1.11.08

Terminal de Contentores de Alcântara

Um professor universitário lança petição a favor da ampliação do terminal. Vale a pena ler os argumentos que João Quaresma Dias avança, porque é a melhor maneira de nos apercebermos das falácias que eles são (noutro post analisarei a petição): "Parece que Portugal não consegue fazer conviver actividades de índole portuária juntamente com as actividades de recreio e de lazer" Se o Terminal fôr ampliado, não se consegue de certeza. Vejo mal como é que náutica de recreio e tráfego comercial vão partilhar um espaço como a Doca do Espanhol. Contudo, os planos da APL mantêm as embarcações de recreio na doca. Porquê? "Sabemos que as cidades portuárias que têm contentores têm os terminais portuários a alguns quilómetros do centro da cidade, como em Barcelona, que fica a 2,2 quilómetros" - a) Basta um salto muito rápido ao Google Earth para ver que o porto original de Barcelona foi transformado em porto de recreio. O terminal de contentores foi construído ao lado da cidade - numa zona que hoje é uma zona industrial. Não é de todo o caso de Alcântara, que está no centro da malha urbana (logo a seguir há Belém, para não ir mais longe). b) O Terminal de Contentores de Barcelona em 1,3 milhões de TEU - e Espanha tem, recorde-se, 40 milhões de habitantes - ou seja, quatro vezes mais do que Portugal. À escala, isso dá 300,000 TEU - o que Lisboa tem hoje. Para quem é que vamos triplicar a capacidade - para o consumo doméstico, ou para o consumo ibérico? "Um eventual fim do porto de Lisboa poderá colocar em risco em particular «as pessoas da zona norte de Lisboa, que vêem escoar as suas produções pelo porto de Lisboa e são alimentadas nas importações pelo porto de Lisboa». «Se o porto de Lisboa acabar vem tudo de Roterdão de camião. Vamos meter 200 mil contentores por ano no mínimo pelas estradas da Europa e de Portugal» a) Não ampliar o Terminal de Alcântara não é, pura e simplesmente, o fim do Porto de Lisboa; b) Porquê de Rotterdam? Não há portos mais próximos? Isto cheira-me a tentativa de manipulação, demagógica e populista. Ontem estive numa apresentação do projecto pela APL - não foi uma apresentação repito: foi uma sessão de propaganda. 90% dos argumentos eram a favor de um terminal de contentores em Portugal. Não em Lisboa, e muito menos em Alcântara. Mas ninguém contesta a construção de um terminal de contentores. O que se contesta é, primeiro, a falta de debate público - é só graças à iniciativa "Lisboa é das pessoas. Mais contentores não!" que isso está a acontecer. Não fosse MST e a APL, a CML (enfim, a CML não. Eles nem sabiam do projecto, coitados) e o Governo teriam feito isto furtivamente; ter-nos-iam colocado perante o facto consumado. Seria interessante ver o que se passaria em Barcelona se a autoridade portuária decidisse ampliar o porto para cima do porto de recreio...: 

Alcântara: Parece-me que a diferença é bem visível; mas para ver bem, o melhor mesmo é ir ao Google Earth.

2 comentários:

  1. Anónimo12:51

    Pois...só não sei de onde vem a demagogia...Barcelona movimenta mais de 2m6M de TEU por ano...o que não correponde à capacidade de 1,3M que anuncia no seu blog...talvez valha apena verificar...

    Já agora Portugal como um todo movimenta pouco mais de 1M de TEU por ano, enquanto Espanha faz quase 10M...sera que somos 10% de Espanha (quer em termos de população, quer em termos de economia)? GOstaria de pensar que não...pelo menos ainda não!

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  2. Caro Anónimo,

    a) Quando escrevi o post fui procurar as capacidades de diferentes portos. É possível que tenha visto dados desactualizados (creio que é essa a origem do erro).

    De qq forma, o fundo do problema não muda: com 1,3M ou 2,6M, o terminal de contentres de Barcelona está numa área que é agora uma zona industrial, e não uma área nobre da cidade. O antigo porto foi reconvertido, como sabe, para Recreio;

    b) Ninguém está contra a construção de um cais de contentores em Portugal. Estamos contra duas coisas: uma que esse cais seja em Alcântara - pelo menos sem estudos que comprovem que é realmente a única hipótese; e outra que se conceda a uma empresa uma concessão por mais 27 anos sem concurso público.

    Não me parece nem demagógico, nem irracional.

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.