18.11.08

Tu és

Dave Brubeck, whisky e uma terrível melancolia fazem misturas ricas, talvez, mas dolorosas. Sobretudo se essa melancolia tiver o teu nome, a tua cara, a tua pele, na qual tantas vezes passeei; o teu riso, no qual me perdi; os teus olhos, através dos quais a vida, o mundo e o futuro me apareceram diferentes do que eles são, sem eles. Já to disse muitas vezes: quem não pode amar não sabe amar; e uma: mesmo quem não sabe talvez possa, se tu quiseres.

Estas horríveis horas sem ti: cada minuto é uma vida. Contigo também: cada segundo é uma vida, uma eternidade - uma magnífica, soberba, deliciosa eternidade.

Tu és a vida, a que foi e será. Tu és a ausência toda, toda do que foi. Tu és, serás, foste. "Amo-te" não faz sentido, porque "Não te amo" tão-pouco o faz; tu és o sentido das coisas, das palavras que as designam, do tempo no qual elas vivem, viveram, foram. Em ti tudo foi; sem ti nada.

És aquilo que o tempo gostaria de ser, se não fosse um projecto. A flor para a qual a cidade olha, através da minha janela; a serenidade que seria a noite contigo, à noite depois de ti. O tempo é o sorriso com que me olhas, saciada, grata, feliz. Tu és a figura do tempo; a figura imóvel e feliz do tempo.

Aquilo que eu serei quando te conhecer, quando te amar, quando me disseres: "tu és o que sempre fui. Tu és o que seremos, quando formos". Tu és - e eu sem ti não sou.

1 comentário:

Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.