Uma pessoa chega à estação do Areeiro porque quer ir para a Póvoa de Sta. Iria (Póvoa, daqui em diante). Vai à bilheteira e pede "um bilhete para a Póvoa, se faz favor". A jovem senhora do outro lado responde-lhe que "esta bilheteira é da Fertagus e os comboios para a Póvoa são da CP. Tem que ir à bilheteira ali do lado". A pessoa recua e confirma que efectivamente aquela bilheteira é da Fertagus e a do lado é da CP. Ligeiramente perplexa a pessoa vai à bilheteira do lado. "Porque raio", pergunta-se, "não vendem as bilheteiras bilhetes uma da outra"?
Na bilheteira do lado o senhor informa-a, delicadamente, que aquela bilheteira não vende bilhetes para a Póvoa. "Tem que ir à máquina ali ao lado". A pessoa está agora pouco mais do que perplexa - tinha dado uma larga margem para apanhar o comboio e chegar a horas à reunião, mas a continuar assim a margem não daria para muito.
A máquina do lado é uma máquina "das novas", que só aceita os novos bilhetes da CP, verdes, magnéticos e - lembra-se de um texto que leu recentemente no Público - "de cantos arredondados". "Que sorte", pensa a pessoa, "tenho um desses cartões".
Mas o cartão da pessoa já tem uma viagem de outra linha onde ela costuma viajar e não há maneira de carregar o trajecto Areeiro - Póvoa. A pessoa vai à bilheteira, onde o senhor lhe tenta vender um novo cartão [o qual custa mais 50 cêntimos do que o preço normal do bilhete]. A pessoa lembra-se da interminável quantidade de cartões verdes, novos, magnéticos que tem em casa e recusa. Pergunta "há máquinas das antigas?"
"Se estiverem a funcionar são ali". O funcionário é cortês, calmo, bem-educado. A pessoa dirige-se à máquina e compra o bilhete, antigo, "de papel", na terminologia habitual dos funcionários da companhia. Já tinha perguntado, na bilheteira, "a que horas e em que linha é o comboio para a Póvoa, se faz favor?" "Na linha 1 tem um comboio às nove e nove (as horas são aproximadas, mas os intervalos correctos) e na 3 outro às nove e dezassete".
São nove e cinco. A pessoa corre para a linha 1. Não há a mais pequena menção ao comboio das nove e nove nos monitores (de resto poucos e mal colocados, mas isso por agora é irrelevante). Às nove e nove a pessoa pergunta a um funcionário da segurança (o único que se vê) sobre os comboios para a Póvoa. "A maior parte deles são na linha 3. Na linha 1 também há, mas menos".
A pessoa vai para a linha 3. São nove e doze, ou treze. Não há a mais pequena menção do comboio das nove e dezassete em qualquer dos monitores, etc. A pessoa telefona para o número de telefone que está num dos monitores ("Informações"). As horas que lhe dão são as mesmas das do funcionário da bilheteira "mas não sabemos em que linha vai entrar o comboio. Isso só na estação". Continua a não haver um único funcionário da CP à vista.
Às nove e 17 a pessoa ouve um anúncio nos altifalantes: vai entrar na linha 1 um comboio para a Póvoa. A pessoa (com, chegou a altura de o dizer, uma bicicleta pela mão) corre - isto é, desce e sobe escadas rolantes - para a linha 1. Apanha o comboio in extremis e chega a horas à reunião. Pensa "ainda bem que dei uma larga margem".
No dia seguinte a mesma pessoa tem que apanhar um comboio da CP na linha que habitualmente frequenta. O trajecto que tem no cartão verde, magnético e novo (o qual, de raspão seja dito, não lhe permite passar no Metro sem tirar da carteira o respectivo cartão, em tudo menos nos cantos igual ao da CP) não lhe permite carregar o trajecto que vai fazer: o trajecto que tem no cartão é diferente, e para carregar trajectos diferentes dos que estão no cartão é necessário "ou um cartão novo (isto é, mais 50 cêntimos), ou que esse esteja a zeros". A pessoa vai para as máquinas dos bilhetes "em papel".
É esta companhia que quer fazer um TGV.
Na bilheteira do lado o senhor informa-a, delicadamente, que aquela bilheteira não vende bilhetes para a Póvoa. "Tem que ir à máquina ali ao lado". A pessoa está agora pouco mais do que perplexa - tinha dado uma larga margem para apanhar o comboio e chegar a horas à reunião, mas a continuar assim a margem não daria para muito.
A máquina do lado é uma máquina "das novas", que só aceita os novos bilhetes da CP, verdes, magnéticos e - lembra-se de um texto que leu recentemente no Público - "de cantos arredondados". "Que sorte", pensa a pessoa, "tenho um desses cartões".
Mas o cartão da pessoa já tem uma viagem de outra linha onde ela costuma viajar e não há maneira de carregar o trajecto Areeiro - Póvoa. A pessoa vai à bilheteira, onde o senhor lhe tenta vender um novo cartão [o qual custa mais 50 cêntimos do que o preço normal do bilhete]. A pessoa lembra-se da interminável quantidade de cartões verdes, novos, magnéticos que tem em casa e recusa. Pergunta "há máquinas das antigas?"
