Sob este título genérico tenciono deixar para a posteridade algumas normas simples sobre a convivência doméstica para jovens casais. Começo, naturalmente pelo ponto mais sensível, aquele que, histórica, estatística e empíricamente mais obstáculos levanta na vida do jovem casal. Refiro-me, os generosos leitores com mais de 40 - vá lá, 45 anos - já o terão adivinhado, à lavagem da loiça.
Poder-se-ia pensar que com as modernas máquinas de lavar o problema estaria resolvido, mas não está. Além de que inúmeras são ainda as ocasiões em que o jovem casal não dispõe dessa tecnologia - a qual, de resto, é barulhenta e anti-ecológica (duvido, mas fica sempre bem, nestes tipo de tratados, mostrar uma certa preocupação com o ambiente. Mesmo que não ajude a vender não nos leva directamente para as estantes dos ostracizados).
Posto isto, devo previamente prevenir (anda por aqui um cheiro a pleonasmo) os jovens casais que me vão ler do meu gosto pela prática saudável, relaxante e, repito, amiga do ambiente da lavagem manual de loiça: ou seja, este post não é objectivo, eu reconheço.
Há duas razões pelas quais a maioria das pessoas não gosta de lavar a loiça: mau timing e desorganização. É evidente que após um magnífico jantar, com toda a gente na sala a conversar, beber cognac, whisky e outras coisas, a tecer comentários elogiosos ao que acabou de comer ninguém tem vontade de lavar a loiça - como não a teria de passar a ferro ou passar o aspirador, por exemplo (a diferença sendo que estas duas actividades domésticas nunca são agradáveis, ao contrário da lavagem de loiça). Nada disso; a loiça deve dividir-se em duas fases: uma pré-arrumação, depois de os convidados saírem - dividindo os diferentes constituintes por categorias que vão do menos ao mais sujo; e a lavagem propriamente dita, no dia seguinte logo de manhã cedo. Nada há de mais agradável do que reviver, através da loiça, o alegre convívio da véspera.
Em seguida, a desorganização: a maioria das pessoas que tenho visto lavar loiça fá-lo de uma forma desordenada - o que tem um impacto negativo tanto na eficácia da acção como no prazer que dela se retira. Idealmente deve dispôr-se de dois lava-loiças, um cheio de água com sabão e outro de água sem sabão. A ordem de lavagem é a seguinte:
- Copos;
- Talheres (estes dispõem-se no fundo do lava-loiças, por agora),
- Pratos de sopa;
- Pratos de sobremesa;
- Pratos do principal.
(Frequentemente, consoante o nº de convidados e o menu, chegados a este ponto convém mudar de água - lavando então os talheres, claro).
- Panelas, frigideiras e demais utensílios, por ordem crescente de sujidade.
Algumas notas:
a) Um erro frequente que todos os jovens inexperientes cometem é passar a loiça por água quente antes de iniciar a lavagem propriamente dita. É fácil ver que se a comida se pegou às panelas, por exemplo, foi devido à acção do calor. Se lhes puseermos água quente, estamos a atrasar, e não a adiantar, o efeito de descolagem da água;
b) Não se deve deixar acumular muita loiça na bacia de água limpa;
c) Os copos ficam melhor (ao contrário de tudo o mais), se forem passados por água fria depois da lavagem;
d) A loiça deve dispôr-se arrumada no secador de loiça (pessoalmente, detesto secá-la. Quem goste pode passar directamente a essa fase) de forma a facilitar a sua posterior arrumação.
Resta, claro, o habitualmente espinhoso problema de definir a divisão do trabalho. Há duas escolas, ambas defensáveis: a que diz "um cozinha, o outro lava" - leva por vezes a certos abusos e deliciosas retaliações; e a que defende que quem cozinha lava (no meu caso, como prefiro cozinhar e lavar a loiça a, por exemplo, secá-la, ou passar o aspirador, opto por esta).
Seguindo estas normas simples, as novas gerações poderão eliminar a maior parte dos conflitos (ou pelo menos daqueles que têm a sua origem na lavagem manual de loiça).
O próximo artigo será sobre a roupa, desde a lavagem à passagem a ferro - incluindo, naturalmente, as reparações.
Poder-se-ia pensar que com as modernas máquinas de lavar o problema estaria resolvido, mas não está. Além de que inúmeras são ainda as ocasiões em que o jovem casal não dispõe dessa tecnologia - a qual, de resto, é barulhenta e anti-ecológica (duvido, mas fica sempre bem, nestes tipo de tratados, mostrar uma certa preocupação com o ambiente. Mesmo que não ajude a vender não nos leva directamente para as estantes dos ostracizados).
Posto isto, devo previamente prevenir (anda por aqui um cheiro a pleonasmo) os jovens casais que me vão ler do meu gosto pela prática saudável, relaxante e, repito, amiga do ambiente da lavagem manual de loiça: ou seja, este post não é objectivo, eu reconheço.
