Catherine veste uma T-shirt que diz, nas costas: "Dogs are pets. Labradors are family". Ontem mostrou-me o quarto: 8 - 10 metros de chão quadrados cobertos de taças, e uma parede de rosáceas (não sei se é assim que se diz). "Aquela" - aponta para uma taça grande, que sobressai de entre as outras todas - "é do campeonato da Europa. Fomos nós que ganhámos". Depois acrescenta "bem, é preciso dizer que tenho 5 cães [na realidade tem oito; refere-se apenas aos que concorrem], portanto tenho mais chances de ganhar". Um suíço é incapaz de dizer "ganhei porque sou o melhor"; tem que encontrar razões que atenuem a sua vitória - para a qual se esforçou com uma tenacidade incomparável. Fiquei a saber que os portugueses são temíveis em Labrador. Já os ingleses não: "ou são bons, ou são bonitos; e para ganhar é preciso ser bom e bonito". Em francês a aliteração soa melhor: "pour gagner il faut être beau et bon".
Não sou grande fanático de cães, ou gatos; a maior parte das pessoas que o é implica-me gentilmente com os nervos, tão frágeis, coitados. Catherine não: não há a mais pequena afectação no que diz ou faz. Quando se ausenta o marido não sabe lidar com os cães, e ela explica-lhe por telefone o que deve fazer (devem estar casados há mais de 40 anos).
A casa tem trezentos anos e pertence à família desde 1830. Está no equivalente genebrino de uma mistura de Lapa, Cascais e Restelo. Tem uma vista sublime para o lago e para o Jura, mesmo em frente, ainda coberto de neve. Por dentro é uma confusão indescritível: para além dos cães Catherine tem (ou trata de) cavalos; os móveis (nenhum deles deve ser mais recente do que a casa) estão todos roídos, cobertos de pelos; os livros acumulam-se por tudo quanto é sítio, à mistura com selas (vi uma mexicana, lindíssima), cobertores, tapetes para os cães dormirem, fax, facturas, papéis, utensílios de cozinha, blocos-nota, garrafas de vinho. Seria incapaz de passar mais de meia-hora naquela confusão. Felizmente só tinha de a atravessar para ir buscar as coisas que devem ir para o andar de cima, onde foi a festa.
A festa foi ontem. Vi gente que não via há anos. Vim-me embora à francesa (em francês diz-se "à l'anglaise") ao fim de meia-hora. Fui para Carouge beber copos. Terça-feira vou-me embora.
Não sou grande fanático de cães, ou gatos; a maior parte das pessoas que o é implica-me gentilmente com os nervos, tão frágeis, coitados. Catherine não: não há a mais pequena afectação no que diz ou faz. Quando se ausenta o marido não sabe lidar com os cães, e ela explica-lhe por telefone o que deve fazer (devem estar casados há mais de 40 anos).
A casa tem trezentos anos e pertence à família desde 1830. Está no equivalente genebrino de uma mistura de Lapa, Cascais e Restelo. Tem uma vista sublime para o lago e para o Jura, mesmo em frente, ainda coberto de neve. Por dentro é uma confusão indescritível: para além dos cães Catherine tem (ou trata de) cavalos; os móveis (nenhum deles deve ser mais recente do que a casa) estão todos roídos, cobertos de pelos; os livros acumulam-se por tudo quanto é sítio, à mistura com selas (vi uma mexicana, lindíssima), cobertores, tapetes para os cães dormirem, fax, facturas, papéis, utensílios de cozinha, blocos-nota, garrafas de vinho. Seria incapaz de passar mais de meia-hora naquela confusão. Felizmente só tinha de a atravessar para ir buscar as coisas que devem ir para o andar de cima, onde foi a festa.
A festa foi ontem. Vi gente que não via há anos. Vim-me embora à francesa (em francês diz-se "à l'anglaise") ao fim de meia-hora. Fui para Carouge beber copos. Terça-feira vou-me embora.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.