18.3.09

O caquelon, o futuro e as estranhas relações entre eles

Para começar: é verdade - é possivelmente verdade - que eu tenha queimado um caquelon. Já fiz coisas piores - ainda recentemente, por exemplo, queimei a tampa de um recipiente no micro-ondas, coisa que não lembra a ninguém; e ainda piores: já encalhei um barco, menti a mulheres e - pior, pior ainda - chorei por causa delas.

Que queres? Queimei um caquelon, possivelmente; mas como eu já estava queimado há muito tempo isso mal se nota. Excepto, claro, nos momentos em que o caquelon é necessário, e aí a minha fatal inabilidade vem ao de cima. São quatro da manhã, a hora à qual o outro se lembra das gabardines azuis e eu de caquelons queimados, vidas queimadas, amores perdidos, inabilidades e fondues sem caquelon.

A verdade é esta: sou desajeitado, queimo caquelons como quem queima relações amorosas ou é queimado por elas, bebo vinho rosé às quatro da manhã e leite às seis (se fosse ao contrário seria pior, reconhece) e, apesar de tudo isso, continuo a acreditar que a vida não passa de uma sucessão de amanhãs que quando se transformam em hojes é gloriosa. Viver é fazer os amanhãs que ontem sonhámos. Alquimia pura, minha querida: homúnculos em homens; tu num corpo; caquelons queimados em fondue; vinho rosé numa bebedeira decente (é impossível, eu sei); uma vida em vida.


2 comentários:

  1. Anónimo07:12

    Urgente para perceber este texto lindo: o que é um caquelon????

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  2. Obrigado. Um caquelon é uma panela especial para fazer fondue de queijo.

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.