Não sei que dizer. Esses arcos albergaram silêncios e beijos, carícias e olhares, passos apressados de ou para - uma casa onde alguém espera alguém, de uma casa onde alguém chegou inesperadamente.
Esses arcos albergaram silêncios e obscuridades que são o fado antes de o fado ser; olhares e mãos que são o amor antes de o amor ser, ou depois; há neles lugares onde o sol não chega, e outros de onde não sai (apesar de quem manda ser a Lua: são arcos da noite, de noites, de silêncios, de olhos que tudo vêem e ninguém vê).
Esses arcos são os arcos da minha cidade, a cidade onde pela primeira vez bebi vinho e te bebi - e não há melhor definição de "a minha cidade" do que essa: tu e o vinho, a vida toda, inteira, sem uma vírgula que seja a menos se me deu a provar.
Debaixo desses arcos te abracei pela primeira e pela última vez. Debaixo desses arcos vivi, para sempre. Para a H. B.
Luís, é essa a ideia que me sugerem os arcos, de vidas que se desenvolvem furtivamente, apesar dos mil olhos que as observam – porque a escuridão tem olhos e aquelas janelas devem enquadrar outros tantos. E há ali amor, vinho, uma ou outra faca na liga ou navalha de ponta e mola, ecos de gritaria de mulheres, sussurros de mexerico entre estendais, muito drama e muito fado, em suma. Gosto imenso destes seus textos interpretativos, Luís. Ainda vai pôr-me a escolher as fotografias pensando nas suas palavras. :-)
ResponderEliminarP.S.: Presumo que esteja a ser grosseiramente indiscreta, mas não resisto a perguntar o que são essas pequenas dedicatórias de pé-de-«post». Homenagem a boas velhas amizades? A bons eternos amores? A bons inesquecíveis momentos?
Obrigado, Luísa; é agradável escrever sobre as suas fotografias, mas seria uma pesada responsabilidade saber que as escolheria pensando nos meus textos.
ResponderEliminarAlgumas das dedicatórias são a "bons eternos amores". Nem todas, porém: por vezes enquanto escrevo penso numa pessoa, num momento a quem associo aquilo que escrevo e apetece-me dedicá-lo. Interrompi essa prática durante muitio tempo, mas agora vou retomá-la. Ou seja: as suas três hipóteses estão correctas.