«Também não conhecia a expressão "navegar de conserva"», escreve uma simpática comentadora e leitora deste blog.
Esta frase contém em si um dos grandes objectivos do projecto Mares: no séc. XVII quando um marinheiro usava expressões náuticas em terra toda a gente o percebia. Os termos náuticos faziam parte do vocabulário corrente - se bem não activo - da maioria dos portugueses. O projecto Mares quer contribuir, braça a braça* que seja, para que isso volte a acontecer.
* A braça é uma medida de comprimento que varia de país para país. A braça portuguesa tem 2,2 m.
Esta frase contém em si um dos grandes objectivos do projecto Mares: no séc. XVII quando um marinheiro usava expressões náuticas em terra toda a gente o percebia. Os termos náuticos faziam parte do vocabulário corrente - se bem não activo - da maioria dos portugueses. O projecto Mares quer contribuir, braça a braça* que seja, para que isso volte a acontecer.
* A braça é uma medida de comprimento que varia de país para país. A braça portuguesa tem 2,2 m.
Gostei muito da expressão e das partilhas, ou não, que ela implica.
ResponderEliminarJá agora, Luís, como se diz navegar sem perder de vista a costa: assim mesmo, ou tem alguma expressão especial?
Tem, Fugidia: a navegação divide-se em três categorias:
ResponderEliminar- Navegação em águas restritas,
- Navegação costeira;
- Navegação do alto.
Já a "navegação" no sentido de "localização, de sabermos onde estamos, pode ser :
- Navegação estimada;
- Navegação à vista;
- Navegaçao costeira;
- Navegação astronómica;
- e, claro, a navegação electrónica, que hoje aas substitui todas, quase.
A melhor de todas elas é, para mim, naturalmente, a navegação estimada: é a que exige mais marinharia, mais comunhão com o navio e com o ambiente. Logo seguida pela navegação astronómica, hoje totalmente caída em desuso.
A navegação à vista é aquilo que se faz, por exemplo, quando se sai com um barco á vela numa belíssima manhã de Maio no estuário do Tejo.
E assim por diante...
Hum...
ResponderEliminaragora tenho mais dúvidas :-)
1. navegação costeira é a que eu referi (sem perder de vista a costa?)
2. qual é a diferença entre a navegação costeira e a navegação á vista?
3. em que é que consiste a navegação estimada (troque lá por miúdos, sff)?
4. pode ser em Abril?
:-)
Fugidia, por ordem.
ResponderEliminar4. pode ser em Abril? - Claro. Pode; diria mais: deve.
3. em que é que consiste a navegação estimada (troque lá por miúdos, sff)? A navegação estimada consiste em deduzir a nossa posição actual a partir do caminho (= a rumo, velocidade e deriva) feito a partir da última posição conhecida. A navegação estimada é mais do que a base de todas as outras: é a matriz de todas, é a expressão da simbiose do navegador com o meio que o cerca - embarcação incluída. Se a sua velocidade e rumo podem ser conhecidos com mais ou menos exactidão - num navio de propulsão mecânica; numa embarcação de vela não é tão líquido - a deriva depende do vento, da corrente, das vagas, da ondulação (são coisas diferentes), da maneira como o navio reage, da maneira como o homem do leme (ou o piloto automático) reage aos desvios, etc.
2. qual é a diferença entre a navegação costeira e a navegação á vista? A navegação costeira faz-se com recurso a pontos conspícuos (faróis, cabos, depósitos de água, cumes de montanhas, casas): "marcam-se" esses pontos - isto é, mede-se-lhes o azimute, que é o ângulo que os ditos pontos fazem com o norte, sendo o observador o vértice. Fazem-se duas ou - idealmente - três "marcações" e obtem-se um triângulo, ou mais raramente um ponto, que delimita a nossa posição. Na navegação à vista não há nada disto: estamos onde sabemos que estamos (só se pratica em portos ou locais que se conhecem muito bem).
1. navegação costeira é a que eu referi (sem perder de vista a costa?) Navegação costeira é a que se faz quando se está a menos de cinco milhas náuticas de uma costa. O critério não é a vista de terra (pode estar nevoeiro, por exemplo. - Claro que se a costa não estiver visível deve recorrer-se ao radar).
Porquê cinco milhas? Porque em navegação astronómica a margem de erro aceitável a 95% a 5' (isto é, é aceitável imaginar que temos 95% de probabilidade de estar num raio de 5 milhas da posição onde pensamos estar [creio que era este o valor da probabilidade aceitável]). Ou seja, a navegação costeira começa quando "acaba" a navegação astronómica, e não quando temos a terra à vista.
A base conceptual da navegação astronómica também tem que se lhe diga: fundamentalmente consiste em dizer "se eu estivesse aqui (este "aqui" sendo estimado) veria estes astros (ou corpos celestes, mais exactamente) nesta direcção (azimute) a esta altura (o ângulo que eles fazem com o horizonte). Mas como os vejo neste azimute (direcção) a esta altura estou "aqui", e não onde inicialmente pensava estar.
"Corpos celestes", "navegação à vista", "estima": uma fonte inesgotável de analogias e metáforas, não acha, querida Fugidia?
PS - sendo que tudo isto é, naturalmente, curiosidade histórica: o GPS diz-nos instantânea e continuamente onde estamos (com uma margem de erro de dois ou três metros, não milhas - uma milha náutica é igual a 1852 m), quer eestejamos dentro da Doca do Espanhol ou 1,000 milhas a oeste do cabo Horn.
ResponderEliminarPor muito prazer que se pudesse obter de um ponto astronómico com três rectas de altura a cruzarem-se num ponto, ou confirmar, numa aterragem, que a nossa estima estava correcta e estávamos onde pensávamos e devíamos estar, por muito alívio que fosse ver o sol ou as estrelas aparacer após dias e dias sem poder recorrer ao sextante para nos situarmos - o meu recorde é cinco dias, à saída das Canárias, e cinco dias sem se saber exactamente onde se está é desagradável - por muito bonito que um sextante seja, ou uma agulha de marcar (a "bússola" com que se medem azimutes), por muito que tudo isso, hoje existe uma coisa que é o sonho de todos os marinheiros desde que os marinheiros existem: um objecto que nos dá a nossa posição e velocidade sempre, haja nuvens ou não, esteja mau o tempo ou bom, estejamos no meio de um banco de nevoeiro daqueles de não se ver o bico da proa ou não.
(PS - O GPS não dispensa a prática da navegação estimada - uma regra básica infelizmente esquecida por alguns "marinheiros").
Acho sim, Luis.
ResponderEliminarE num dia como o de hoje, acrescente-lhe mais uma e tem um dia de sol, bom para navegar à vista, em boa companhia, com a fantástica sensação de se ser livre :-)
Desejo-lhe um bom feriado, mesmo que não vá navegar.
(o meu calha com a festa de aniversário da princesa mais velha)
:-)
P. S. ter um GPS é imprescindível para qualquer pessoa, Luís.
ResponderEliminar(mais uma metáfora)
:-)