3.7.10

Tremens, delirium

Não era isso que te queria dizer. Era que. Ou. Pouco importa. Desaguei num bar de rock, do qual gosto porque tem boa música e não tem clientela; não posso dizer-te mais nada, pois não?, excepto que. Hoje no metro vi uma miúda a subir as escadas, como eu - no Rato, quero dizer. Subiu-as todas, mas eu apanhei-a. Depois ela ultrapassou-me na rua da Politécnica, mas isso já não conta. Tinha menos 30 anos do que eu. Pouca gente o faz, muito menos uma miúda. Preocupada - não sei se com o peso, se com os exames. No outro cais (mas isto foi antes) estava um senhor muito circunspecto, rosto fechado, corpo hirto, congelado. Tinha uma gravata encarnada, que fazia no meio de tanto gelo pensar no farol de Sta. Marta numa noite de falha de electricidade.

Se isto continua assim vou acabar por gostar do bar. Não entra vivalma, e a música é boa. Não sei como se chama. Há uma cliente, noutra mesa; talvez seja gira. Deixei de as classificar em "giras" e "não giras" (não há mulheres feias). Agora é "dão-me vontade de" ou "não me dão vontade de". A esmagadora maioria não dá (o esmagado sou eu, claro). Não sei se por causa delas se das idades, a minha e as outras. Apareceu há muito tempo, este eixo de clivagem; mas quando começou a maioria estava do bom lado, não estava no grupo do "não". Agora está. Não sou eu que faço os grupos, fazem-se a si próprios.

Não gosto de ilusões: prefiro uma realidade má a uma mentira boa (fácil: a realidade é sempre má). Um "não" dito a tempo e horas ao não-dito (bullshit: é melhor um "sim" alto e claro). Numa esquina, se for possível. É uma seca, isto dos "não" e dos "sim". Nunca saberemos para onde vão, de onde vêm. Não se entra em amor como nas ordens.

Por vezes olho para a porta e vejo pessoas. É raro. Mas para onde quer que olhe só te vejo a ti. Isto deve querer dizer alguma coisa. Mesmo que eu não saiba dizê-lo.

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