23.1.10

Cartas, lixo

Alguém com talento devia escrever a história do pobre escrevedor de cartas, coitado, que tanto queria escrevê-las e não tinha a quem. Por isso começou uma série a que chamou "Cartas para o Caixote" e começavam "Meu Querido caixote do lixo".

Coitado. Quando tinha para cima de uma centena delas foi ao correio pôr-lhes selos (era parte inalienável do gozo) e deitou-as fora, nos contentores de lixo que ficam à frente da pastelaria e ao lado dos correios.

Logo a seguir veio a senhora do rés-do-chão, mãe de oito crianças, dois cães e um gato despejar (literalmente: era adepta da reciclagem e reaproveitava os sacos de lixo "pelo menos três vezes") os sacos da semana; pelo que as cartas ficaram perdidas para sempre.

O nosso escrevedor de cartas ficou triste: tinha a secreta esperança de que a senhora da pastelaria o visse e fosse resgatar as cartas - aliás, um bocadinho nessa expectativa até as tinha escrito sem palavrões nem asneiras de maior (e com bastos elogios aos queques integrais e aos pastéis de nata do senhor Ameeiro, o dono). Nada disso (ainda bem: que diria a senhora da pastelaria, se visse cartas começadas por "Meu Querido caixote do lixo"?)

Resignado, começou uma nova série, a que chamou "Cartas par o Ar" - se tudo, desta vez, corresse bem lê-las-ia na rádio.

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