11.2.10

A tinta e a vida

Um gajo quer escrever e falta-lhe a tinta na caneta. É uma porra: sem ideias é possível escrever; basta dizer meia dúzia de patacoadas; agora sem tinta. Patacoadas nunca faltam; tinta sim. O sono saiu de mim e foi dar uma volta não sei onde (ao Snob, provavelmente, dada a hora). Podia escrever sobre ele, ou os seus passeios, que o levam sempre para onde não estou.

Nunca estou onde ele está; nem onde estás, tu que és a melhor fonte de sono e o destino dele todo. Ou eras, agora que ele se foi embora e me deixou entregue à transparência da noite sem sono, sem ti, sem amanhã.

Não vale a pena disfarçares: sabes perfeitamente que sem ti a vida não passa de um longo arrastar do tempo. Sabes. Tu és o soluço no tempo que faz do tempo uma vida. A tinta na caneta da vida.

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