A pulsão para magoar era mais forte do que a inteligência, ou a fibra moral (ambas consideráveis). Depois apercebia-se da gratuidade da maldade que havia dito, mas como não tinha estrutura mental para o arrependimento - e muito menos, por maioria de razão, para o manifestar - não dizia nada. Aos poucos foi limitando o seu círculo às pessoas a quem não podia magoar - ricos, poderosos, políticos que não admirava (mas tão-pouco invejava: era demasiado arrogante para ser invejoso). As raras excepções serviam-lhe de fusível, ou de caução íntima. No fundo era infeliz, mas - provavelmente porque era uma grande injustiça - ou não o percebia ou se recusava a aceitá-lo.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.