Há duas razões pelas quais a maioria das pessoas não gosta de lavar a loiça: mau timing e desorganização. É evidente que após um magnífico jantar, com toda a gente na sala a conversar, beber cognac, whisky e outras coisas, a tecer comentários elogiosos ao que acabou de comer ninguém tem vontade de lavar a loiça - como não a teria de passar a ferro ou passar o aspirador, por exemplo (a diferença sendo que estas duas actividades domésticas nunca são agradáveis, ao contrário da lavagem de loiça). Nada disso; a loiça deve dividir-se em duas fases: uma pré-arrumação, depois de os convidados saírem - dividindo os diferentes constituintes por categorias que vão do menos ao mais sujo; e a lavagem propriamente dita, no dia seguinte logo de manhã cedo. Nada há de mais agradável do que reviver, através da loiça, o alegre convívio da véspera.
Em seguida, a desorganização: a maioria das pessoas que tenho visto lavar loiça fá-lo de uma forma desordenada - o que tem um impacto negativo tanto na eficácia da acção como no prazer que dela se retira. Idealmente deve dispôr-se de dois lava-loiças, um cheio de água com sabão e outro de água sem sabão. A ordem de lavagem é a seguinte:
- Copos;
- Talheres (estes dispõem-se no fundo do lava-loiças, por agora),
- Pratos de sopa;
- Pratos de sobremesa;
- Pratos do principal.
(Frequentemente, consoante o nº de convidados e o menu, chegados a este ponto convém mudar de água - lavando então os talheres, claro).
- Panelas, frigideiras e demais utensílios, por ordem crescente de sujidade.
Algumas notas:
a) Um erro frequente que todos os jovens inexperientes cometem é passar a loiça por água quente antes de iniciar a lavagem propriamente dita. É fácil ver que se a comida se pegou às panelas, por exemplo, foi devido à acção do calor. Se lhes puseermos água quente, estamos a atrasar, e não a adiantar, o efeito de descolagem da água;
b) Não se deve deixar acumular muita loiça na bacia de água limpa;
c) Os copos ficam melhor (ao contrário de tudo o mais), se forem passados por água fria depois da lavagem;
d) A loiça deve dispôr-se arrumada no secador de loiça (pessoalmente, detesto secá-la. Quem goste pode passar directamente a essa fase) de forma a facilitar a sua posterior arrumação.
Resta, claro, o habitualmente espinhoso problema de definir a divisão do trabalho. Há duas escolas, ambas defensáveis: a que diz "um cozinha, o outro lava" - leva por vezes a certos abusos e deliciosas retaliações; e a que defende que quem cozinha lava (no meu caso, como prefiro cozinhar e lavar a loiça a, por exemplo, secá-la, ou passar o aspirador, opto por esta).
Seguindo estas normas simples, as novas gerações poderão eliminar a maior parte dos conflitos (ou pelo menos daqueles que têm a sua origem na lavagem manual de loiça).
O próximo artigo será sobre a roupa, desde a lavagem à passagem a ferro - incluindo, naturalmente, as reparações.
os jovens casais têm quase todos máquina de lavar a loiça. mas com ela também subsistem problemas. Há sempre alguém que opina: a louça não está bem distribuida na máquina...Nalguns casos o homm noutros a mulher.
ResponderEliminarLuís, não querendo interferir na concepção da estrutura do seu tratado, que já está certamente mais do que trabalhada, não desgostaria de conhecer a sua perspectiva sobre um ponto que me parece prévio a este primeiro e interessantíssimo capítulo: a da distribuição geral das tarefas domésticas pelo jovem casal. O que considera justo e equilibrado; como entende que deve conciliar-se uma cabeça intelectual e voltada para a meditação com outra pragmática e toda virada para a acção, etc., etc., etc.
ResponderEliminarSobre as notas, gostaria de esclarecer que a passagem da loiça por água quente visa apenas deslassar gorduras… acho eu… ;-D
Luís, não querendo interferir na concepção da estrutura do seu tratado, que já está certamente mais do que trabalhada, não desgostaria de conhecer a sua perspectiva sobre um ponto que me parece prévio a este primeiro e interessantíssimo capítulo: a da distribuição geral das tarefas domésticas pelo jovem casal. O que considera justo e equilibrado; como entende que deve conciliar-se uma cabeça intelectual e voltada para a meditação com outra pragmática e toda virada para a acção, etc., etc., etc.
ResponderEliminarSobre as notas, gostaria de esclarecer que a passagem da loiça por água quente visa apenas deslassar gorduras… acho eu… ;-D
Luísa, tem razão, perdoe-me o pleonamso. Era obviamente por aí que devia ter começado o meu novel opus. Vai já ser remediado, esse lapso.
ResponderEliminarQuanto à passagem da loiça por água quente ou fria, ponto capital para uma agradável sessão de lavagem manual de loiça: se os recipientes não tiverem restos de comida agarrados, pode aceitar-se uma passagem por água quente. Caso contrário, deve ser formalmente evitada, tal prática. A excepção sendo, naturalmente, restos de queijo (uma fondue, por exemplo. Ah, o que não daria eu por uma fondue agora): aí, torna-se imperativo utilizar água quente.