Ou seja, de um lado temos a avó Feliciana e o avô Fachadas; do outro, a avó Vitória e o avô Gabriel. De um lado a minha mãe, a Mamã, Gabriela; do outro o meu pai - chama-se Vítor, ainda aqui o não tinha dito (Vítor, Vitória vem daqui). Os dois lados não gostam muito um do outro (gostavam: tenho de me habituar à ideia de que o avô Fachadas já morreu); ou pelo menos não gostam aos pares: a avó Feliciana não gosta do avô Gabriel, que acha um "chato mais chato do que as linhas dos eléctricos todos do mundo"; e o avô Gabriel acha a avó Feliciana uma desavergonhada e quase proibiu a família toda de lhe falar - enfim, isto só depois da morte do avô Fachadas, não sei bem porquê. De qualquer forma ninguém lhe ligou nenhuma, e a avó é sem dúvida a (como ela gosta de dizer) "estrela da companhia".
Os meus primos, filhos da Tia Rosa, são cinco; damo-nos todos muito bem, quando nos vemos pelo Natal - tirando aquele hábito deles de me tratarem sempre por "estúpido", que, confesso, por muito carinhoso seja começa a fatigar-me. Mas enfim, fora isso são uns pândegos, e não ficaram minimamente chateados por causa da herança do velho Fachadas - excepto, claro, no que respeita aos planos que já tinham feitos e "prontos para arrancar".
Foi neste meio que cresci: um meio saudável, uma família unida (enfim, mais ou menos. Não acredito muito nisso de famílias unidas como antigamente. Mas a minha era-o, à sua maneira. E ainda somos, muito mais do que tantas outras, com todas as zangas e rivalidades). Tenho uma certa inveja dos meus primos, pois sou filho único e gostava de ter irmãos; aliás, acho que cinco é o número correcto. Do lado do meu pai também há primos, mas sempre viveram longe de nós, e o pai deles (meu tio, irmão do meu pai) era aparentemente um artista, ou pelo menos alguém muito irresponsável. Nunca os conheci. A nossa família é unida, mas está cheia de pessoas sem nome e nomes sem pessoas.
Eu acho que tive imensa sorte. O meu pai é um grande especialista na condução de eléctricos, e a mamã uma dona de casa modelo - não fora uma ligeiríssima tendência para a Ginginha, que aliás partilha com a avó Gabriela (desde que ela veio viver cá para casa nota-se ligeiramente mais, mas enfim, nada do outro mundo). Aliás a mamã tem uma grande qualidade: sabe beber. Quando se apercebe de que bebeu um copinho a mais vai para a cama (os meus primos dizem-me muitas vezes que nem sempre é para a dela, mas isso são brincadeiras de primos, está bem de ver).
Eu trabalho num talho - daí o meu interesse pela genética. Há pouco disse que tinha sorte, mas não em todos os aspectos. Fisicamente deixo um pouco a desejar. Sou baixinho e, por uma razão que sinceramente não percebo, tenho excesso de peso. Não como nem bebo demais, e na minha família só o avô Fachadas era gordo. Se calhar herdei dele a única coisa que não queria herdar: o peso. A avó Feliciana ri-se muito, e quando me vê chegar do talho (sou o responsável pela limpeza da sala onde cortamos as peças: limpo o chão, esvazio os caixotes de lixo, etc.) faz-me sempre um sorriso e uma festa terna.
A maior parte das minhas namoradas não o são - ou melhor, nunca chegam a sê-lo. Só consigo atrair mulheres casadas e fiéis. Bem, quase fiéis. Eu explico; por exemplo: uma mulher está descontente com o seu casamento, mas tem fortes resistências morais (ou financeiras; já me aconteceu conhecer uma senhora que só estava com o marido por causa do dinheiro). Está na dúvida. Não quer enganar o marido; por outro lado, o casamento já não a satisfaz. Pois bem, qual a melhor solução? Está bem de ver: sair com um homem que não seja, de forma alguma, um risco para o marido e para o casamento. Digo isto friamente: é o resultado de uma análise aprofundada da minha vida afectiva dos últimos 5 anos. Comigo, ela pode dizer-se (ou ao marido, também já ocorreu): "Eu, enganar-te com um homem daqueles? Estás doido?" E assim lá faz as primeiras experiências extra-conjugais sem, no seu espírito, pôr em risco o matrimónio. (Devo dizer que isto me foi explicado por uma delas, mas parece-me que faz sentido, e concorda com os resultados da análise que eu próprio fiz e há pouco mencionei). De maneira tenho uma vida afectiva variada. Demais, mesmo: não devemos esquecer-nos que entre "variada" e "avariada" há uma letra de diferença, apenas.
