Magia
Do lado de cá há luz e muros, paredes, um passeio que se acaba; do de lá, não sabemos. Só há coisas que não existem, se calhar; ou existem e não as vemos - mesas, cadeiras, uma cama, um fogão. Fruta no aparador da sala; ou talvez uma garrafa de ginginha e dois cálices, usados à socapa pela empregada. Mais vale ficarmo-nos pelo lado de cá: pela luz, pelos ramos nus, pelos muros onde tantas vezes alguém foi decerto namorar; pelo passeio, que no Outono se cobre de folhas.
Não vamos para o que não se vê, pelo que não vemos. Não saltamos o muro, não entramos no quarto (estará alguém a ver televisão sentado na borda da cama?). Ficamos presos no lado aberto da fotografia, e deixamo-nos errar livremente pelo que está fechado.
Mas despachemo-nos: amanhã o sol vai-se embora, ou alguém virá trazer um cão a passear; um casal de namorados reconciliar-se-á, e voltará a sentar-se no muro, iluminado pela fraca luz do candeeiro. Despachemo-nos: amanhã as linhas não serão tão perfeitas, a luz tão seca; as cortinas estarão abertas, quem sabe?, e a vida deixará de ser magia e tornar-se-á visível, palpável.
Luís, não sei por que gostei tanto desse canto. Tem qualquer coisa de «romano» no «esponjado» do muro cor-de-rosa «vs» a face nua do muro do lado, de tijolos à mostra. São dois mundos, e nenhum desprovido do mistério que o faz interrogar-se. Tenho por aqui passado muitas vezes, recentemente, e andava com ele debaixo de olho.
ResponderEliminarObrigada pelo link. :-)