O narcisismo nacional tem duas formas de se manifestar e só na aparência se opõem. Uma consiste em reconduzir tudo a Portugal: "olha, esta laranja caíu da árvore", diz alguém. Resposta: "pois, só neste país é que se deixam as laranjas cair desta maneira. Ninguém toma conta de nada". "Tens razão, é um país de incompetentes". "É. Falta-nos..." e segue-se uma lista das coisas que nos faltam, à qual se segue a dos defeitos todos que temos.
A outra parece precisamente o contrário: "No aeroporto de Lisboa perdem-se muitas malas", lê-se no jornal. "Sim, mas havias de ver Madrid"; ou "Lisboa inunda ao fim de 20 minutos de chuva - ora, se fosse em Berlim teriam bastado 15. E aqui pelo menos temos sol, logo a seguir"; e segue-se uma lista das vantagens incomparáveis, únicas, de se viver "neste país".
A distribuição destes métodos pelas diferentes classes sócio-económicas é particular: na metade superior da curva coabitam, na inferior só há o primeiro. São as duas igualmente irritantes, mas não sei bem qual é mais.
A outra parece precisamente o contrário: "No aeroporto de Lisboa perdem-se muitas malas", lê-se no jornal. "Sim, mas havias de ver Madrid"; ou "Lisboa inunda ao fim de 20 minutos de chuva - ora, se fosse em Berlim teriam bastado 15. E aqui pelo menos temos sol, logo a seguir"; e segue-se uma lista das vantagens incomparáveis, únicas, de se viver "neste país".
A distribuição destes métodos pelas diferentes classes sócio-económicas é particular: na metade superior da curva coabitam, na inferior só há o primeiro. São as duas igualmente irritantes, mas não sei bem qual é mais.
Caro Senhor,
ResponderEliminarcalcule o meu amigo que no meu local de trabalho há cada vez menos funcionários (ainda hoje saíu um...) e estamos todos fartos destes governantes que não sabem gerir os recursos e as necessidades, e só se interessam com as suas reformazitas, e apetece-me enviar os papéis (as toneladas de papéis) pela janela fora que isto é um país de inconpetentes e...
ups...
lá estou a dizer tão mal de tudo...
Ah!, mas o tempo está fantástico, yep, as meninas amanhã querem ir brincar à beira-mar, que bom que é haver tanto sol e o mar tão perto, que país fabuloso este em que vivemos, sem guerra e essas coisas, nem damos valor à sorte que temos e...
Hum... adorei este último post e, como se constata supra, creio que faço parte do «grupo da coabitação»...
:-)))
*incompetentes, sff :-)
ResponderEliminar(umbigo meu, este...)
:-D
Faço minhas as palavras da Fugidia, Luís. A única dúvida que tenho é se as duas atitudes não coabitam, também, na metade inferior. É certo que, nessa metade, não haverá facilidade em fazer comparações internacionais, mas fazem-se com o passado, com o possível, com o que for. O espírito de contradição e o enfeudamento a facções partidárias é aqui particularmente vivo e irracional. Aliás, admitindo que a metade inferior seja maioritária, só assim consigo explicar por que é que o presente governo, mais a sua visão optimista ou mesmo paradisíaca das coisas, continua em vantagem nas sondagens.
ResponderEliminarNa verdade, pensando bem, onde me parece detectar um pessimismo mais empedernido e quase militante é na metade superior (intelectualizada).
Muito bem observado, Luís.
ResponderEliminarTemos o sol e o mar, que têm por sua vez as costas largas para poder bater-se com tudo aquilo que não temos. Que é muito.
Mais uma dos "coabitantes"...