(No outro dia foi a luz; hoje, é o barulho: o meu vizinho é um padre que treina os seus sermões na sala; nós ouvimos tudo - aliás, até comentamos algumas passagens, por vezes. Mas a verdade é que me é impossível continuar. O senhor Padre ainda vai demorar, eu conheço-o. Desculpem-me. Juro que não é uma técnica, ou um artifício.
PS - não devia dizer isto, mas não resisto: às vezes também o ouvimos com uma paroquiana. E a avó Feliciana garante que já o ouviu com um paroquiano, mas ninguém acredita.)
Os meus primos, filhos da Tia Rosa, são cinco; damo-nos todos muito bem, quando nos vemos pelo Natal - tirando aquele hábito deles de me tratarem sempre por "estúpido", que, confesso, por muito carinhoso seja começa a fatigar-me. Mas enfim, fora isso são uns pândegos, e não ficaram minimamente chateados por causa da herança do velho Fachadas - excepto, claro, no que respeita aos planos que já tinham feitos e "prontos para arrancar".
Foi neste meio que cresci: um meio saudável, uma família unida (enfim, mais ou menos. Não acredito muito nisso de famílias unidas como antigamente. Mas a minha era-o, à sua maneira. E ainda somos, muito mais do que tantas outras, com todas as zangas e rivalidades). Tenho uma certa inveja dos meus primos, pois sou filho único e gostava de ter irmãos; aliás, acho que cinco é o número correcto. Do lado do meu pai também há primos, mas sempre viveram longe de nós, e o pai deles (meu tio, irmão do meu pai) era aparentemente um artista, ou pelo menos alguém muito irresponsável. Nunca os conheci. A nossa família é unida, mas está cheia de pessoas sem nome e nomes sem pessoas.
Eu acho que tive imensa sorte. O meu pai é um grande especialista na condução de eléctricos, e a mamã uma dona de casa modelo - não fora uma ligeiríssima tendência para a Ginginha, que aliás partilha com a avó Gabriela (desde que ela veio viver cá para casa nota-se ligeiramente mais, mas enfim, nada do outro mundo). Aliás a mamã tem uma grande qualidade: sabe beber. Quando se apercebe de que bebeu um copinho a mais vai para a cama (os meus primos dizem-me muitas vezes que nem sempre é para a dela, mas isso são brincadeiras de primos, está bem de ver).
Eu trabalho num talho - daí o meu interesse pela genética. Há pouco disse que tinha sorte, mas não em todos os aspectos. Fisicamente deixo um pouco a desejar. Sou baixinho e, por uma razão que sinceramente não percebo, tenho excesso de peso. Não como nem bebo demais, e na minha família só o avô Fachadas era gordo. Se calhar herdei dele a única coisa que não queria herdar: o peso. A avó Feliciana ri-se muito, e quando me vê chegar do talho (sou o responsável pela limpeza da sala onde cortamos as peças: limpo o chão, esvazio os caixotes de lixo, etc.) faz-me sempre um sorriso e uma festa terna.
A maior parte das minhas namoradas não o são - ou melhor, nunca chegam a sê-lo. Só consigo atrair mulheres casadas e fiéis. Bem, quase fiéis. Eu explico; por exemplo: uma mulher está descontente com o seu casamento, mas tem fortes resistências morais (ou financeiras; já me aconteceu conhecer uma senhora que só estava com o marido por causa do dinheiro). Está na dúvida. Não quer enganar o marido; por outro lado, o casamento já não a satisfaz. Pois bem, qual a melhor solução? Está bem de ver: sair com um homem que não seja, de forma alguma, um risco para o marido e para o casamento. Digo isto friamente: é o resultado de uma análise aprofundada da minha vida afectiva dos últimos 5 anos. Comigo, ela pode dizer-se (ou ao marido, também já ocorreu): "Eu, enganar-te com um homem daqueles? Estás doido?" E assim lá faz as primeiras experiências extra-conjugais sem, no seu espírito, pôr em risco o matrimónio. (Devo dizer que isto me foi explicado por uma delas, mas parece-me que faz sentido, e concorda com os resultados da análise que eu próprio fiz e há pouco mencionei). De maneira tenho uma vida afectiva variada. Demais, mesmo: não devemos esquecer-nos que entre "variada" e "avariada" há uma letra de diferença, apenas.
(No outro dia foi a luz; hoje, é o barulho: o meu vizinho é um padre que treina os seus sermões na sala; nós ouvimos tudo - aliás, até comentamos algumas passagens, por vezes. Mas a verdade é que me é impossível continuar. O senhor Padre ainda vai demorar, eu conheço-o. Desculpem-me. Juro que não é uma técnica, ou um artifício.
PS - não devia dizer isto, mas não resisto: às vezes também o ouvimos com uma paroquiana. E a avó Feliciana garante que já o ouviu com um paroquiano, mas ninguém acredita.)
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.