23.9.10

Graça

Uma vez namorámos aqui, no alto do jardim. Tínhamos Lisboa e o desejo aos pés. No lago há uma praia de pedra, onde vêm morrer vagas que não existem. Depois levantámo-nos e beijámo-nos debaixo da bandeira. "Já viste?, tem a área de um apartamento", disse-te. "Nem penses nisso", respondeste. Nunca mais falámos nisso. Desde aí limitámo-nos às árvores, das quais tu me ensinavas os nomes; e às flores, que me davas a cheirar nos jardins.

Um dia falaste-me de uma árvore cujos ramos abanam como se estivessem a dizer adeus, e foste-te embora. Nunca mais te vi, até hoje. Passaste por mim apressada, como se estivesses a dizer-me "adeus". Mas não foi isso que disseste. Foi: "Que fazes nos meus domínios?". Estávamos perto da bandeira, e de tua casa.

Até te conhecer não sabia nada da graça das plantas; não sabia nada da graça, tout court.

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