"Se estiverem a funcionar são ali". O funcionário é cortês, calmo, bem-educado. A pessoa dirige-se à máquina e compra o bilhete, antigo, "de papel", na terminologia habitual dos funcionários da companhia. Já tinha perguntado, na bilheteira, "a que horas e em que linha é o comboio para a Póvoa, se faz favor?" "Na linha 1 tem um comboio às nove e nove (as horas são aproximadas, mas os intervalos correctos) e na 3 outro às nove e dezassete".
São nove e cinco. A pessoa corre para a linha 1. Não há a mais pequena menção ao comboio das nove e nove nos monitores (de resto poucos e mal colocados, mas isso por agora é irrelevante). Às nove e nove a pessoa pergunta a um funcionário da segurança (o único que se vê) sobre os comboios para a Póvoa. "A maior parte deles são na linha 3. Na linha 1 também há, mas menos".
A pessoa vai para a linha 3. São nove e doze, ou treze. Não há a mais pequena menção do comboio das nove e dezassete em qualquer dos monitores, etc. A pessoa telefona para o número de telefone que está num dos monitores ("Informações"). As horas que lhe dão são as mesmas das do funcionário da bilheteira "mas não sabemos em que linha vai entrar o comboio. Isso só na estação". Continua a não haver um único funcionário da CP à vista.
Às nove e 17 a pessoa ouve um anúncio nos altifalantes: vai entrar na linha 1 um comboio para a Póvoa. A pessoa (com, chegou a altura de o dizer, uma bicicleta pela mão) corre - isto é, desce e sobe escadas rolantes - para a linha 1. Apanha o comboio in extremis e chega a horas à reunião. Pensa "ainda bem que dei uma larga margem".
No dia seguinte a mesma pessoa tem que apanhar um comboio da CP na linha que habitualmente frequenta. O trajecto que tem no cartão verde, magnético e novo (o qual, de raspão seja dito, não lhe permite passar no Metro sem tirar da carteira o respectivo cartão, em tudo menos nos cantos igual ao da CP) não lhe permite carregar o trajecto que vai fazer: o trajecto que tem no cartão é diferente, e para carregar trajectos diferentes dos que estão no cartão é necessário "ou um cartão novo (isto é, mais 50 cêntimos), ou que esse esteja a zeros". A pessoa vai para as máquinas dos bilhetes "em papel".
É esta companhia que quer fazer um TGV.
Caro Luis Serpa
ResponderEliminarNão o conheço pessoalmente mas julgo que será uma pessoa jovem e que, dada a sua juventude, ainda não percebeu bem este nosso Portugalito. Esses inconvenientes que aponta não são mais do que o preço que pagamos pelo sol, pelo cozido à portuguesa, sardinhas e outras 'iguarias' gastronómicas, etc. Acredite que não há nada a fazer. Um horário, aqui, é apenas uma vaga ideia, uma hipótese com 50% de probabilidade, uma ilusão bem intencionada. Se quer combóios à hora, horários fiáveis, organização e competÊncia, emigre. Mas então diga adeus às sardinhas assadas comidas à beira mar numa noite de verão. Quanto ao TGV não se preocupe. SE - quando - ele for construido será mais pelo que 'cai por fora' do que para ser útil.
Desculpe se o desanimei.
Jorge Monica
O problema, feito de pequenos problemas é grave... não vale a pena falar em grandes tecnologias quando é provável que a opção "papel" seja a mais útil... O progresso tem destas coisas.
ResponderEliminarPara apanhar um inter-cidades ou alfa-pendular é possível comprar um bilhete no multibanco e o talão comprovativo serve de próprio bilhete. Um exemplo do que a tecnologia portuguesa (sistema multibanco da Sibs) integrada com a tradição (o "papel") pode ser uma óptima solução.
De resto comentários como o anterior na linha de pensamento do "É o país que temos..." não ajudam a que as coisas mudem. Emigrar é uma opção válida, porque apesar de não haver sardinhas, haverá uma paelha, uma pizza ou até fish & chips. No entanto, estas coisas alteram-se, os atrasos evitam-se e se somos jovens ou não, não interessa.
Também depende de nós...
Conseguiu complicar uma coisa que é bastante simples! Parabéns.
ResponderEliminarOu vai ao talho comprar meio quilo de maçãs? "São alimentos, é bem provável que sejam vendidos no mesmo sítio!"
Aliás, fala da estação de Entrecampos e não da do Areeiro. Na do Areeiro, a linha 3 é exclusiva dos Fertagus que têm tratamento VIP por parte da REFER podendo ocupar essa via a todo o seu prazer, enquanto a CP tem de meter os seus comboios às voltas e a cruzarem-se uns com os outros para não atrapalhar os Fertagus.
E a pontualidade dos serviços da CP Lisboa situa-se acima dos 90%. Os outros 10% dizem respeito a situações como esta do Areeiro ou como no Oriente onde existe um congestionado nó onde os comboios se cruzam a nível mais do que 10 vezes por hora.
Caro Anónimo das 12h37.
ResponderEliminara) Tem toda a razão. isto passou-se na estação de Entrecampos e não na do Areeiro. O que muda tudo, claro,
b) Inacapacidade minha: não percebi a sua analogia do talho e das maçãs;
c) Pontualidade: o problema (ou melhor os) problemas que descrevo não têm a ver só com a pontualidade;
d) "...existe um congestionado nó onde os comboios se cruzam a nível mais do que 10 vezes por hora." - não confunda explicação com justificação. São duas coisas diferentes.