18.1.10

Olha

Olha que isto de eu escrever coisas depois de falar contigo não significa nada, claro. Mesmo nada - excepto talvez que me aborreço no restaurante indiano das Portas de Sto. Antão; tão injustamente, porque eles são tão simpáticos e a comida tão razoável e o tempo tão ameno depois destes gélidos dias e os ingleses da mesa à frente tão engraçados e o vendedor de bugigangas cada vez mais cómico e tudo e assim; e apesar disso aborreço-me, vê lá tu; e vai daí começo a escrever coisas. Ou as coisas a escreverem-se a si próprias, maldita tendência delas: não sabem ficar caladas as coisas, muito menos quanto mais o devem ficar, porque isto de falar só as estraga. E escrever ainda mais.

É como escrever-te agora: és tu que te escreves, não sou eu. Eu nem sei quem tu és, vê lá. Ou se existes, sequer. Não sei nada se não o que vejo: uma mesa de ingleses a embebedarem-se alegre e metodicamente, como deve ser; uma rua sem ti, no prolongamento de um dia sem ti; umas palavras no prolongamento disto tudo, que sem ti pouco mais é do que nada.

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