmente bonitas, nem tão bem feitas como a propaganda o desejaria; mas até a mais gorda e desdentada das mulheres consegue ser sensual. Este país vive do e para o sexo, e é o sexo que o explica.
Maragogipe é uma pequena cidade nos recônditos da Baía de Todos os Santos que já foi bastante próspera, devido ao tabaco. Hoje é uma coisa pobre, arruinada, desinteressante no meio de um cenário fabuloso. A capacidade que alguns povos têm de aproveitar o seu potencial e o explorarem e com ele enriquecerem é muito menos fascinante que a capacidade que outros têm de não o fazer.
O texto original está publicado aqui.
N. diz-me vezes de mais "sou feliz" para que acredite nele. Porém, tem tudo para o ser, como sói dizer-se: um negócio que funciona, uma mulher linda, um filho (diz ele) inteligentíssimo. De certa maneira compreendo-o: se estivesse no lugar dele, seria feliz? Não sei. Não sei se se é bourlingueur porque se é infeliz, ou vice-versa; não sei se Salvador é a cidade ideal para um bourlingueur; não sei sei se há uma cidade ideal.
Salvador tem 3,500,000 de habitantes (mais ou menos. Ninguém sabe, na realidade). Desses, 70% vivem em favelas (ou mais. Ninguém sabe). Ou seja: em Salvador, há cerca de um milhão e pouco de pessoas a viver em casas "normais", provavelmente, e dois milhões e qualquer coisa a viver em bairros infectos.Em Salvador, a incerteza começa nas coisas mais básicas.
De onde vem, esta obsessão que alguns povos têm por si próprios? No Brasil, como em Portugal, não há conversa que ao fim de cinco minutos não descambe para o "o Brasil", "o povo brasileiro", ou - pior de todas - "a mentalidade brasileira". O tema aparece em todas as conversas, seja com quem for, e é fatigante, estéril, inútil.
O serviço é péssimo, em geral. E quando não é péssimo, é pior ainda.
Normalmente apanho o autocarro do aeroporto para a cidade. Hoje vejo no jornal que essa linha é frequentemente alvo de ataques. Acho que não vou mudar para o táxi: a diferença de preço não compensa a ausência de medo (ou inconsciência, para quem prefira), a pouca frequência das viagens, um ratio de probabilidades que me é bastante favorável; nem a chegada à praia de Itapuã, depois de um horrível trajecto numa rua cheia de lojas indescritíveis; nem o longo trajecto pela costa até à Barra.
Numa hora de Salvador vejo mais mulheres do que numa semana de Rabat.
O que mais me fascina nas mulheres brasileiras é a sensualidade. Não são particularmente bonitas, nem tão bem feitas como a propaganda o desejaria; mas até a mais gorda e desdentada das mulheres consegue ser sensual. Este país vive do e para o sexo, e é o sexo que o explica.
Maragogipe é uma pequena cidade nos recônditos da Baía de Todos os Santos que já foi bastante próspera, devido ao tabaco. Hoje é uma coisa pobre, arruinada, desinteressante no meio de um cenário fabuloso. A capacidade que alguns povos têm de aproveitar o seu potencial e o explorarem e com ele enriquecerem é muito menos fascinante que a capacidade que outros têm de não o fazer.
O texto original está publicado aqui.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.